O CONCEITO DE ECOSSISTEMA COMO UM DOS PILARES PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: AS IDÉIAS DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL



João Mendonça Filho(1)

Maria Guiomar C. Tomazello(2)


Resumo

    O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado mais ampla e em andamento, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP. Tem por objetivo investigar as concepções que têm os estudantes do ensino fundamental na caracterização de ecossistemas, procurando estabelecer as implicações que essas concepções possam vir a ter em relação à Educação Ambiental. O conceito de ecossistema é relevante e conflitante dentro da ecologia, sendo de fundamental importância para a compreensão das relações dos seres vivos com seu entorno e considerado um dos pilares para a promoção da educação ambiental. A pesquisa, de caráter exploratório, apoiou-se nos pressupostos teórico-metodológicos da análise de conteúdo a fim de identificar as distintas categorias para então classificá-las. As categorias de análise foram construídas a partir de uma exploração prévia e reformuladas à luz das referências bibliográficas. Para coleta de dados foram utilizados painéis contendo fotos representativas de diferentes ecossistemas como vegetais em decomposição, bromélias, cerrado, Mata Atlântica, regiões lacrustes, além de ecossistemas urbanos, acompanhadas das seguintes questões: a) Entre as fotos escolha duas que melhor caracterizam o que você entende como ecossistema e duas que menos caracterizam um ecossistema b) Descreva o ecossistema escolhido por você em primeiro lugar a um (a) amigo (a) o. Participaram 89 alunos concluintes do ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de São Carlos–SP. As respostas foram categorizadas quanto ao tipo de ecossistema: local e planetário; quanto à composição: fatores abióticos e bióticos e quanto à estrutura e funcionamento: fluxo de elementos e de energia. Na concepção dos alunos um ecossistema é melhor caracterizado pela mata atlântica (85%) seguido pela vegetação do cerrado (52%) e pela mata ciliar (42%). O ambiente urbano (64%) seguido da bromélia (37%) e do mar (30%) foram os considerados como ambientes que não podem ser caracterizados como ecossistemas. Só consideram ambientes em que haja diversidade de espécies, portanto, desconsiderando ecossistemas como a bromélia. A ausência de vegetação superior desqualifica o mar como um ecossistema apesar de haver vida "no fundo". Quanto à composição, os componentes bióticos (88%) prevalecem sobre os abióticos (42%), sendo que a flora aparece em primeiro lugar (100%) seguido da fauna (90%). Poucos identificam fungos e bactérias como seres vivos. Quanto à estrutura e funcionamento, os alunos fazem menção à cadeia alimentar, não citando o fluxo de energia e o ciclo dos elementos na natureza. Entretanto, alguns se referem a reservas de nutrientes como uma característica importante de um ecossistema. De maneira geral, os alunos compreendem como ecossistema o ambiente natural, planetário, com grande biodiversidade, em que a harmonia é dependente da não interferência humana Essa concepção dificulta, no nosso entender, uma maior articulação entre o homem e a natureza, uma vez que o ecossistema urbano não é considerado como uma das unidades do meio ambiente. O meio ambiente entendido, sobretudo como ambiente natural, preservado das ações humanas, contribui para o não envolvimento das pessoas com a situação ambiental local. Concordamos com Mayer, (1998) quando diz que essa visão de ambiente como algo distante, inatingível, colabora para se criar uma nova esquizofrenia: protegemos o ambiente "natural" e degradamos cada vez mais o ambiente em que vivemos. De acordo com Dansereau (1999), é preciso trabalhar o conceito de ecossistema como uma espécie de boneca russa de dimensões médias, onde cada unidade insere-se como elemento de um conjunto mais amplo ou se apresenta como um conjunto que engloba unidades menores. Assim, os alunos teriam mais condições de compreenderem a relação de dependência de cada unidade em relação àquela que engloba e perceberem a nossa posição na biosfera, a de seres ecodependentes.

(1) Mestrando no PPGE/UNIMEP e bolsista da CAPES. Professor de Biologia da rede pública de ensino.
(2) Professora do PPGE/UNIMEP. Coordenadora do Núcleo de Educação em Ciências da FCMN/UNIMEP