Elio Carlos Ricardo*
Programa de Pós-Graduação em Educação
– Ensino de Ciências/UFSC
elio_ricardo@hotmail.com
Resumo
A partir da LDB de 1996, que propõe uma reforma
no sistema de ensino, foram elaborados os Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCNs, os quais sugerem trabalhar com competências e habilidades.
Entretanto, nesse documento não fica claro o que se entende por
competências. Além da dificuldade de compreender esse novo
conceito, o professor se depara com um outro problema: a escolha adequada
de conteúdos que possibilitem uma articulação entre
os saberes e uma formação por competências. Isso coloca
o docente diante da seguinte questão: o que e como ensinar? Assim,
busca-se o entendimento da formação por competências
nas idéias de Philippe Perrenoud, o qual recoloca o problema acima
na forma: cabeças bem cheias ou cabeças bem feitas? Para
o autor, as competências utilizam, integram ou mobilizam vários
recursos cognitivos, dentre os quais os conhecimentos, para atingir um
objetivo ou resolver determinada situação-problema. Agir
eficazmente diante de tais situações não é
simplesmente aplicar conhecimentos, mas mobilizá-los com discernimento,
ou seja, envolve a tomada de decisão e avaliação para
operacionalizá-los em tempo real e fazer escolhas, onde entram valores
e atitudes e se relacionam a práticas sociais, pois há uma
transposição de contextos. As situações estarão
relacionadas a decisões pessoais entre acomodações
e inovações, ruptura e permanência, buscando a articulação
entre teoria e prática. Se as acomodações não
forem suficientes, então há o reconhecimento das limitações
e deve ocorrer uma reflexão e procura de novas hipóteses
e ações. As habilidades instrumentais decorrem de competências
adquiridas e estão no campo do saber fazer, envolvendo procedimentos
e estratégias para mobilizar recursos em sinergia, a fim de enfrentar
determinada situação da melhor maneira possível. Dessa
forma, uma nova Transposição Didática deve ser feita,
pois o ensino através de objetivos fragmentados não coloca
o aluno diante de situações em que seja exigida a elaboração
de um pequeno projeto de mobilização dos instrumentos cognitivos
para seu enfrentamento. A noção de objetivo-obstáculo
proposta por Jean-Louis Martinand, citada por Jean Pierre Astolfi, trata
de rever o lugar das concepções dos alunos nas escolhas didáticas.
As representações podem caracterizar um distanciamento do
saber científico e se contrapor ao projeto didático de sua
aprendizagem. Por outro lado, essas representações consistem
em interpretações de fenômenos científicos que
"funcionam" para o aluno e, por isso, persistem durante a escolaridade.
Desse modo, as representações estão no centro dos
objetivos do professor, que é transformá-las. Esses objetivos
podem ser expressos na forma de obstáculos a serem franqueados,
já que possuem uma organização estrutural profunda.
O primeiro passo é localizar e expressar esses obstáculos,
que muitas vezes são implícitos e se manifestam de maneira
diversa em uma sala de aula. A tomada de consciência do obstáculo
é uma fase intermediária do processo. O segundo passo, é
a desestabilização conceitual, em que ocorre o conflito cognitivo
e a confrontação de representações. Essas etapas
têm caráter social, ou seja, estão no campo interpsíquico.
O terceiro passo, é a passagem para o intrapsíquico, no qual
há a superação do obstáculo por meio de modelos
alternativos, que podem se tornar ferramentas conceituais aplicáveis
em situações novas a partir da automatização
de seu uso. A idéia de objetivo-obstáculo pode indicar uma
seqüência didática de saberes a ensinar em oposição
a numerosos objetivos gerais e específicos fragmentados, focalizados
no conhecimento como fim.
*bolsista CAPES