Recomendações curriculares recentes encorajam que uma diversidade de textos (enciclopédias, folhetos de campanhas de saúde, artigos de divulgação científica, etc.) sejam utilizados na sala de aula de ciências enfatizando os benefícios advindos de sua leitura para aquisição de vocabulário e entendimento conceitual (PCN, 2000). Neste trabalho investigamos um aspecto da utilização destes textos, através de um estudo que envolveu entrevistas individuais com professores de ciências do terceiro e quarto ciclos do Ensino fundamental da rede oficial (pública - federal, estadual e municipal, e particular) do Rio de Janeiro. Nestas entrevistas discutimos como professores experientes selecionam, adaptam e utilizam textos de divulgação científica na sala de aula. Segundo o relato dos professores entrevistados, o texto de divulgação científica desempenha um importante papel educativo diante de uma concepção de ensino apoiada no desenvolvimento de condições para o exercício da cidadania, através de ações educativas que estejam voltadas à realidade social na qual o aluno está inserido. Em sala de aula, o trabalho com esses textos possibilita: (1) a reflexão, a interação e a interpretação dos fatos, facilitando o processo de re-elaboração das informações pelos alunos; (II) a ampliação da visão de mundo do aluno, na medida em que permite a discussão e a troca de opiniões a respeito dos fatos apresentados; (III) a vinculação dos conteúdos curriculares à realidade, fazendo com que o aluno perceba o sentido e a aplicabilidade do que aprende na escola; (IV) a ampliação do universo lexical e da competência lingüística do aluno e (V) o desenvolvimento do hábito de leitura, seja por prazer ou por necessidade de buscar informações. Nossas análises revelam que o critério mais relevante para os professores na seleção do texto de divulgação é a relação entre o assunto abordado no texto e aqueles que estão sendo trabalhados em sala de aula, ou seja, sua articulação a tópicos curriculares. Outro critério apontado como importante pelos professores é a credibilidade da fonte e do autor. Finalmente, os professores apontam para a necessidade de que a linguagem do texto seja adequada à faixa etária do aluno. Quanto às possibilidades de adaptar e utilizar os textos de divulgação científica em sala de aula, constatamos que os professores entrevistados costumam trabalhar este material em grupos, onde cada grupo analisa uma reportagem e num segundo momento, é aberta uma discussão com a turma onde há a socialização das informações de cada grupo. Além desta estratégia, é comum trabalhar os textos de divulgação através de debates e utiliza-los na elaboração de murais a serem expostos na sala de aula e em locais que toda a escola tenha acesso a estes trabalhos. Entre as temáticas mais freqüentemente selecionadas encontramos temas relacionados à sexualidade, às questões ambientais e ao comportamento humano, sobretudo dos adolescentes e jovens. Entre as dificuldades identificadas pelos professores estão o custo e o acesso a determinados artigos/reportagens. Estes resultados apontam para uma necessidade de aprofundar nossos entendimentos acerca da incorporação didática destes materiais, de como eles podem complementar os livros didáticos e outros materiais tradicionais, e da natureza das reelaborações discursivas envolvidas na articulação com temas do currículo de ciências.
 

(1) Este trabalho foi apresentado no I EREBIO- Encontro Regional da SBEnBIO-Regional 02
(2) Apoio CNPq
(3) Apoio parcial CNPq