O PERFIL EDUCATIVO DOS MUSEUS DE CIÊNCIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO(1)



Lúcia Rebello

Sonia Krapas


Resumo

    Ultimamente as discussões sobre educação não mais se restringem ao âmbito da educação formal, crescendo o papel dos espaços de educação não formal, como os museus de ciência e tecnologia. A literatura especializada fundamenta a importância dos museus de ciência para a sociedade como agentes de divulgação de conhecimento científico. Porém, essa literatura se limita ao estudo de um número reduzido de museus de ciência. Na cidade do Rio de Janeiro existem cerca de 23 museus de ciência, sendo que pouco ou nada se conhece da maioria deles. Com o objetivo de identificar o perfil educativo dos museus de ciência da cidade do Rio de Janeiro, foram recolhidos folhetos de divulgação dos museus, analisados questionários escritos, realizadas visitas e feitas entrevistas com profissionais. No presente trabalho serão enfocados apenas os questionários, complementados pelos folhetos de divulgação. Os questionários foram enviados pelo correio, via fax ou entregues pessoalmente. Como resultado, encontramos que os museus de ciência da cidade do Rio de Janeiro formam um colorido mosaico quanto à sua natureza, especificidade de suas exposições, estrutura, funcionamento e serviços oferecidos. A maioria dos museus possuem uma especificidade temática, que reflete uma tendência histórica que vai dos gabinetes de curiosidades até a especialização do acervo e, por conseguinte, das exposições. Em relação aos objetivos, a popularização e divulgação cientifica só são apontados por quatro museus, aparecendo um número alto de museus (7) que possuem como objetivo a divulgação da instituição mantenedora. Embora a maioria dos museus cariocas tenham sido abertos entre as décadas de 1970 e 1980 — época marcada por mudanças no Ensino de Ciências e na Museologia, como reflexo da consolidação de linhas de pesquisa e de intensos debates —, eles não incorporaram as discussões internacionais relativas a museus. Os museus em sua maioria são mantidos pelo governo (11 de âmbito federal, 2 de âmbito estadual e 2 de âmbito municipal). Isso indica a necessidade de uma política nacional de cultura, visto que o Estado catalisa boa parte da produção cultural do país e dá suporte financeiro aos museus (a maioria não são auto-sustentáveis pela bilheteria). O número de museus de ciência ligados a instituições de pesquisa é alto (8). Merece destaque a UFRJ, que mantêm três instituições e ainda dá suporte para a implantação de mais dois espaços de divulgação científica no campus da universidade. Em alguns museus não há pessoas ou departamentos específicos envolvidos na elaboração das atividades educativas, o que pode vir a dificultar o desenvolvimento das suas propostas. Em contrapartida, a existência de departamentos de educação e de museologia não garantem por si só uma melhor eficácia das exposições. As visitas guiadas é o serviço mais freqüentemente oferecido pelos museus, seja para as escolas, seja para o público em geral. O público alvo de alguns museus é bem delimitado (turistas, especialistas, pessoas da comunidade local), não sendo o público escolar, ao contrário do que se poderia esperar, a maior parcela do público visitante. Esse resultado mostra o potencial atrativo dos museus de ciência para o público em geral. A diversidade de serviços demonstra a apropriação do modelo de centro cultural pelos museus, o que remete à discussão sobre a função dos museus: educação ou entretenimento? O centro cultural, ao contrário do museu, não possui um órgão em nível internacional que determine quais conceitos ou diretrizes que devem ser seguidos. Podem ter suas ações voltadas para o educacional ou simplesmente para o lazer e o entretenimento. Como aponta Silva (1994), surgem algumas perguntas para reflexão: Será que o sucesso dos museus que se abrem a diversas atividades, com o objetivo de dinamizar o seu acervo, faz com que esses sejam vistos como exemplos a serem seguidos por outros museus? Será que esses museus, ao se abrirem a diversas atividades, não acabam relegando a último plano os seus propósitos originais de tratamento do acervo?

(1) Trabalho apresentado no III Simpósio Latino Americano e Caribenho de Educação em Ciências, em Curitiba, em 1999.