O ENSINO DE CIÊNCIAS E O LIVRO-TEXTO NO COTIDIANO ESCOLAR(1)



Catarina Fernandes de Oliveira Fraga(2)

Resumo


 


    Este estudo analisa como os professores de Ciências trabalham o livro-texto na sala de aula, levando em consideração a esfera escolar onde este livro está presente.

    Adotou-se a abordagem qualitativa no processo de pesquisa, tendo como material coletado para análise a observação das aulas e entrevistas de quatro professores de Ciências de 5ª a 8ª séries de duas escolas da rede pública estadual de Pernambuco, localizadas na cidade de Olinda.

    Além desses professores, foram entrevistados diretores e funcionários dos dois estabelecimentos, de forma a se ter uma visão mais ampliada dos fatores que incidem diretamente na prática do professor.

    O fato de, aproximadamente, 90% dos alunos não possuírem os referidos livros levou esses professores a criarem alternativas, as quais passaram a constituir parte integrante deste estudo.

    Em suas aulas, raramente algum professor propôs atividades de experimentação, porém a preocupação com ausência de aulas práticas e com os materiais necessários para as experiências estava sempre presente nas discussões sobre o ensino de Ciências. Os livros às vezes propunham experiências, que dificilmente poderiam ser realizadas, uma vez que os materiais e substâncias eram de difícil aquisição. Quando existiam atividades de experimentação nas aulas de Ciências, os alunos não tinham acesso ao manuseio dos materiais, ficando sob a responsabilidade do professor a "exibição da prática" que, em geral, era apenas com a finalidade de confirmação da teoria anteriormente trabalhada na sala. Desta forma, a experimentação era destituída de qualquer princípio de investigação.

    A desqualificação do ensino de Ciências que se tem observado é um reflexo do sistema educacional como um todo. De modo intrínseco, o que se pode observar neste estudo é que a prática pedagógica que vem sendo desenvolvida frente ao livro texto acentua essa situação, inclusive comprometendo ainda mais a qualificação do professor de Ciências, quando esses livros assumem o controle da cadência de suas aulas.

    A falta de livros-textos, evidenciada entre os alunos e nas respectivas bibliotecas escolares, contribui como um dos determinantes das práticas pedagógicas estudadas. Porém, as estratégias desenvolvidas pelos docentes faziam com que os livros-textos se "concretizassem" nas salas de aula, revelando um ensino tradicional, pautado nos livros de qualidade comprometida, o que, por sua vez, fragiliza ainda mais o ensino de Ciências.
 

(1) Este trabalho de pesquisa, originalmente apresentado como Dissertação de Mestrado, na Universidade Federal de Pernambuco, no Departamento de Educação, avaliado pela banca examinadora e aprovado com distinção e indicado para publicação. A referida banca foi constituída pelos seguintes Professores Doutores: Paulo Gileno Cysneiros, Ferdinand Röhr e Hilário Fracalanza (o referido trabalho até a presente data não foi publicado de modo parcial ou total).
(2) Profa. MsC Catarina Fernandes de Oliveira Fraga, leciona as disciplinas Didática, Metodologia de Ensino de Ciências Biológicas e Práticas de Ensino I e II de Ciências e Biologia no Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco.