Resumo
Este estudo analisa como os professores de Ciências trabalham o livro-texto na sala de aula, levando em consideração a esfera escolar onde este livro está presente.
Adotou-se a abordagem qualitativa no processo de pesquisa, tendo como material coletado para análise a observação das aulas e entrevistas de quatro professores de Ciências de 5ª a 8ª séries de duas escolas da rede pública estadual de Pernambuco, localizadas na cidade de Olinda.
Além desses professores, foram entrevistados diretores e funcionários dos dois estabelecimentos, de forma a se ter uma visão mais ampliada dos fatores que incidem diretamente na prática do professor.
O fato de, aproximadamente, 90% dos alunos não possuírem os referidos livros levou esses professores a criarem alternativas, as quais passaram a constituir parte integrante deste estudo.
Em suas aulas, raramente algum professor propôs atividades de experimentação, porém a preocupação com ausência de aulas práticas e com os materiais necessários para as experiências estava sempre presente nas discussões sobre o ensino de Ciências. Os livros às vezes propunham experiências, que dificilmente poderiam ser realizadas, uma vez que os materiais e substâncias eram de difícil aquisição. Quando existiam atividades de experimentação nas aulas de Ciências, os alunos não tinham acesso ao manuseio dos materiais, ficando sob a responsabilidade do professor a "exibição da prática" que, em geral, era apenas com a finalidade de confirmação da teoria anteriormente trabalhada na sala. Desta forma, a experimentação era destituída de qualquer princípio de investigação.
A desqualificação do ensino de Ciências que se tem observado é um reflexo do sistema educacional como um todo. De modo intrínseco, o que se pode observar neste estudo é que a prática pedagógica que vem sendo desenvolvida frente ao livro texto acentua essa situação, inclusive comprometendo ainda mais a qualificação do professor de Ciências, quando esses livros assumem o controle da cadência de suas aulas.
A falta de livros-textos, evidenciada entre os alunos
e nas respectivas bibliotecas escolares, contribui como um dos determinantes
das práticas pedagógicas estudadas. Porém, as estratégias
desenvolvidas pelos docentes faziam com que os livros-textos se "concretizassem"
nas salas de aula, revelando um ensino tradicional, pautado nos livros
de qualidade comprometida, o que, por sua vez, fragiliza ainda mais o ensino
de Ciências.
(1) Este trabalho de pesquisa, originalmente apresentado
como Dissertação de Mestrado, na Universidade Federal de
Pernambuco, no Departamento de Educação, avaliado pela banca
examinadora e aprovado com distinção e indicado para publicação.
A referida banca foi constituída pelos seguintes Professores Doutores:
Paulo Gileno Cysneiros, Ferdinand Röhr e Hilário Fracalanza
(o referido trabalho até a presente data não foi publicado
de modo parcial ou total).
(2) Profa. MsC Catarina Fernandes de Oliveira Fraga,
leciona as disciplinas Didática, Metodologia de Ensino de Ciências
Biológicas e Práticas de Ensino I e II de Ciências
e Biologia no Departamento de Educação da Universidade Federal
Rural de Pernambuco.