O CONHECIMENTO FÍSICO E A LINGUAGEM



Carla Marques Alvarenga de Oliveira
Anna Maria Pessoa de Carvalho


Resumo

    Em pesquisas realizadas pelo LaPEF ( Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física) da FEUSP, percebeu-se a importância de propor aos alunos situações problemáticas interessantes, para que eles ao tentarem resolvê-las, possam se envolver intelectualmente com a questão física apresentada, construir suas próprias hipóteses, tomar consciência da possibilidade de testá-las, procurar relações causais e elaborar conceitos científicos. Segundo Driver (1989) a aprendizagem se dá através de um envolvimento ativo do aprendiz na construção do conhecimento.

    Após reflexões, algumas questões nos pareceram importantes: A Metodologia usada nas atividades de conhecimento físico (Carvalho, 1998) proporciona um aprimoramento nas linguagens escrita e oral dos alunos? Esse aprimoramento é generalizado para outras áreas de conhecimento?

    A construção do conhecimento em sala de aula depende essencialmente de um processo no qual os significados e a linguagem do professor vão sendo apropriados pelos alunos, na construção de um conhecimento compartilhado, segundo Mortimer e Machado (1997); assim, esta afirmação nos leva a crer que a partir de uma atividade significativa de conhecimento físico, as próximas ações referentes a esta atividade poderão ser também significativas para o aluno, tornando-se assim a linguagem oral e escrita parte de uma ação expressiva para o aluno.

    Muitos autores têm escrito sobre a importância do trabalho prático, o fazer, nas aulas de ciências; Gott e Duggan (1995,1996) oferecem uma justificativa para que professores e alunos entendam o porquê do trabalho prático ser importante nas aulas de ciências e por que é importante a exploração do como e do porquê durante uma atividade.

    Nas aulas com a metodologia de atividades de conhecimento físico, os alunos passam pela exploração do como e do porquê e em seguida escrevem sobre a experiência. Warwick (1999) afirma que o trabalho escrito relacionado à investigação científica é um meio de encorajar as crianças a expressar seu entendimento de conceitos de evidência. Argumentando e escrevendo sobre os conceitos em ciências, os alunos começam a interagir e a se apropriar da Ciência como tal.

    Os alunos quando solicitados a justificar o como e o por que das suas ações na atividade, em vez de tomar as enunciações dos outros como pacotes imutáveis de informações a serem recebidas, eles são estimulados a tomá-las como estratégias de pensamento, como um tipo de matéria-prima para a criação de novos significados. Durante a fala dos alunos nas aulas de conhecimento físico, pode-se perceber este processo.

    Segundo Bronckart (1999) sabendo que, por meio da linguagem, a criança age sobre os outros, ela acaba por compreender que, também por meio da linguagem, pode agir sobre si mesma, sobre seus comportamentos, depois sobre suas representações e, então, começa a ‘pensar’. Acreditando nessa afirmação, este estudo se apóia na metodologia das atividades de conhecimento físico para que os alunos possam empreender estas habilidades da linguagem em outras áreas do conhecimento.

    Trata-se de um estudo qualitativo. Para a coleta de dados, foram utilizados três instrumentos comuns em investigações educacionais: a observação, a análise documental e a observação das gravações em vídeos. Foram gravadas três aulas com atividades de Conhecimento Físico na Escola de Aplicação da FEUSP.

    Os dados estão sendo analisados seguindo duas direções: a argumentação e a língua escrita. Para realizar a investigação sobre o progresso da argumentação dos alunos serão analisadas as gravações em vídeo das aulas de ciências, no que se refere ao aprimoramento da língua escrita dos alunos, a análise se baseará em todo material escrito recolhido na coleta de dados.
 

Referências


BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo / Jean-Paul Bronckart; trad. Anna Rachel Machado, Pericles Cunha. São Paulo : EDUC, 1999

CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Ciências no Ensino Fundamental: o Conhecimento físico – São Paulo: Scipione, 1998

DRIVER, R. Students’conceptions and the learning of science. International Journal on Science Education, Nova Yorque, v. 11, n° 5,1989.

MORTIMER, E.F. e MACHADO, A . H. Múltiplos olhares sobre um episódio De ensino: " Por que o gelo flutua na água?" Encontro sobre Teoria e Pesquisa em Ensino de Ciências. Belo Horizonte, 1997

WARWICK, Paul. LINFIELD, Rachel S..STEPHENSON, Philip. A comparison of primary school pupils’ ability to express procedural understanding in science through speech and writing. International Journal of Science Education, vol . 21, nº 8, p. 823 – 838, 1999