O objetivo deste trabalho é discutir o que os professores pensam sobre as semelhanças entre as explicações dos sujeitos e aquelas presentes na História da Ciência e suas implicações para o ensino.

    Primeiro exporemos argumentos de pesquisadores sobre a existência de semelhanças entre as explicações dos sujeitos e aquelas presentes nos caminhos trilhados pela Ciência e a importância de se levar em conta esses paralelismos e elementos da História da Ciência no planejamento do ensino de Ciências (Piaget e Garcia, 1982; Bevilacqua & Kennedy, 1983; Gagliardi e Giordam, 1986; Otero, 1985 e 1989; Bachelard, 1987; Mathews, 1988; Nersessian, 1989; Nardi, 1990; Carvalho e Gil Perez, 1993; Saltiel e Viennot, 1985; Gagliardi e Giordan, 1986; Moreno, 1990; Castro e Carvalho, 1992; Cunha, 1993).

    Em seguida descreveremos os resultados de uma pesquisa (Cunha, 1993) que foi apresentada aos professores suscitando de suas partes algumas percepções/manifestações. Esses resultados fazem parte de um estudo mais amplo, que investigou as explicações dos indivíduos, em diversas faixas etárias, para as doenças infecciosas. A referida pesquisa fez um levantamento bibliográfico sobre a História da Microbiologia e apontou alguns paralelismos entre sua evolução e as explicações de sujeitos em diversas faixas etárias e diferentes graus de escolarização.

    Por fim discutiremos as manifestações dos professores sobre as semelhanças encontradas, articulando-as com o referencial de Mudança Conceitual. As percepções dos professores foram elicitadas em um curso de Educação Continuada, com duração de 80 horas, que se constituiu como parte da intervenção que deu origem a outra pesquisa (Cunha,1997).

    As manifestações dos professores, durante o curso, diante das semelhanças entre as explicações dos sujeitos para as doenças infecciosas e aquelas construídas ao longo da História da Microbiologia, permitiram conhecer suas dificuldades para se utilizarem destas semelhanças e de outras observadas em outros campos do saber, em seus planejamentos de ensino. Embora o assunto seja mencionado até mesmo nos documentos oficiais, os professores alegam dificuldades em incluir em seus planejamentos a preocupação com a História da Ciência, visto não disporem de subsídios de qualquer natureza para faze-lo. Referem-se à falta de bibliografia e ausência desse tópico nos cursos de formação de professores.

    Com relação às queixas dos professores sobre a ausência do tratamento dessas questões em sua formação, é imprescindível que os currículos de formação de professores de Ciência contemplem a História da Ciência, através da sua inserção nas demais disciplinas da grade curricular e ainda como disciplina independente, o que já tem acontecido em alguns cursos. O professor precisa além de conhecer a história da construção dos conceitos, dominar o conteúdo da sua disciplina, portanto cursos de Educação Inicial e Continuada, não podem negligenciar esse aspecto.

    A consciência das dificuldades dos professores, aliada a nossa valorização para a questão em foco, suscitaram reflexões que emergem de nossa prática de formadora de professores, nos permitindo esboçar algumas considerações sobre a importância do tratamento dessa questão em cursos de formação de professores, tanto inicial, quanto continuada.

(1) VI Congreso Internacional sobre Investigación em la Didactica de las Ciências-Universidade Autônoma de Barcelona  12 a 15 de setembro de 2001