FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS:
UMA EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO DE VISÃO INTERDISCIPLINAR (1)



Luciana de Oliveira Lellis
Maria Eunice Ribeiro Marcondes
GEPEQ - Grupo de Pesquisa em Educação Química
Instituto de Química - Universidade de São Paulo



Resumo

    Após um ano do término de um curso de formação continuada para professores de ciências, que havia tido resultados muito positivos, a mesma coordenadora fez a proposta para estes professores de uma continuidade do trabalho e realizou uma entrevista individual com cada um, a fim de tentar saber quais impressões e reflexões ainda estavam presentes e para nortear o trabalho a ser desenvolvido. A análise destas entrevistas mostrou entre outras coisas que todos acharam o entrosamento do grupo excelente, motivador e se sentiam bastante à vontade para se exporem neste ambiente; além disso um aspecto que chamou muito a atenção foi o fato de praticamente todos os professores trabalharem os conteúdos de ciências de forma fragmentada, sem explorar a interdisciplinaridade intrínseca da área. Tal abordagem de ensino é no mínimo preocupante, pois a compreensão dos fenômenos naturais e da intervenção do ser humano sobre eles envolve conhecimentos químicos, físicos, biológicos, sociais, políticos e tecnológicos. Então, a partir desta análise, foi feito um curso que teve como objetivo principal contribuir para o desencadeamento de uma mudança conceitual no professor de ciências, na direção da construção de uma visão interdisciplinar e crítica dos conteúdos e um possível reflexo na sala de aula.

    O curso foi desenvolvido de março a dezembro de 2000, com carga horária de 120 horas. Participaram 21 professores e através das atividades propostas eles puderam refletir sobre sua visão do processo de ensino-aprendizagem, da prática e principalmente dos conteúdos. Foram utilizados durante o curso e após o seu término os seguintes instrumentos: questionários, entrevistas, elaboração de diários metacognitivos e observações durante as discussões e atividades.

    Os professores mostraram-se do início ao final do curso extremamente envolvidos e participativos e em muitos depoimentos surgiu a importância do grupo nesta motivação, que, segundo eles refletiu inclusive na vontade de trabalhar melhor em sala de aula. Todos os professores disseram que consideram muito importante que exista esse espaço de troca de experiências com os colegas e de reflexão sobre o seu trabalho. Em relação ao conteúdo de ciências, a análise dos instrumentos utilizados para isso sugere que a maior parte deles mudou, pelo menos em parte, sua visão do conteúdo, indo em direção a uma maior integração. Na entrevista feita após o curso também se observou na maioria deles uma preocupação que antes não existia em relação a isso.

    Aparentemente o processo de reflexão que havia se iniciado no curso anterior foi aprofundado durante este curso. Os professores demonstraram que sentem necessidade deste tipo de apoio dos colegas e que querem um espaço de reflexão permanente, como é também sugerido pelo fato deles planejarem continuar este trabalho em 2001. O reflexo disto na sala de aula vai acontecendo de acordo com as mudanças internas que cada professor sofre, sendo mais imediato para alguns e mais gradativo para outros. De qualquer maneira, segundo os próprios professores, pode-se dizer que este trabalho contribuiu significativamente para o desenvolvimento profissional dos envolvidos.

Bibliografia:

CARVALHO, A. M. P. e GIL-PÉREZ, Formação de professores de ciências, 2ª ed. São Paulo: Cortez editora, 1995.

KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. São Paulo: E.P.U./EDUSP, 1987.

NÓVOA, A.(org.) Os professores e a sua formação, 3ª ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997.

ZEICHNER, K. M. A formação reflexiva de professores: idéias e práticas. Lisboa: Educa, 1993.

Agência Financiadora: CAPES

(1) Trabalho anteriormente apresentado na 53ª Reunião Anual da SBPC realizada de 13 a 18 de julho de 2001, na UFBA, em Salvador.