ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE ESTRATÉGIAS E MATERIAIS EDUCATIVOS UTILIZADOS NA PREVENÇÃO E CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE E OUTRAS HELMINTOSES(*)



Maria Cecília P. Diniz1,2
Virgínia T. Schall1
1-Centro de Pesquisas René Rachou / Fiocruz
Laboratório de Educação em Saúde
2- Pós-graduação em Educação da UFMG
Belo Horizonte – Minas Gerais
cecília@cpqrr.fiocruz.br


Resumo

    A Educação em saúde é um campo multidisciplinar e requer ações integradas que envolvam a participação da comunidade. A prática tem demonstrado o alcance limitado de esforços empreendidos para obtenção da saúde através de providências médicas. Estes somente surtem efeito quando acompanhadas de informações, educação, melhoria ambiental e de qualidade de vida da população. Os materiais educativos alternativos são formas de traduzir para a população os avanços científicos da área, promovendo a identificação e sensibilização do público para com temas de saúde. No presente estudo, pretendeu-se, através de um levantamento sobre as estratégias e materiais educativos voltados para a prevenção da esquistossomose e outras helmintoses, analisar e avaliar os meios mais referidos, traçando sugestões e propostas.

    Para o desenvolvimento deste estudo, realizou-se o levantamento com uma amostra (n=35) de materiais produzidos e/ou utilizados, a partir dos anos 70, em diversas regiões do país, baseando-se em critérios quantitativos e qualitativos. A amostra foi submetida à análise conforme sua classificação, conteúdo e ilustrações. Utilizou-se o programa EpiInfo para a montagem do banco de dados.

    Em relação à classificação, as publicações foram distribuídas em oito categorias: Prospectos, folders e panfletos (28%), cartilhas e histórias em quadrinhos (20%), manuais técnicos (14%), cartazes (11%), livros infantis (9%), vídeos (9%), recortes de jornais e revistas (6%) e jogos (3%). Cruzando-se os órgãos responsáveis com o público alvo tem-se 27 (77,15%) publicações destinadas a população geral, sendo a maioria publicados por órgãos do Ministério da Saúde. Para os profissionais da saúde encontramos 7 (20%) das publicações, sendo a maioria produzidos também por órgãos do Ministério da Saúde. Uma análise pormenorizada do conteúdo e imagens dos materiais foi permitindo evidenciarmos distorções e enfoques limitados de tratamento da informação.

    Os materiais, em sua maioria, priorizam uma forma de atividade pedagógica que se assemelha mais às estratégias de informação e propaganda característicos de campanhas emergenciais de saúde pública, reproduzindo-se ao longo dos anos como cópias uns dos outros. Privilegiam as formas de transmissão e prevenção da esquistossomose outras helmintoses, sendo que tal enfoque não é suficiente para a educação em saúde. Não incluem endereços ou telefones para buscas de informações e tratamento. No que se refere a conteúdos básicos de esquistossomose, falhas graves são encontradas, como desenhos ou fotos do caramujo de jardim (Bradybaena similaris) em lugar dos moluscos vetores (três espécies de Biomphalaria). Algumas figuras, embora com ilustrações atraentes para crianças, estão incompletas. Por sua vez, os materiais sobre helmintoses intestinais abusam das formas caricaturais dos vermes e restringem-se a recomendações, sem informar sobre a dinâmica e conseqüência para a saúde.

    Discute-se a necessidade de criação de materiais contextualizados que sejam desenvolvidos a partir dos conhecimentos prévios e crenças da população alvo e incluam imagens auto-referentes, pouco texto e informações úteis como: acesso aos serviços de saúde, sugestão de melhorias ambientais, ultrapassando o foco no comportamento individual e incentivando a participação em ações coletivas que possam contribuir para a prevenção de doenças e promoção da saúde.

(*) Parcialmente apresentado na 52ª SBPC - 2000