No processo de formação ganham expressão as diferentes formas de ser e os diversos modos de manifestação geradas nas trocas e interações que se produzem, tanto nas estruturas das tarefas acadêmicas como nos modos de relação social que se estabelecem. Cada uma dessas formas e modos distintos de ser cria a possibilidade de novas formas de compreensão do que seja ciência, de como foi produzida historicamente, de como pode ser abordada na relação pedagógica e, cria também, novas perspectivas de intervenção na dinâmica de sala de aula. É evidente que do modo como a mediação da docência formativa é concebida, interpretada e explicada deriva-se uma forma típica de atuação. Os professores formadores e todos os que participam desse processo intervém sob influência de um modo de pensar a ciência. A forma como ela se produz e se valida e, como se dá junto aos indivíduos pelo ensino. Desse modo os professores formadores, também enriquecem, reafirmam, reproduzem ou transformam a forma de entender a ciência, de seus alunos. Compete-lhes, também, entenderem-se, eles mesmos, sobre qual a linha epistemológica que se inserem as suas ações formativas a partir das proposições desencadeadas nessa ação. Interessa-nos, neste trabalho, identificar as concepções epistemológicas dos professores formadores e a partir das análises das mesmas apontar quais ou qual a tendência de ensino que está sendo privilegiada nos cursos de formação investigados e distinguir as dimensões da prática mais relevantes em função dos modelos de prática e dos propósitos educativos. Como método e como instrumento de coleta de dados, escolhemos a entrevista semi-estruturada. A pesquisa envolveu um grupo de professores de Prática de Ensino de Química: dois docentes da universidade particular e um docente da universidade estadual e dois docentes da universidade federal. Para a nossa análise, nos apoiamos nas considerações teóricas das correntes epistemológicas, nos enfoques didáticos que mais influência exerceram até nossos dias sobre as práticas educativas e nas dimensões da prática (dimensão técnica, dimensão artística e dimensão ético-política proposta por Sacristán e Gómez (2000)). Constatamos que os professores considerados, neste trabalho, em sua grande maioria apresentam um referencial epistemológico, filosófico e sociológico bastante claro o que os diferencia daqueles que realizam abordagens intuitivas ou baseadas na prática ou imitando modelos de formação bem sucedidos sem um ampla reflexão. A descrição que os professores formadores fazem do seu trabalho evidencia que os mesmos partilham de uma tendência de ensino numa visão mais racionalista. Evidenciamos que os mesmos procuram conhecer, discutir as concepções de ciências dos seus alunos, bem como discutir qual a idéia de Química que está presente nos diferentes contextos. O depoimento dos formadores sugerem que a tendência de ensino predominante está relacionada, em especial, com as propostas da orientação construtivista. As razões que fundamentam as abordagens realizadas podem estar inseridas na dimensão ético-política. Essa mesma dimensão é que no seu conjunto caracterizam a disciplina e servem de orientação na seleção de conteúdos programáticos e de processos de organização de aprendizagem, bem como determina os parâmetros de avaliação. Consideramos que esses resultados preliminares permitiram conhecer "para onde vamos", quais são as perspectivas de ensino e aprendizagem, no que se fundamenta a ação do professor formador. Podemos extrair lições das práticas analisadas como possibilidade de ampliação das discussões envolvendo outros formadores, em que se explicitem os pressupostos assumidos, o desenvolvimento das práticas circunstanciadas e o esclarecimento das diretrizes teóricas e dos direcionamentos práticos.

(1) Trabalho apresentado na 24ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química- 28 a 31 de maio de 2001-Poços de Caldas-MG