A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NATURAIS: ARTICULAÇÕES PARA SITUAR, ENTENDER E REVER A PRÓPRIA AÇÃO DOCENTE


Milton Antonio Auth[1]
UFSC – PPGE: doutorado em Educação e professor do DeFEM-UNIJUÍ.
auth@unijui.tche.br

José André Angotti[2]
UFSC - Dep. Metodologia de Ensino e Programa de Pós Graduação em Educação
angotti@ced.ufsc.br


Resumo

    Ao mesmo tempo que na sociedade convive-se com a reprodução da crença de que as coisas são separadas, o que dificulta uma compreensão mais ampla das relações sociais, na educação formal, particularmente da área de ciências naturais, ainda é marcante a reprodução de um processo centrado nos produtos da ciência. Conseqüência disso é a difusão de uma lógica que deixa transparecer que as coisas vêm prontas e que pouco podemos fazer para mudá-las. A tensão entre a realidade vivida e a objetivada, ainda que implícita, expõe o desafio de avançar nas investigações sobre o ensino de ciências e, em especial, sobre a formação e a experiência dos professores. Iniciativas no âmbito da formação continuada, com atenção especial à questão da curiosidade epistemológica, objetivamos através de um processo que pusesse em evidência as concepções/práticas de um grupo de dez professores, a maioria da área de Ciências Naturais, da região de Ijuí/RS, e viabilizasse novas entradas em sua formação. Articulações foram feitas com base em alguns textos de cunho histórico e epistemológico (Thuillier, 1989; Prigogine, 1996; Cini, 1998) e sob a ótica da educação temática e problematizadora. Embora difícil, consideramos necessário/possível que os professores e alunos cheguem a acreditar que mudanças mais radicais são possíveis e que eles são detentores da capacidade de extrapolar sua condição atual. Para tal, retomamos, de Freire (1987) a convicção de que vivemos um tempo de possibilidades e não de determinismo, e de Holton (1979) a idéia de temas antitéticos da imaginação científica. Os esforços empreendidos a partir de estudos históricos e epistemológicos, para superar a pouca clareza, até o momento, de como abordar os conhecimentos de Ciência e Tecnologia, sem reforçar sua neutralidade ou ficar preso a tarefas de transmissão de conhecimentos, têm-se mostrado promissores. A exploração de concepções históricas contextualizadas e de temas antitéticos com os professores e seus alunos expôs um aspecto importante do processo de produção do conhecimento científico que era praticamente ignorado no ensino que ministravam. Os estudos/ensaios, baseados em polarizações, em concepções conflitantes na ciência, diretamente com os alunos, e compartilhadas com os professores, não só "mexeu" com ambos, como também mostrou que é possível tornar mais dinâmicas/interativas suas práticas pedagógicas.

[1] Apoio CAPES
[2] Apoio CNPQ