DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA SALA DE AULA: AS ESCOLHAS DOS PROFESORES



Isabel Martins(1)
(NUTES-UFRJ)

Inez Andrade
(CEFET Campos e NUTES-UFRJ)

Eliane Trigo
(Colégio Pedro II)

Marcelo Borges Rocha(2)
(NUTES-UFRJ)

Úrsula Monique Cruz(3)
(ISERJ)

Allan Damasceno Rocha(4)
(IF e NUTES, UFRJ).



Resumo

    Pode-se dizer que, atualmente, os meios de comunicação são responsáveis por grande parte das informações que o público não especialista, inclusive estudantes em período de escolarização básica, possui sobre ciência. Uma análise, mesmo que superficial, do conteúdo destas notícias revela três aspectos importantes que conferem a estes textos um potencial didático desejável: (i) freqüentemente elas se referem à temáticas científicas da atualidade, relacionadas à investigações em desenvolvimento nos laboratórios; (ii) geralmente contêm referências ao processo através do qual descobertas são feitas, incluindo debates entre cientistas, que evidenciam o caráter interpretativo da atividade científica; (iii) trazem um relato de conteúdos científicos contextualizado, relacionando diferentes domínios de conhecimento, aplicações tecnológicas e seu impacto social. Estas características dos textos de divulgação científica não só correspondem aos interesses por informação científica manifestados por estudantes como também vão ao encontro das mais recentes recomendações para o ensino de ciências na escola. Nesta perspectiva, investigamos a prática de alguns professores de ciências que fazem uso textos de divulgação em suas sala de aula e exploramos a idéia de que estes textos podem complementar materiais tradicionais como o livro didático permitindo a discussão do caráter dinâmico do conhecimento científico, das informações e das imagens de ciência que circulam em nossa sociedade. Entre nossas perguntas de pesquisa destacamos: quais são os critérios utilizados pelos professores para selecionar estes materiais? quais são as temáticas mais frequentemente escolhidas? a que fontes estes professores recorrem mais frequentemente? Neste estudo, respondemos a estas perguntas através da análise de conjuntos de textos de divulgação científica coletados e mantidos por professores de ciências e utilizados como recurso didático em suas aulas. Nossa análise se baseou em princípios e procedimento de estudos na área de indexação e analisa os documentos em relação a dois aspectos principais: (i) uma descrição física do material (título, autor, fonte, etc) e (ii) uma descrição de conteúdo, que consiste em um processo de análise para atribuição de termos de modo a representar os assuntos do documento. Assim, foi realizada, inicialmente, uma análise conceitual de cada artigo na forma de uma declaração de assunto, isto é, uma sentença descritiva do conteúdo do texto. Em seguida, foi feita a tradução de assunto, isto é, a representação de conteúdo contido na sentença descritiva em termos de indexação, extraídos do texto ou elaborados pelo indexador. Adotamos o critério de especificidade para atribuição de termos e procedemos o processo de forma que pelo menos dois indexadores analisassem o mesmo texto, negociando interpretações consensuais. Assim, o exercício de indexação não só torna possível organização e recuperação futura deste material num banco de dados de referências como permite a problematização de relaçãoes conceituais intra- e inter-disciplinares necessárias ao entendimento dos critérios e preferências dos professores por determinadas temáticas e suas visãoes de como essas se articulam a temas curriculares. Numa análise de 150 textos, disponibilizados por professores de Física, Química e Biologia, foi revelada a variedade de fontes às quais estes recorrem, incluindo jornais e revistas de grande circulação e revistas de divulgação científica, problematizando inclusive a própria noção de divulgação científica. Discutimos também como, de forma geral, os materiais selecionados se relacionam aos temas transversais e a tópicos que merecem atenção destacada na mídia (ex. clonagem de seres humanos). Finalmente detacamos o fato de que, em algumas coleções, os artigos refletem uma diversidade de pontos de vista sobre o mesmo assunto (ex. a gestação precoce discutida na ótica da biologia, geografia humana, antropologia social e da psicologia).

(1) Apoio parcial CNPq.
(2) Apoio CNPq.
(3) Apoio FAPERJ, Programa Jovens Talentos.
(4) Apoio PIBIC-CNPq.