CONSTRUINDO PONTES E FRONTEIRAS: GÊNERO DISCURSIVO DE UMA CLASSE UNIVERSITÁRIA DE FÍSICA[1]



Ana G. Dumrauf
Grupo de Didáctica de las Ciencias, Universidad Nacional de La Plata, Argentina

Silvina Cordero
Grupo de Didáctica de las Ciencias, Universidad Nacional de La Plata, Argentina

Dominique Colinvaux
Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Brasil



Resumo

    Como se aprende ciências em situações de educação formal? Desde o surgimento do MCA na década de 80 e continuando com perspectivas mais densas teoricamente, como a dos Modelos mentais, a investigação voltada para o ensino-aprendizagem em ciências tem priorizado os processos individuais de construção do conhecimento. Buscando mudar este enfoque, estudos mais recentes optam por investigar as interações discursivas que se estabelecem nas relações entre professores e alunos em sala de aula, estabelecendo uma perspectiva que concebe a educação como um processo comunicativo. Seguindo este tipo de abordagem, nosso estudo focaliza dados videogravados obtidos durante as atividades pedagógicas regulares do TEF: Taller de Enseñanza de Física, uma proposta de Ensino de Física Geral dirigida a alunos de Biologia e Geologia da Universidad Nacional de La Plata (Argentina).

    Os dados aqui apresentados dizem respeito a uma modalidade de ‘aula teórica’ do TEF, denominada Teórico Dialogado, em que o corpo docente, composto de vários professores, apresenta aos alunos elementos teóricos da matéria a partir de um diálogo entre si e com os alunos. Recorrendo à noção de gênero discursivo de Bakhtin (1998)[2], que propõe a existência de tipos relativamente estáveis de enunciados, característicos de contextos tais como a comunicação científica, jornalística ou cotidiana, a análise focaliza as práticas discursivas do corpo docente durante o Teórico Dialogado voltado para a Termodinâmica. Em particular, tratava-se de identificar características específicas do contexto de sala de aula que apontassem para o que se pode chamar um gênero discursivo pedagógico.

    A aplicação da noção bakhtiniana a este contexto institucional-pedagógico possibilitou a identificação de movimentos construtivos realizados pelo corpo docente para orientar os alunos em seus processos de construção de conhecimento acerca da Termodinâmica. Foram identificados, nas intervenções docentes, aspectos epistemológicos, pedagógicos e sociológicos, que caracterizam um gênero discursivo pedagógico próprio a este contexto. Do ponto de vista epistemológico, as intervenções docentes explicitam uma perspectiva baseada em modelos, em que um campo experimental é interpretado e compreendido a partir de constructos teóricos referidos a determinados modelos. Desde o ponto de vista pedagógico, o corpo docente aponta aos alunos os passos do processo de modelagem que se mostram necessários à compreensão dos modelos consensuais da comunidade científica. Entre os aspectos sociológicos que caracterizam o Teórico Dialogado, destacam-se a participação ativa de professores e alunos e o estabelecimento de padrões variados de diálogo, visando incentivar os alunos a funcionarem como pesquisadores e compartilharem as práticas investigativas da comunidade científica.

[1] Este trabalho foi submetido para publicação à Revista de Enseñanza del las Ciencias. Parte dos resultados foram apresentados no V SIEF/Simpósio de Investigadores en Educación en Física (Santa Fé, Arg, Outubro 2000), com o título Construyendo puentes y  fronteras: Ellementos para un análisis sobre género discursivo en una clase universitária de Física.
[2] Bakhtin (em espanhol: Bajtín) M.M. (1998) Estética de la creación verbal. México, Siglo Veintinuno Editores.