CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE FÍSICA SOBRE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E O ENSINO DA FÍSICA
 

Célia Maria Soares Gomes de Sousa
Instituto de Física – UnB
celia@fis.unb.br

Maria Helena Fávero
Instituto de Psicologia – UnB
mhfavero@unb.br
 
 

Resumo

    Este trabalho faz parte de um estudo mais amplo (Sousa,2001)[1] cujo objeto é a resolução de problemas em Física, tratada do ponto de vista da Psicologia do Desenvolvimento Cognitivo e com vistas ao seu papel no ensino de Física. De nossa experiência sabemos que os alunos geralmente buscam "encontrar a fórmula adequada" para a resolução do problema o que evidencia, dentre outras coisas, uma prática de ensino que privilegia o procedimento, em si, em detrimento do campo conceitual em questão.

    Por isso, nos centramos , de um lado, nas concepções dos professores de Física sobre resolução de problemas e, de outro, na proposta de um procedimento de estudo para a resolução de problemas que privilegiasse as trocas verbais entre um especialista e um novato em situação de interação social, de modo que se evidenciassem as regulações cognitivas em relação a um campo conceitual particular. Nesta comunicação focalizaremos apenas as concepções dos professores.

    Quatorze professores de Física do nível médio foram entrevistados segundo os seguintes eixos principais: a Física como área de conhecimento, a dificuldade em sala de aula em termos da aprendizagem dos alunos, o papel da resolução de problemas na aprendizagem e a função do professor nesse processo.

    Os resultados da análise das entrevistas indicam que: os professores não têm uma idéia da Física como área de conhecimento construída pelo homem em contextos sócio-culturais particulares; os professores atribuem ao aluno, prioritariamente, as dificuldades de aprendizagem em Física; os professores não concebem a resolução de problemas como inerente à aprendizagem e como elemento facilitador da aprendizagem de conceitos físicos; os professores acreditam que a sua função no desenvolvimento do processo de resolução de problemas é o de mediador, tutor, auxiliar nesse processo, acreditando que cabe aos próprios alunos levar a cabo essa tarefa. Por outro lado, três dos sujeitos parecem atribuir a si mesmos a tarefa de RP, servindo então como um modelo para os alunos e fornecendo-lhes modelos de resolução.

    Procurando articular essas quatro constatações em termos de suas implicações para o ensino, acreditamos que se os professores tivessem uma visão mais construtivista e menos fragmentada , ou menos reducionista, do que é a Física, isso poderia contribuir para a melhoria da sua prática docente porque em diferentes situações didáticas poderiam explorar distintas facetas da Física, sem concebê-la apenas como, por exemplo, base para a tecnologia, modelagem da natureza, ciência por excelência e outras visões parciais inadequadas. A falta de uma concepção da Física como área de conhecimento humano e como uma construção do homem parece gerar uma prática de ensino na qual a Física é vista como um conhecimento a ser "passado" para o aluno. Há, portanto, a predominância da idéia de "transmissão" de um conhecimento a ser "passado" para o aluno. Ou seja, há a predominância da idéia de "transmissão" de um conhecimento, visto como pronto e acabado

    Essa prática de ensino acaba gerando no aluno a expectativa de que o ensino deva ser assim e que é ele que não é capaz de aplicar a teoria. O aluno não toma consciência de que a relação entre teoria e prática é interativa, de modo que é normal ter dificuldades em R.P. pois esta é também responsável pela aprendizagem da teoria. Ante esta falta de conscientização, o aluno recorre ao uso mecânico de fórmulas como se estivesse aí a aplicação da teoria que ele não consegue deduzir.

[1] Sousa, C. M. S. G. (2001). A Resolução de Problemas e o Ensino de Física : Uma Análise Psicológica. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade de Brasília.