COMO ADULTOS
POUCO ESCOLARIZADOS ENTENDEM OS FENÔMENOS ELÉTRICOS
Lúcia Maria Batista
Centro Universitário
de Patos de Minas
luciamb@gdlk.com.br
A. Tarciso Borges
Colégio Técnico e
Faculdade de Educação – UFMG
tarciso@coltec.ufmg.br
Resumo
As idéias que as pessoas adotam sobre os fenômenos relacionados
à eletricidade têm despertado o interesse dos pesquisadores.
A princípio, a maior parte das investigações realizadas
nessa área focalizava as idéias de crianças e adolescentes
e procurava, principalmente, identificar e descrever os modelos que eles
constróem. Em geral, elas abordavam o conhecimento procedural relacionado
à maneira de ligar elementos de um circuito para fazê-lo funcionar.
Pouca coisa se conhece a respeito dos modelos dos adultos e, apenas recentemente,
a dinâmica de construção e progressão dos modelos
tem merecido o interesse dos pesquisadores.
Os modelos desenvolvidos
por adultos sobre os fenômenos relacionados à eletricidade
parecem estar fortemente baseados em suas práticas do dia a dia;
são, na verdade, construídos a partir de experiências
pessoais e sem influência dos modelos científicos. Sua função
é ajudar o sujeito a fazer previsões úteis em situações
do cotidiano. Em geral, esses modelos são de natureza subjetiva,
instáveis, inconsistentes, fragmentados e localizados, isto é,
baseados em conceitos diversos que parecem não manter uma coerência
entre si. Além disso, são carregados de superstições,
crenças e opiniões e, embora apresentem ligeiras diferenças
de pessoa para pessoa, é possível que eles sejam baseados
em algumas crenças comuns. Compartilhados dentro de um grupo social/cultural,
distantes da escola e, portanto, dos modelos científicos, esses
“modelos de senso comum” tendem a se acentuar com o tempo, tornando-se
profundamente enraizadas na mente dos adultos. Esses “modelos culturais”
têm um importante papel na maneira como as pessoas compreendem o
mundo e se comportam nele (Quinn & Holland, p.4).
O propósito desse trabalho é obter informações
acerca da compreensão que as pessoas pouco ou não escolarizadas
têm sobre a origem e a natureza da eletricidade, a partir das explicações
que elas propõem e que parecem razoáveis do seu ponto de
vista e em vista de seu conhecimento. A pesquisa envolveu sete adultos,
trabalhadores ou aposentados de serviços não especializados,
de ambos os sexos, iletrados ou que possuíam baixo nível
de escolarização ou se encontravam afastados da escola por
longo tempo A idade deles variava de 26 a 63 anos. A pesquisa seguiu um
modelo transversal, utilizando a Entrevista Centrada em Eventos. Trata-se
de uma entrevista semi-estruturada, abordando um conjunto de situações
que envolve uma seqüência de Predição – Observação
– Explicação (POE). Diante de situações experimentais
simples, desenhos ou figuras, envolvendo fenômenos elétricos,
eles deveriam prever os resultados do evento, justificar a previsão,
descrever o que viram acontecer realmente e, finalmente, conciliar qualquer
conflito que tenha acontecido entre a previsão e a observação.
O objetivo era inferir das respostas dos entrevistados os modelos explicativos
que eles elaboravam, diante das situações reais propostas.
