AVALIAÇÃO, ENSINO E APRENDIZAGEM DAS CIÊNCIAS[1]
 
 

José Luis P. B. Silva
joseluis@ufba.br

Edilson Fortuna de Moradillo
edilson@ufba.br
Instituto de Química da UFBA
Campus de Ondina
40170-290 Salvador BA
 

Resumo

    Esta comunicação discute a avaliação escolar como um componente intrínseco ao ensino e à aprendizagem. Certos de que o domínio do conhecimento, em geral, e a aprendizagem das ciências, em particular, está na base da busca de caminhos para a transformação social, a avaliação é concebida como uma atividade cotidiana de colaboração entre professores e alunos na busca do conhecimento.

   A avaliação com ênfase na classificação é a forma preponderante na escola, com as conseqüentes altas taxas de reprovação e evasão. A ausência de crítica social faz com que os professores usem a avaliação escolar como instrumento de controle e de discriminação, reproduzindo as relações de exclusão vigentes na sociedade capitalista.


    Vinculada a uma concepção de conhecimento como algo dado, permanente, externo às relações sociais, e a um modelo de ensino/aprendizagem como transmissão/recepção passiva de informações, a avaliação classificatória costuma ser apenas uma verificação de aprendizagem, pois das informações obtidas não se extraem quaisquer conseqüências para o ensino e a melhoria da futura aprendizagem.

    Entendemos as ciências como uma atividade social dentro de um todo relacionado que muda sem cessar, com os homens transformando as coisas ao seu redor e sendo por elas transformado, fazendo a história. Deste ponto de vista, o conhecer está fundamentalmente associado à dinâmica da teia de relações entre sujeito e objeto. O conhecimento se localiza no processo de construção das relações, é a própria dinâmica situada historicamente. 

   Nesta concepção dialética do conhecimento a crítica ocupa lugar central na interação professor-aluno-conhecimento e a avaliação vai se voltar para a dinâmica da criação. Os alunos são atores e autores do aprender a aprender, avançando através do exercício da crítica e da avaliação. Para aprender a aprender é preciso estar em permanente avaliação de aprendizagem, sendo a ação avaliativa mesma avaliada, renovando-se constantemente. Assim, é a própria construção do conhecimento que está em jogo.

    Para que os critérios de avaliação sejam eficazes devem ser construídos coletivamente pelo professor e seus alunos e as informações procedentes da avaliação devem ser coletivamente analisadas de modo a elaborar a crítica da aprendizagem e do ensino praticado, pois, se o ensino não assegura a aprendizagem, tem como função facilitá-la. Como resultado das avaliações tem-se a manutenção ou o redirecionamento do ensino, sempre no sentido de melhorar a aprendizagem dos alunos. A participação do aluno na avaliação escolar é fundamental para apossar-se do seu modo de aprender. 

    As idéias acima resumidas têm sido experimentadas no ensino superior de química pelos autores do trabalho, e fazem parte de nosso esforço no sentido de transformar as relações de poder no interior da universidade. Temos tido relativo sucesso, considerando as limitações estruturais e circunstanciais do trabalho docente universitário. A maior dificuldade consiste no estabelecimento do compromisso dos alunos com a aprendizagem independentemente da atribuição de notas, pois encontram-se fortemente condicionados a estudar para fazer provas. Entretanto, a participação nas discussões aumentou, revelando maior disponibilidade dos alunos para se expor à crítica do grupo.

[1]  Versão modificada de trabalho apresentado no 2o Encontro Latino-Americano de Ensino de Química, Porto Alegre-RS, julho/2000.