Isabel Martins
NUTES / UFRJ
Resumo
O distanciamento entre a pesquisa em ensino de ciências
e a prática de sala de aula tem sido analisado em termos de aspectos
da formação de professores, das relações entre
universidade e escola e do acesso à informações que
comunicam os resultados destas pesquisas (Moreira 1989). Nesta última
perspectiva têm-se discutido também o papel dos espaços
de formação continuada (Cunha e Krasilchik, 2000) e das publicações
científicas (Sanmartí e Azcárate, 1997) enquanto contextos
de divulgação e discussão de resultados de pesquisa.
Em nosso trabalho investigamos quais são e como se dão as
leituras de artigos de pesquisa em ensino de ciências por grupos
de professores em espaços de formação continuada.
Neste trabalho discutimos os resultados de entrevistas individuais realizadas
com professores de ciências, com perfis diferenciados no que diz
respeito à sua experiência profissional (licenciatura em Biologia,
especialização em Educação e mestrado em Ecologia).
A entrevista se organizou através das seguintes perguntas: Quais
são suas visões sobre a pesquisa e sobre pesquisa em Ensino
de Ciências? Como a pesquisa pode contribuir na sua prática
de sala de aula? Quais os contatos do professor de sala de aula com a pesquisa
em Ensino de Ciências? Nossas análises identificam regularidades
nas falas dos professores, que são conceituadas e entendidas com
referência a contextos e ambientes sociais, culturais bem como às
suas trajetórias profissionais (Bardin, 1977). Assim, o objetivo
deste exercício não é "sustentar ter encontrado
o geral e/ou o específico, muito menos respostas universais"
(Lemke 2000), mas de conhecer, descrever e melhor compreender uma
variedade de possibilidades de interações entre professores
e pesquisa, que informarão etapas posteriores de nossas investigações.
A maioria dos entrevistados se referiu à pesquisa como a busca de
respostas através de etapas, pré-determinadas ou não,
e apenas alguns poucos colocaram seu papel de levantar questionamentos.
Segundo os entrevistados, a pesquisa em ensino pode contribuir para a prática
docente se ela se propor a oferecer novas práticas e experiências
para se trabalhar com seus alunos. A falta de infra-estrutura nas escolas
e o fato do pesquisador ser alguém "de fora" da sala de aula são
apontados como dificuldades para o desenvolvimento da pesquisa em ensino.
Uma professora, no entanto, falou dos benefícios advindos de um
olhar distanciado na percepção de situações
que passariam desapercebidas por profissionais imersos na prática
cotidiana. De forma geral, os professores entrevistados informaram possuir
pouco contato sistemático com a pesquisa, descreveram suas condições
de trabalho como fatores limitantes para seu envolvimento em atividades
desta natureza e revelaram um conhecimento limitado sobre as principais
publicações na área de educação em ciências.
Nossas análises que incluem ainda as visões dos professores
acerca da relevância dos temas, da linguagem dos artigos, etc., tentam
compreender as leituras e as percepções dos professores em
articulação com as suas visões e percepções
sobre ensino, com aspectos de sua formação, inicial e permanente.
Bibliografia
Bardin, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições
70, 1977.
Cunha, A.M.O. & Krasilchik, M. A. Formação Continuada de Professores de Ciências: Percepções a Partir de Uma Experiência. 2000. XXVII Reunião Anual da ANPED. São Paulo. 2000.
Lemke, J. Articulating Communities: Sociocultural Perspectives on Science education. 2000 http://academic.brooklyn.cuny.edu/education/jlemke/papers/jrst2000.htm , consultado em 11/08/2001.
Moreira, M. A. O Professor-Pesquisador como Instrumento de Melhoria do Ensino de Ciências. Em Aberto, Brasília, INEP/MEC, n 40, p. 43-54, 1989
Sanmarti, N & Azcárate, C. Reflexiones en Torno a Línea Editorial de La Revista Enseñanza de Las Ciencias. Enseñanza de Las Ciencias , v 15, n 1, p. 3-9, 1997.