AS CIÊNCIAS NO ENSINO MÉDIO E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: DA PROPOSTA À PRÁTICA



Elio Carlos Ricardo*
Programa de Pós-Graduação em Educação – Ensino de Ciências/UFSC
elio_ricardo@hotmail.com

Arden Zylbersztajn
Departamento de Física – UFSC
arden@fsc.ufsc.br

Resumo

    A partir de uma análise crítica da proposta contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, para o Ensino Médio na área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, este trabalho busca verificar a percepção de um grupo de professores que atuam nesse nível de ensino em Florianópolis – Santa Catarina, em relação à dimensão das mudanças apresentadas nesse documento. O trabalho é uma avaliação qualitativa do processo de implementação dos PCNs em uma escola. Em seus aspectos metodológicos a pesquisa utiliza a análise de documentos e entrevistas semi-estruturadas e procura aproximar-se de uma avaliação iluminativa, proposta por Malcom PARLET e David HAMILTON.

    A avaliação iluminativa é mais uma estratégia de pesquisa que uma metodologia padronizada, na qual todos são sujeitos, e que auxilia o avaliador a identificar tanto os pontos relevantes como os pontos críticos em um processo de inovação, onde a realidade entre o programa proposto e o implementado são distintos. Essa busca da compreensão da realidade possibilita ao pesquisador "iluminar" os problemas, fornecendo instrumentos para posterior discussão e tomada de decisões.

    Em relação ao grupo pesquisado constata-se que não há uma leitura dos PCNs em seu todo, prejudicando a compreensão da extensão da proposta e de conceitos como a formação por competências, a interdisciplinaridade, a contextualização e outros. A contextualização é relacionada ao cotidiano, que por sua vez é limitado ao entorno social próximo do aluno, sem transcender para contextos mais gerais. A ausência de listas de conteúdos nos PCNs leva a uma compreensão de que se está "nivelando por baixo" os assuntos a ensinar. Não há uma percepção de que esse ausência é proposital para que haja uma discussão sobre currículo e que o projeto escolar seja elaborado coletivamente em cada escola. Essa impressão também está baseada nos conteúdos dos livros didáticos, que, em função dos custos e da diminuição do número de aulas semanais, é adotado em volume único. Alguns desses livros se apresentam como de acordo com os PCNs, o que é discutível. A interdisciplinaridade, quando mencionada, está centrada no sujeito, ou seja, na mera relação de uma disciplina como os saberes. A compreensão da interdisciplinaridade presente na elaboração e execução de projetos com o objetivo de buscar soluções para situações-problema ainda está ausente na fala dos docentes, assim como a utilização da parte diversificada do currículo como possibilidade de dar uma identidade própria à escola. Também a articulação entre as disciplinas da área das Ciências e suas Tecnologias apresenta poucas inovações.

    Pode-se concluir que, além dos baixos salários e da falta de formação continuada, os professores destacam que a falta de discussão sobre os PCNs e de materiais didático-pedagógicos são as dificuldades encontradas na sua implementação. Há necessidade de formar os docentes e provê-los também de instrumentos teóricos para que possa ocorrer uma reflexão sobre suas práticas e possibilitar mudanças. Não existe uma compreensão do todo da proposta. Portanto, as ações tomadas pelas esferas administrativas dos sistemas de ensino devem considerar tais dificuldades se pretendem a implementação da reforma de ensino presente nos PCNs.

* bolsista CAPES