A TECNOLOGIA COMO EIXO INTEGRADOR DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM CURSOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL ARTICULADOS COM A EDUCAÇÃO BÁSICA
 
 

Cristina Cimarelli Rubega*
 
 

Resumo

    A experiência de trabalhar com dois sistemas educacionais distintos, o Ensino Médio e o Ensino Técnico, vem sendo levada a cabo desde 1998 e implantada definitivamente a partir de 1999, no colégio no qual estamos desenvolvendo este estudo. O processo de reestruturação curricular que estamos coordenando procura desenvolver elementos que possibilitem a elaboração de uma proposta pedagógica que tenha como eixo central a educação do ser humano, cidadão e trabalhador na perspectiva do racionalismo dialético.

    Apesar desses sistemas educacionais terem funções sociais diferenciadas, o conjunto de doutrinas que perpassam as diretrizes curriculares nacionais para os dois sistemas educacionais, tem o mesmo eixo central: o processo de ensino–aprendizagem voltado para o desenvolvimento de competências e habilidades.

    As bases filosóficas e pedagógicas do ensino por competências, vão ao encontro da nova ordem mundial globalizada e da suposta hegemonia ideológica, na concepção de Gramsci (1991), que organiza os hábitos e os significados, impondo a seus seguidores, de uma maneira sutil, formas de organização e de atuação de uma sociedade. Na sociedade onde o conhecimento e as tecnologias de comunicação e informação transformaram-se no principal fator de produção e de acumulação de bens, é de se esperar que muitos conceitos migrem do universo da economia para o da educação, numa visão funcionalista e adaptadora desta última. Noções como as de qualidade, cliente e competência são categorias chave nas empresas capitalistas, mas que na escola possuem significados distintos. A noção de qualidade em educação pressupõe uma educação de excelência, sem barreiras, para todos, comprometida com as expectativas e anseios da sociedade. O protagonista da ação educacional é o ser humano–cidadão, que antecede à de cliente. A noção de competência laboral está relacionada a atividades específicas de determinada função ou posto de trabalho, enquanto que do ponto de vista educacional, competências e habilidades dizem respeito a capacidades cognitivas, psico-motoras e atitudinais, que poderão ser explicitadas ou não, quando frente a situações problema.

    Este trabalho apresenta uma breve análise do resgate da noção de competência, nos últimos anos e do uso indiscriminado desse conceito na elaboração das propostas curriculares tanto para a educação básica como para a educação profissional. Traz, também, uma visão epistemológica do ensino das ciências e das tecnologias, como realidades que não podem ser fragmentadas em sistemas educacionais distintos, mas como conhecimentos que devem ser buscados para elaborar e propor respostas e soluções a problemas inseridos no contexto social, ambiental e econômico do momento, de forma que o estudo das tecnologias, assim como da produção de artefatos tecnológicos nos cursos de técnicos, torne-se efetivamente articulado e integrado aos conhecimentos adquiridos no ensino médio.

    O ensino das ciências no ensino médio integradas ao ensino da tecnologia na formação profissional, apresentada neste estudo, aplica-se para os cursos técnicos realizados pelo estudante concomitantemente na mesma escola. Apesar, da escola considerada oferecer outras modalidades de educação profissional, como cursos técnicos pós-médio, especializações de nível técnico e qualificação básica, o trabalho de instrumentalização científica que é desenvolvido nessas modalidades não será discutido neste trabalho.

(*) Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Coordenadora Pedagógica do  Colégio Técnico de Campinas da UNICAMP.