UMA BOA AULA DE BIOLOGIA: UM ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UM GRUPO DE ALUNOS E PROFESSORES.
 

Maria Helena da Silva Carneiro
mhsilcar@unb.br
Universidade de Brasília
Laboratório pedagógico de ciências

Resumo

    Este trabalho faz parte de um programa de pesquisa que tem como objetivo central o estudo das representações sociais de professores e alunos a respeito do processo de ensino e de aprendizagem de ciências e biologia. Considerando a extensão deste programa apresentaremos apenas os resultados de um dos subprojetos: uma boa aula de biologia.

    Entendemos por representação social um conjunto de fenômenos que não se limita a uma simples opinião, imagem, atitude, estereótipos e crenças. Segundo Moscovici, 1969, trata-se de sistemas sociocognitivos que possuem uma lógica interna própria e uma linguagem particular, teorias orientadas para a compreensão da realidade e que servem de guia para orientar as ações. São, portanto, mais social que as representações estudadas na área da psicologia cognitiva, mais global que os mitos e ideologias estudadas na antropologia e na sociologia. Assim, as representações sociais estão na intersecção do indivíduo e da sociedade, cuja função é de negociar, do ponto de vista sociocognitivo, as múltiplas relações que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade

    Na organização do trabalho pedagógico, o professor está sempre buscando novas abordagens de ensino que visam o desenvolvimento dos conteúdos programáticos de sua disciplina e a melhoria da qualidade de aprendizagem dos alunos. Assim sendo, seria valido questionar quais as representações dos professores a respeito de uma boa aula de biologia? Quais são os atributos de uma boa aula na visão dos docentes? E na visão dos alunos? Quais são os pontos de convergência e de divergência entre os dois grupos sociais? Nesta perspectiva, o objetivo deste estudo foi de identificar e analisar as representações de alunos e professores a respeito de uma boa aula de biologia. Participaram desta pesquisa 30 professores de Biologia e 90 alunos do Ensino Médio do sistema de ensino do Distrito Federal. O levantamento dos dados foi realizado em três partes: em um primeiro momento realizamos um estudo piloto o que possibilitou a reestruturação do questionário e depois, em um segundo momento, aplicamos o questionário a alunos e professores. Para compreender o significado de algumas expressões usadas por professores e alunos realizamos, em um terceiro momento, entrevista semi-estruturada com alguns dos indivíduos envolvidos na pesquisa.

    Os professores apresentaram pelo menos 17 atributos de uma boa aula e os alunos pelo menos 14. Após análise, estes foram distribuídos em três grupos: relativos ao clima emocional do ambiente de aprendizagem, relativos ao aspecto cognitivo da aula e, finalmente, os aspectos relativos à utilização de materiais/elementos ilustrativos. A análise dos dados nos mostra que os atributos apresentados pelos professores estão mais centrados nos aspectos cognitivos da aula, enquanto que os atributos apresentados pelos alunos destacam os aspectos relativos ao clima emocional estabelecido na sala de aula. Este estudo nos mostra ainda, que existe um certo consenso entre professores e alunos a respeito da importância das aulas práticas, pois a grande maioria dos dois grupos cita este tipo de ensino como a melhor forma de ensinar e aprender ciências. A multiplicidade das representações dos alunos nos chama atenção para a necessidade do professor estar sempre variando o seu estilo de ensino e assim, atender, na medida do possível, aos diferentes estilos de aprendizagem dos alunos.