A FÍSICA ESCOLAR IDENTIFICADA POR TRABALHADORES INDUSTRIAIS EM SUAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS

Nilson Marcos Dias Garcia [1]
Departamento Acadêmico de Física/Programa de Pós Graduação em Tecnologia
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Av. Sete de Setembro, 3165 – CEP 80230-901 – Curitiba – Paraná
email: nilson@ppgte.cefetpr.br

Resumo

    Neste trabalho são relatados alguns dos resultados de pesquisa realizada junto a uma fábrica de eletrodomésticos de linha branca (refrigeradores e freezers), com o objetivo principal de identificar os assuntos escolares de Física presentes nas atividades profissionais dos seus trabalhadores [2]. As informações foram obtidas por meio da aplicação de questionários e da realização de entrevistas semi estruturadas junto a funcionários dos diversos segmentos do setor produtivo da Empresa investigada, além de observações feitas durante visitas ao setor produtivo da indústria. Participaram da pesquisa funcionários de recursos humanos, gerentes de produção, engenheiros, supervisores, técnicos, funcionários de manutenção e operadores de máquinas, totalizando trinta e sete pessoas.A análise do material obtido em campo permitiu identificar os assuntos de Física presentes no processo produtivo da Empresa e a intensidade com que os mesmos foram percebidos pelos participantes da pesquisa, além de apontar para alguns elementos que poderiam ser considerados numa reorganização dos assuntos escolares de Física que poderiam ser propostos para o Ensino Médio.
 

Abstract

    In this work are related some results of a research achieved in a factory of appliance (refrigerator and freezer), with the main objective of identifying how the school subjects of Physics in its workers' professional activities are presented. The information were obtained by means of the application of questionnaires and semi structured interviews to the several segments of the productive section of the investigated Company, besides observations done during visits to the productive section of the industry. They participated in the research employees of human resources, production managers, engineers, supervisors, technicians, maintenance employees and operators of machines (thirty seven people). The analysis of the material obtained allowed to identify the present subjects of Physics in the productive process of the Company and the intensity with that the same ones were noticed by the participants of the research, besides also to point for some elements that could be considered in a reorganization of Physics school subjects that could be proposed for the High School.
 

Introdução

    A atividade técnica sempre esteve presente, de modo implícito ou explícito, no contexto social, cultural e econômico da humanidade. É, entretanto, a partir da Revolução Industrial que a técnica, associada à ciência na forma de tecnologia, tornou-se um "trunfo decisivo da competição industrial, da disseminação de novos produtos e de novas formas de comportamento" (Motoyama, 1994 : 13). Principalmente na primeira metade do século XX, novas e significativas descobertas abriram o caminho para o entendimento do átomo e do interior da matéria, conhecimentos estes que, quando começaram a ser aplicados, ensejaram a revolução Técnico-Científica que hoje estamos vivendo e que tem sua base na microeletrônica.

    Hobsbawn (1995), no seu livro Era dos Extremos, particularmente no capítulo 18, caracteriza de maneira bastante clara esse momento, ao colocar que "nenhum período da história foi mais penetrado pelas ciências naturais nem mais dependente delas do que o século XX. Contudo, nenhum período, desde a retratação de Galileu, se sentiu menos à vontade com elas".

    Para ele, há uma diferença significativa entre a "ciência avançada" dos séculos anteriores e a dos atuais, pois, até o final do século XIX, apenas uma pequena gama de aplicações práticas surgiram em função dos desenvolvimentos científicos, aspecto que sofreu mudança radical no século XX, principalmente nas suas últimas décadas.

    Reforçando essa idéia, assim continua Hobsbawn (1995 : 508):

"... por mais esotéricas e incompreensíveis que fossem as inovações da ciência, assim que eram feitas se traduziam quase imediatamente em tecnologias práticas. Assim, os transistores surgiram como um subproduto de pesquisas na física do estado sólido, isto é, as propriedades eletromagnéticas de cristais ligeiramente imperfeitos, em 1948 (...) como aconteceu com os lasers (1960), que vieram não de estudos ópticos, mas de trabalhos para fazer moléculas vibrarem em ressonância com um campo magnético".     Ainda de acordo com ele, ao mesmo tempo em que ocorre a rápida transformação dessa ciência dos laboratórios em produtos tecnológicos, maior e mais rapidamente passa a ser o nosso afastamento do entendimento do funcionamento destes equipamentos. Ao descrever sua visão a respeito da relação entre o cidadão comum deste século e a tecnologia, chama a atenção para o fato de que para "fins práticos" não tem havido exigências de que o indivíduo entenda ou modifique o que está acontecendo no interior de um equipamento de alta tecnologia, pois isto alguém já fez por ele. "Pois, mesmo que nos suponhamos especialistas num ou noutro campo determinado - ou seja, o tipo de pessoa que pode consertar o aparelho se der problema, ou projetá-lo, ou construí-lo -, diante da maioria dos outros produtos diários da ciência e tecnologia somos leigos ignorantes sem compreender nada. E mesmo que não fôssemos, nossa compreensão do que é que faz a coisa que usamos funcionar, e dos princípios por trás dela, é em grande parte irrelevante..." (Hobsbawn, 1995 : 510)     Do mesmo modo que nas revoluções anteriores, além das mudanças na produção industrial propriamente dita, a Revolução Técnico-Científica tem também provocado, principalmente nos dias de hoje, mudanças na organização e nas relações de trabalho. As novas máquinas, carregadas de aplicações decorrentes das novas tecnologias de base microeletrônica, tais como comandos numéricos e operações automatizadas, aliadas às novas formas de organização da produção, características de uma forma de produção mais flexível, como o "Kanban", o "just in time" e as "ilhas de produção", exigem das pessoas, para a obtenção e manutenção de emprego, novos comportamentos e conhecimentos.

    Essa situação faz com que, para formar cidadãos que ao se tornarem trabalhadores apresentem também essas características, torne-se preciso pensar numa escolarização voltada ao desenvolvimento, entre outros, dos princípios gerais das ciências, assim como das suas aplicações. Este tipo de conhecimento poderia evitar o alheamento que se sente quando se tem pela frente, como ferramenta de trabalho, uma máquina que incorpora na sua operação e produção um sem número de novas tecnologias.

    Entretanto, apesar de estarmos presenciando uma significativa participação da ciência na produção tecnológica, principalmente nas últimas décadas do último século, e da Física ser uma das ciências que proporciona uma razoável sustentação a esse desenvolvimento, alguns dos poucos projetos de ensino de Física que procuraram trazer para a sala de aula aspectos mais contemporâneos dessa ciência e que apresentavam características diferenciadoras, quando comparados com as propostas tradicionais de ensino desta disciplina, ou tiveram vida efêmera, ou adoção pouco significativa por parte dos professores [3]. As propostas tradicionais, que normalmente não incluem abordagens que revelem preocupação em contemplar conhecimentos presentes no atual estágio de desenvolvimento tecnológico, apesar de mais utilizadas pelos professores, pouco têm contribuído para diminuir a distância entre o conhecimento escolar e o tecnológico.

    Machado (1996 : 140), abordando essa questão, ao não ver movimentos significativos no sentido de resolver alguns dos problemas ligados à distância entre os novos conhecimentos científicos e tecnológicos e a educação geral, assim pondera:

"Tem-se, portanto, problemas de investigação pedagógica de grande relevância, relacionados aos desafios da conversão do novo saber científico em saber escolar e da nova cultura tecnológica em cultura escolar, quando se sabe que o anterior saber científico e o anterior saber tecnológico mal chegaram à soleira da porta da escola".     Por essas razões, e na expectativa de contribuir para o avanço da interação entre o saber escolar e o saber tecnológico, torna-se interessante identificar conhecimentos de Física que podem estar presentes no processo produtivo, haja vista o sem número de elementos de alta tecnologia que podem estar incorporados às máquinas e equipamentos envolvidos na produção de bens pela indústria.

    Estas preocupações e interesses foram alguns dos elementos motivadores de uma pesquisa desenvolvida ao longo dos anos de 1998 a 2000, que tinha como um de seus objetivos identificar como os conhecimentos escolares de Física se apresentam na atividades profissionais dos trabalhadores de uma indústria de eletrodomésticos de linha branca (geladeiras e freezers).

    A busca de conhecimentos escolares de Física numa indústria e não na escola, longe de representar uma desconsideração pelo local privilegiado de transmissão de conhecimento por ela ocupado, representou uma tentativa de entender a circulação e produção de conhecimento em outros locais que não a escola. Além disso, essa opção se apoiou no pressuposto de que a instituição escolar já estabeleceu, ao longo do tempo e com a sua prática, qual a sua interpretação a respeito do papel dessa disciplina na formação de seus estudantes e quais assuntos já foram selecionados para dar conta desse propósito.

    Nesse sentido, Megid Neto (1990), ao elaborar um estado da arte sobre as pesquisas relacionadas ao ensino de Física no Brasil, já havia chegado à conclusão de que pouca coisa havia mudado na organização dessa disciplina desde a sua implantação, em 1837, com a criação do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, constatações que dão sustentação à nossa opção por investigar outros locais além da escola.
 

A busca de informações

    A pesquisa de campo foi realizada no segundo semestre de 1998 e se desenvolveu como um estudo de caso (Lüdke e André, 1986 : 17; Chizzotti, 1991 : 102). Os contatos e entrevistas previstos no projeto seguiram, aproximadamente, a hierarquia funcional da produção da Empresa. Assim, foram contatados e entrevistados gerentes da produção, supervisores, engenheiros processistas e de produto, técnicos, funcionários da manutenção e operadores, com a finalidade de apreender os conteúdos de Física presentes no processo produtivo sob óticas de diversos atores, que representam interesses e posições da Empresa em diferentes graus, dados os diversos cargos que ocupam na sua hierarquia funcional.

    Os dados da pesquisa foram obtidos através de visitas ao chão da fábrica e da aplicação de questionários e de entrevistas semi-estruturadas realizadas com os funcionários da Empresa. Todos os procedimentos de obtenção de dados foram previamente agendados e aconteceram na própria fábrica, em ambientes relativamente isolados acusticamente e livres de interferências de outras pessoas. As entrevistas foram gravadas e aconteceram nos mais diversos horários, pelo fato de a Empresa trabalhar em turnos. Basicamente, buscou-se informações sobre:

    O questionário, por ser extenso e exigir esforço de memória para que fossem estabelecidas as relações entre o conhecimento escolar do funcionário e o que acontecia na sua atividade profissional, era entregue ao respondente em média uma semana antes da realização da entrevista, o que lhe permitia melhores condições de respondê-lo. Neste, era possível a indicação de assuntos escolares de Física tanto a partir da memória do respondente quanto a partir do auxílio de uma lista desses assuntos.

    As entrevistas, por sua vez, além de outras questões, buscavam também a identificação de assuntos de Física presentes no exercício de sua função na indústria, e permitiam um melhor detalhamento de algumas das informações anteriores.

    As análises desses dois instrumentos foram conduzidas de forma a explicitar:

    Ao final do trabalho de campo, haviam sido mantidos contatos com trinta e sete funcionários, realizadas trinta e seis entrevistas e aplicados trinta e dois questionários, assim distribuídos: Os assuntos de Física

       As análises permitiram verificar como os funcionários da Empresa pesquisada percebem a presença de assuntos de Física em suas atividades profissionais. Para efeitos de organização dos resultados, os assuntos identificados foram classificados em quatro grupos:

    Os assuntos do primeiro grupo, aqueles que estavam presentes nas atividades profissionais e foram lembrados pelos funcionários, são os que, no contexto da disciplina escolar (Física) podem ser considerados básicos. Foram os mais citados, tanto quando se solicitava apenas a lembrança dos funcionários quanto quando a identificação era estimulada por uma listagem de assuntos. Em sua grande maioria, descrevem aspectos macroscópicos da natureza. A respeito deles podemos dizer que são apresentados, na maior parte dos livros didáticos de Física para serem desenvolvidos de maneira tradicional, isto é, sem procurar estabelecer relações significativas entre os conceitos e suas aplicações. Além disso, sua posição na maior parte dos livros textos, em geral nos primeiros capítulos [4], aliada ao fato de que não envolvem muita complexidade no seu desenvolvimento, possibilita que eles sejam ministrados, usualmente, tanto em cursos regulares como supletivos. Em outras palavras, pode-se supor que "todos os alunos vêem esses assuntos na escola".

    Essa situação possivelmente contribuiu para o alto índice de lembrança registrado para esses assuntos em nossa pesquisa, pois possibilitou que os participantes, enquanto alunos, com eles tivessem contato, ficando potencialmente propícios a lhes atribuírem significados. Segundo se entende, isso favoreceu que os participantes, quando solicitados, relacionassem os seus conhecimentos escolares de Física com as suas atividades profissionais.

    Além disso, assim como os assuntos anteriormente citados estão presentes no ambiente escolar, os aspectos físicos a eles associados também estão presentes no processo produtivo industrial, tanto da Empresa investigada quanto de outras indústrias. Conforme se pode observar e constatar nas entrevistas, não há indústria que não tenha equipamentos ou máquinas que se relacionam, em maior ou menor proporção a movimento, calor, motores, redes pressurizadas, ruídos, etc.

    Portanto, os assuntos indicados, e que são listados a seguir, correspondem àqueles que fazem parte da produção industrial e que estavam sendo vivenciados pelos participantes da pesquisa.

Assuntos constituintes do primeiro grupo


 
Divisões da Física
Assuntos
Mecânica Introdução à Física
  Cinemática
  Leis de Newton (1ª e 3ª)
  2ª lei de Newton
  Conservação de energia
  Movimento curvo e rotações
  Hidrostática
   
Termologia Temperatura
  Termodinâmica
  Dilatação
  Transmissão de calor
  Máquinas térmicas
  Mudanças de estados da matéria
  Estado gasoso
  Estado líquido
   
Eletricidade Carga elétrica
  Potencial elétrico
  Corrente elétrica nos metais
  Ação térmica da corrente elétrica
  Capacitores
  Corrente alternada e contínua
   
  Ferramentas e mecanismos
  Acústica

    O mesmo não acontece, entretanto, com o segundo grupo de assuntos. É possível inferir que, para muitos respondentes, o acesso a eles aconteceu no interior da própria fábrica, com pouca participação da escola.

    Conforme se verificou, esse assuntos são estreitamente ligados à atividade profissional mais específica dos funcionários. Não são aqueles anteriormente considerados básicos, já que a maior parte dos livros didáticos atuais, fonte principal de referência do que é proposto para ser ministrado nas aulas, não os traz como assuntos escolares. Estão, entretanto, presentes em manuais técnicos, em livros especializados voltados para cursos técnicos e de engenharia, assim como em livros mais antigos de Física. [5]

    O fato desses assuntos, listados a seguir, terem sido considerados como conhecimentos de Física, inclusive por parte de entrevistados que a eles não tiveram acesso enquanto alunos da escola formal, é um indicativo de que há, nos processos produtivos industriais, um conjunto significativo de conhecimentos de Física, reconhecidos como tais pelos trabalhadores, mas que não têm sido tomados como assuntos a serem ensinados nas escolas.


Assuntos lembrados mas usualmente não propostos


 
análise dimensional, estudos de tempo, 
método científico
ferramentas e mecanismos
pneumática, vasos pressurizados, vazão, 
hidráulica, viscosidade, fluidos, 
pressão hidráulica, válvulas hidráulicas
impacto
termopar
revestimentos térmicos, isolação, efeito estufa
estrutura e propriedade da matéria, reologia
tração e compressão, cisalhamento, rugosidade
pintura eletrostática, gaiola de Faraday
solenóides, disjuntores, relés, contatores 
diferença de potencial e oxidação
vibrações
diodos, laser, radiações

    Os assuntos escolares relacionados no terceiro grupo foram assim agrupados pelo fato de serem propostos para o Ensino Médio, estarem presentes nas atividades profissionais dos participantes e não terem sido por eles identificados. Estes assuntos, apesar de serem característicos do parque industrial e do processo de produção da Empresa passaram desapercebidos da maior parcela dos participantes, como se deles estivessem ocultos, quer seja por estarem invisíveis aos olhos, por estarem no interior das máquinas ou de algum dispositivo, quer seja por estarem invisíveis ao entendimento por falta de conhecimento.

    Os dados da pesquisa permitiram verificar, entretanto, que essa "invisibilidade" foi rompida, em princípio, por funcionários que atendiam a duas condições: um certo grau de escolaridade e uma grande experiência no trato com as máquinas da Empresa. Esta observação pode ser feita pelo fato de que os supervisores, engenheiros de processo e produto e funcionários de manutenção, foram os respondentes que mais indicaram os assuntos em questão. Os técnicos e os operadores, que por vezes não conseguem apresentar nenhuma das duas condições, registraram baixa percepção desses assuntos.

    É possível perceber, pela análise de diversos livros didáticos, que na distribuição ao longo da disciplina de Física, esses assuntos ocupam uma posição quase que oposta à daqueles integrantes do primeiro grupo, sendo deixados para serem abordados nos finais do ano ou do período letivo, o que pode implicar em sua simples supressão por falta de tempo. Essa condição impede que se estabeleça qualquer relação entre o que acontece na máquina e o conceito de Física que nela está sendo aplicado, pois não havendo acesso a estes conhecimentos, como se acredita, não haverá condição de estabelecimento de significado. Ou, em outras palavras, fato que também remete à questão da aprendizagem, se não se aprende um conceito ou um determinado assunto, como será possível identificá-lo em sua aplicação?

    Além disso, nesse mesmo grupo, há assuntos que nem são propostos nos livros didáticos, incluindo-se ai os mais contemporâneos, relacionados com os avanços mais recentes da ciência, inclusive alguns daqueles que determinaram os progressos tecnológicos atuais e que contribuíram para a chamada Terceira Revolução Industrial, tais como diodos, transistores, fibras óticas, células fotoelétricas, por exemplo. Exatamente pela importância que esses assuntos podem desempenhar, tanto na formação profissional dos trabalhadores como na possibilidade de a eles permitir o entendimento do seu próprio trabalho, entende-se que também esses assuntos, mesmo não sendo por eles percebidos, são dados que indicam haver nos processos produtivos industriais, um conjunto significativo de conhecimentos de Física, (reconhecidos como tais pelos trabalhadores), mas que não se constituem como assuntos escolares.

Assuntos presentes no processo produtivo mas não identificados pelos respondentes


 
Materiais transparentes, translúcidos e opacos
Reflexão, refração e absorção
Oscilações elásticas
Vibrações mecânicas
Ressonância mecânica
Aplicações técnicas da eletrólise (zincagem, cromagem, galvanoplastia)
Corrosão eletroquímica
Ação do campo magnético sobre condutores
Eletroímã
Funcionamento e construção de voltímetros e amperímetros
Campo magnético em um solenóide
Iluminação (leis e aplicações)
Força eletromotriz
O transformador
Correntes de Foucault
Células fotoelétricas
Aplicações de células fotoelétricas
Campo elétrico de cargas puntuais
Comportamento de um condutor eletrizado
Rigidez dielétrica - Poder das pontas
Lâmpadas de descarga (fluorescentes, lâmpadas de vapor de mercúrio, de sódio)
Diodo semicondutor
Transistor
Magnetismo
Ímãs
Polos magnéticos de um ímã
Campo eletromagnético
Micro informática e computadores
Robôs industriais
Fibras óticas

    Finalmente, com relação aos assuntos do quarto grupo, observa-se que eles não estão presentes nas atividades produtivas da Empresa e também não foram indicados pelos participantes da pesquisa. Sobre eles interessa tecer algumas considerações pelo fato de estarem quase sempre presentes nos livros didáticos de Física e a maior parte dos alunos, independentemente de sua futura atuação profissional a eles poderão ter algum acesso enquanto estudantes.

    Dentre esses assuntos foram identificados, por exemplo, ótica geométrica, quantidade de movimento, magnetismo, ondulatória, vetores, gravitação universal. Além desses, há também os que são propostos mas não ministrados e aqueles que nem chegam a ser propostos na maior parte dos livros didáticos, tais como radiações e espectros, propriedades ondulatórias da luz, propriedades quânticas das radiações.

    A respeito da sua inclusão como componente curricular, é interessante a ponderação feita por um operador, transcrita abaixo, que pode servir como uma justificativa para uma profunda reflexão a respeito do significado e finalidade de alguns dos assuntos escolares de Física:

OP12. Eu acredito que ai é o conhecimento que você tem na escola e que você vai utilizar em um crescimento escolar. Vamos colocar assim, pegando toda essa outra parte da Física no 2o grau, e eu vou prosseguir ainda como estudante, eu vou na faculdade, eu vou na pós graduação e vou estar estudando no decorrer da minha vida, então por mais que ela seja ... não seja utilizada, essa outra parte da Física, mas ela vai, eu vou, cada vez que eu vou estar subindo um degrau, no caso, na escola, eu vou ter que estar utilizando ela porque vão perguntar para mim nos próximos cursos, sobre ela, então se eu simplesmente menosprezar ela, achar que ela deve de ser retirada do currículo escolar e somente direcionada para quem vai para um determinado lugar, ai eu vou estar sendo incoerente, porque ela vai ser solicitada e eu vou ter que aprender, vou ter que dar uma resposta na frente, mesmo que eu não esteja utilizando, e como conhecimento geral, você nunca vai estar digamos numa possível conversa, você não vai estar alienado nessa matéria.
 
    Sintetizando as observações realizadas durante o processo de investigação, pode-se constatar que:     Essas constatações conduziram à identificação dos espaços em que ocorre a circulação do conhecimento de Física e à percepção da importância da aprendizagem dos princípios dessa disciplina para o entendimento, pelos funcionários, do funcionamento das máquinas e dispositivos presentes no processo produtivo da Empresa. Além disso, forneceram subsídios para uma análise de qual Física deva ser ensinada aos alunos, futuros trabalhadores, e de onde e como ocorre essa aprendizagem, análise esta que poderá oferecer elementos para futuras reorganizações de assuntos escolares de Física.

Bibliografia

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[1] Professor do DAFIS e do PPGTE do CEFET-PR, com Mestrado em Ensino de Física (IF/FE-USP) e Doutorado em Educação (FEUSP).
[2] A pesquisa completa faz parte da tese de doutorado do autor, denominada “Física escolar, ciência e novas tecnologias de produção: o desafio da aproximação”, defendida em dezembro de 2000 junto a FEUSP, sob orientação da profa. Dra. Carmen Sylvia Vidigal Moraes.
[3] Como exemplo desses projetos, podemos citar o PSSC, o FAI e o PEF, que exerceram influências sobre o ensino de Física, principalmente sobre a elaboração de alguns livros didáticos. Mais recente e ainda em aplicação, merece ser ressaltado o trabalho do GREF. Sobre algumas dessas questões são interessantes os trabalhos de Megid Neto (1990), Carvalho (1996), Megid Neto e Pacheco (1998) e Moreira (2000).
[4] Essa informação foi obtida pela análise dos livros didáticos usualmente adotados para o Ensino Médio e da forma de abordagem normalmente proposta.
[5] Dentre alguns desses livros citamos: Física para o ensino técnico especializado, de Jdanov e Jdanov (técnico); Física, dos Irmãos Maristas, da FTD (antigo) e os Manuais de Mecânica do Telecurso 2000 (técnico).