ENSINANDO CIÊNCIAS NATURAIS NUMA PERSPECTIVA DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA[1]


Daniela Corrêa da Rosa[2]

Eduardo Adolfo Terrazzan[3]
Núcleo de Educação em Ciências, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria
Campus Universitário Camobi, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil


Resumo

    As pessoas carecem de uma alfabetização que as possibilitem agir frente aos avanços tecnológicos, como entender sua utilização e linguagens. A ciência e a tecnologia são meias de ação que detêm poder transformador. Uma pessoa pode considerar-se alfabetizada quando consegue entender notícias com conteúdo científico, quando consegue compreender e omitir opiniões sobre textos que abordam questões, por exemplo, ligadas à genética, ou ao buraco da camada de ozônio, ou seja, quando consegue entender minimamente informações científicas. Mas o que entendemos efetivamente por "Alfabetização Científico-Tecnológica?" Alfabetização Científico-Tecnológica é um processo que possibilita aos alunos desenvolverem competências, capacidades e habilidades em termos do domínio da linguagem científica e dos processos tecnológica para uso crítico, consciente, ético e transformador na sua vivência cotidiana em sociedade. O objetivo geral deste estudo é de investigar, no processo educativo, a possibilidade de se desenvolver alfabetização científico-tecnológica, no que se refere a temática Poluição Ambiental; a partir do uso de Textos de Divulgação Científica. A proposta de trabalho aponta para a importância dos Textos de Divulgação Científica, em específico os textos da Revista Ciência Hoje das Crianças, para abordar conceitos científicos em duas turmas de quarta séries, tendo por base a importância de se ensinar Ciências para crianças em idades entre 6 e 12 anos de idade, a necessidade de se ensinar Ciências para crianças e, a possibilidade de ensinar conteúdos de Ciências nas Séries Iniciais.



Summary

    The people lack of a literacy that enable them act front to the technological advances, how to understand your utilization and languages. The science and the technology are action stockings that detain can transformer. A person can consider literate when it manages to understand news with scientific content, when it manages to comprehend and to omit opinions about texts that board matters, for example, tied to genetics, or to the ozone layer hole, or be, when it manages to understand minimum scientific information. But do that understand indeed for "Scientific-technological Literacy?" Scientific-technological literacy is a process that enables to the students develop competencies, capacities and abilities in domain scientific language terms and of the technological processes for critical, aware use, ethic and transformer in your everyday existence in society. The general goal of this study belongs of investigating, in the educational process, the possibility of if it develops scientific-technological literacy, with regard to thematic Environmental Pollution; from the Texts Scientific Divulgement use. The work proposal points for Text’s Scientific Divulgement importance, in specific the Magazine Science texts Today of the Children, to board scientific concepts in two groups of 4th series, having for base the importance of if it teaches Sciences for children in ages between 6 and 12 years old, the need to if it teaches Sciences for children and, the possibility to teach Sciences contents in the Initial Series.


Introdução

    Para Paulo Freire alfabetizar-se não é repetir palavras, mas dizer as palavras que compõe sua cultura. Alfabetizar-se significa ler estas palavras. A palavra abre caminho para o diálogo, para a expressão do mundo.

    Alfabetizar-se é condição para o uso da palavra, para a decodificação. Através da decodificação, os indivíduos se descobrem como sujeitos históricos que interferem no mundo do qual fazem parte, emitindo julgamentos e juízos.

    No dicionário Básico da Língua Portuguesa (Aurélio) a palavra "Alfabetização" se caracteriza pela ação de alfabetizar, de propagar o ensino da leitura; "Alfabetizar" significa ensinar a ler, dar instrução primária; "Alfabetizado" é aquele que sabe ler. "Ciência" significa o processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza visando à dominação dela em próprio benefício. "Tecnologia" se caracteriza por um conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos que se aplica a um determinado ramo de atividade.

    O que se entende então por "Alfabetização Científico-Tecnológica?" De acordo com CHASSOT (2000) alfabetização científica é uma forma de linguagem para tornar possível ao homem a compreensão do mundo. A associação do científico com o tecnológico neste trabalho demonstra uma preocupação em alfabetizar para que o homem adquira instrução e saiba fazer uso desta para determinadas atividades.

    As pessoas carecem de uma alfabetização que os possibilitem agir frente aos avanços tecnológicos, como entender sua utilização e linguagens. as transformações que ocorreram no mundo neste último século mesmo no Brasil, um país em desenvolvimento, as tecnologias já estão presentes no cotidiano das pessoas.

    A forma para democratizar este desenvolvimento é a construção dos conhecimentos necessários a sobrevivência deste indivíduo neste sociedade em constante transformação em termos de avanços tecnológicos.

    Do ponto de vista de NARDI (1998) a ciência constitui a forma mais eficiente de gerar conhecimento significativo no âmbito das sociedades contemporâneas. A Ciência e a tecnologia constituem realidades por demais presentes, qualquer aparelho eletrodoméstico reúne conhecimentos científicos articulado a soluções técnicas.

    A ciência e a tecnologia são meios de ação de poder transformador, a Filosofia orienta sobre quais valores devem orientar a pesquisa humana no campo científico e tecnológico.

    A Ciência é descoberta progressiva de relações objetivas da realidade, o conhecimento científico pode ser alcançado por estudiosos que usem os mesmos dados, métodos e sistemáticas ao nível descritivo, de longo alcance, além dos sentidos humanos.

    De acordo com HAZEN & TREFIL (1993, p. 12,) a alfabetização científica significa ter conhecimento necessário para entender os debates públicos sobre questões da ciência e da tecnologia. Ou seja: é um misto de fatos, vocabulário, conceitos, história e filosofia. Não se trata do discurso de especialistas, mas do conhecimento mais genérico e menos formal utilizado nas discussões políticas.

    Uma pessoa pode considerar-se alfabetizada quando consegue entender notícias com conteúdo científico, quando consegue compreender e omitir opiniões sobre textos que abordam questões, por exemplo, ligadas a genética, ou ao buraco da camada de ozônio, ou seja, quando consegue entender minimamente informações científicas.

    Na perspectiva do Movimento Ciência Tecnologia e Sociedade – CTS, A ciência para todos, significa que esta seja útil para todos os futuros cidadãos, independente dos estudos que pretendam seguir posteriormente, os conhecimentos e habilidades requeridas nos futuros estudos acadêmicos e, nos conteúdos CTS, cujos critérios de seleção buscam ajustar-se aos interesses e motivações dos estudantes aos quais vão dirigindo suas necessidades como futuros cidadãos.

    Necessidades que supõe compreender, a partir dos conceitos e teorias da ciência, o mundo físico e tecnológico que os rodeia, seu próprio corpo e o planeta onde vive, como serem capazes de resolver problemas práticos em sua vida cotidiana e profissional, saber formar uma opinião sobre fatos sociais e tecnológicos de caráter científico, saber argumentar com base nos fatos, saber escutar e julgar os argumentos dos outros e, saber atuar em conseqüência destes.

    A nossa concepção de Alfabetização Científico-Tecnológica é de que esta faz parte de um processo que possibilita aos alunos desenvolverem competências, capacidades e habilidades em termos do domínio da linguagem científica e dos processos tecnológica para uso crítico, consciente, ético e transformador na sua vivência cotidiana em sociedade. Ou seja, proporciona aos alunos o aprendizado dos conceitos científicos que condicionam o exercer de sua cidadania numa sociedade tecnológica. Uma pessoa pode ser considerada cientificamente alfabetizada quando consegue entender notícias de conteúdo científico. Por exemplo, hoje em dia, diríamos que um cidadão culto, alfabetizado cientificamente, deve ser capaz de acompanhar e participar ativamente de debates sobre questões sociais envolvendo conhecimentos científicos divulgadas pela mídia; deve ser capaz de compreender e emitir opiniões sobre textos que abordam questões polêmicas, como aquelas à ligadas à engenharia genética e à variação do buraco da camada de ozônio.

    Pode-se dizer que a alfabetização científico-tecnológica caracteriza-se pela (re)construção de conhecimentos a partir da exploração de um tema, associando a esta exploração os conhecimentos que os alunos possuem em relação ao mundo que os rodeia.


A perspectiva do trabalho com alfabetização científico-tecnológica

    Importância de se alfabetizar numa perspectiva científico-tecnológica

    O fato do professor (a) de Séries Iniciais do Ensino Fundamental ser o responsável pelo trabalho pedagógico em diversas áreas o professor trabalhar com diversas áreas do saber (Matemática, Ciências Naturais, Português, Estudos Sociais e Artes, entre outras), têm trazido problemas para sua prática docente, sobretudo no que se refere a domínio dos conteúdos conceituais básicos de cada uma destas áreas do saber. Isto tem prejudicado fortemente o ensino neste nível de escolarização da Educação Básica. Em particular a qualidade dos programas propostos e das atividades desenvolvidas no Ensino de Ciências Naturais têm sido sofrível.

    Os conteúdos de Ciências Naturais acabam por ser trabalhados, em sua maioria, de forma reduzida, em termos do tempo destinado a cada atividade e da quantidade de momentos específicos destinados a discussões sobre cada assunto. Este contexto tem dificultado a ocorrência de quantidade de práticas pedagógicas que busquem implementar no nosso Ensino Fundamental o processo de Alfabetização Científico-Tecnológica dos alunos.

    As perspectivas para melhorar o ensino de Ciências remontam desde os anos setenta, nos EUA. No Brasil, o movimento relativo ao ensino de Ciências iniciou com o IBECC (Instituto Brasileiro de Ciências e Cultura) depois com a FUNBEC (Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências) com a meta de superar as deficiências existentes no Ensino de Ciências. (Myriam Krasilchick,1992).

    O processo educativo deve formar nos alunos a capacidade de utilização crítica dos conteúdos aprendidos, a partir do estabelecimento de relações entre estes conteúdos e a sua vivência cotidiana.

    Partimos do pressuposto de que a construção do conhecimento envolve formulações de hipóteses, resultantes da interação dos alunos com os objetos de conhecimento.

    Acreditamos também ser possível trabalhar Educação em Ciências nas Séries Iniciais, visto que, as crianças na faixa etária entre seis e doze anos já possuem uma capacidade de compreensão, do ponto de vista cognitivo, no que se refere a noções científicas relativas a fenômenos naturais e "fatos tecnológicos" que estão ao seu redor.

    De acordo com HARLEN (1993, p. 28-29) a contribuição das ciências para as Séries Iniciais, foi pontuada numa discussão que surgiu numa reunião da UNESCO, em 1983:

    A importância da Educação em Ciências para crianças reside no fato de as Ciências enquanto área do saber sistematizado que possibilita aos alunos desenvolverem conhecimentos que os permitirá pensarem sobre o que os rodeia intervindo/agindo de forma consciente na sociedade da qual fazem parte.

    Um cidadão instruído em ciências é capaz de compreender conceitos e, de usá-los para fins tanto próprios quanto científicos. A instrução científica engloba não só a Ciência, como também a Matemática e a tecnologia.

    A organização do conhecimento a partir do conhecimento cotidiano dos alunos se constitui em uma alternativa para o Ensino de Ciências. Torna-se necessário uma reformulação dos programas de Ciências para crianças, buscando eliminar conteúdos desnecessários e, incluindo outros que propiciem a participação dos alunos na busca pela (re) elaboração dos saberes que os instrumentalizem para entender ciências e tecnologia, bem como a produzir Ciência e tecnologia.

    Torna-se fundamental ressaltar que um ensino que possibilite a participação ativa dos alunos, numa perspectiva de (re) construção dos saberes leve em consideração as concepções próprias dos alunos ou as concepções alternativas (SANTOS, 1991).

    As concepções alternativas são representações que cada indivíduo faz do mundo e de Sua maneira de ver o mundo. Um grupo de crianças frente a um mesmo acontecimento sente naturalmente necessidade de explicá-lo, mas não se detém nos mesmos pontos. As concepções alternativas que cada criança constrói espontaneamente.

    Um outro ponto de vista com relação às idéias próprias dos alunos é, apresentado por GIORDAN (1996), segundo este autor as idéias podem surgir em forma de questionamentos e estes por vezes podem apresentar-se como que desprovidos de interesse científico, são artificiais, é necessário não se deter numa primeira análise em relação aos questionamentos dos estudantes e sim os fazendo evoluírem, visando a formulação de um problema científico.

    O professor se configura como decodificador dos conceitos trabalhados através de questionamentos levantados pelos estudantes. Alguns professores argumentam que os alunos não fazem perguntas, isto se deve ao fato de os próprios professores não direcionarem os quanto a elaboração de hipóteses que buscam soluções para o problema a se resolvido, sendo que um problema científico é construído de forma progressiva. Então como transformar a surpresa em questionamento?

    É necessário gerar uma situação que funcione como ponto de partida motivando os estudantes, que se configure em confronto em relação a certas concepções. Esta situação inicial pode partir de uma concepção prévia dos estudantes, a qual será o ponto de partida para a discussão de uma questão e, conseqüentemente para a formulação de um problema científico. O importante é que esta situação de motivação transcenda para uma curiosidade "ativa". (1996, p.168).

    Os questionamentos são, portanto, fundamentais na construção do saber, visto que, é através destes que os estudantes extraem as informações para construção do conhecimento.


    A necessidade da alfabetização científico tecnológica nas séries iniciais

    A Educação em Ciências nas Séries Iniciais possibilita a crianças o conhecimento de mundo, sendo que quando digo mundo, não estou fazendo referência apenas ao mundo natural. A Educação em Ciências proporciona a capacidade de ler, escrever e expressar-se, a estabelecer relações entre fatos.

    As Séries Iniciais se Caracterizam por ser um nível de ensino em que o professor trabalha com praticamente todas as áreas do saber (Matemática, Ciências Naturais, Português, Estudos Sociais, Educação artística, incluindo a Educação Física), ou seja, o professor de Séries Iniciais é um professor polivalente.

    A conseqüência direta desta polivalência tem seu reflexo no Ensino de Ciências na prática escolar. Os conteúdos são trabalhos de forma reduzida tendo como base teórica o livro didático, sendo que os conteúdos em sua maioria se restringem a práticas experimentais, o professor se apóia nas experimentações, tenta camuflar a deficiência na sua formação acadêmica, em geral pedagogos, para facilitar tanto o seu trabalho, quanto a suposta aprendizagem dos alunos.

    De acordo com XAVIER (1997) o planejamento para as práticas de ensino nas Séries Iniciais, deve levar em conta o contexto histórico da realidade escolar a que se destinam os planejamentos didático-pedagógicos. Isto exige uma postura de investigação durante a elaboração deste trabalho. Esta postura se delineia a partir do momento em que a investigadora inicia sua participação na instituição escolar, na forma de ouvinte, de observadora da prática pedagógica de sala de aula.

    Acredita-se que o processo de aquisição do conhecimento ocorre a partir da linguagem em suas múltiplas modalidades, o conhecimento físico e o lógico-matemático não são inatos nem adquiridos por transmissão, dependem da interação entre sujeito e objeto do conhecimento, como também da mediação do professor.

    O ato de descobrir a realidade exterior e a possibilidade de ação sobre esta realidade é uma atividade prazerosa para a criança, visto que é a sua ligação com o mundo, o conhecimento para a criança é o seu nascimento para o mundo que a rodeia, sendo as ciências o meio para a descoberta, para a reelaboração começando pela descoberta da linguagem, dos nomes que o homem atribui aos fenômenos (princípio da significação).

    A educação em Ciências se caracteriza pela alfabetização científica, tecnológica, a qual compreende o entendimento de que ao longo dos tempos o homem produziu e reproduziu meios para sua sobrevivência, bem como, suas relações sociais, culturais e com a natureza. Para isso criou novas tecnologias, como por exemplo, o computador.

    Atualmente existem formas variadas de se obter o conhecimento, mas quase todas se utilizam da tecnologia. Alfabetização hoje se caracteriza por uma interpretação-ação crítica frente as tecnologias de comunicação (oral, visual e escrita) e, não mais se restringe ao simples ato de ler e escrever.

    Do ponto de vista de HARLEN (1989, p. 200-2001) as crianças já possuem o pensamento operativo (Piaget), no princípio restringem-se à ações com as quais as crianças estejam familiarizadas e, que implicam em objetos concretos, reais. Os avanços que as crianças nesta idade possuem são:

    Mas as crianças nesta idade possuem algumas limitações:     A escola é a instituição que detém o poder de instrumentalizar os indivíduos para que estes possam produzir e se utilizar destes avanços, para isso é necessário que a escola e, em específico o professor trabalhe numa perspectiva de democratica e autônoma. A alfabetização científica significa ter conhecimento necessário para entender os debates públicos sobre questões da ciência e da tecnologia. Ou seja: é um misto de fatos, vocabulário, conceitos, história e filosofia. Não se trata do discurso de especialistas, mas do conhecimento mais genérico e menos formal utilizado nas discussões políticas. (HAZEN & TREFIL (p. 12, 1993)     A educação tecnológica precisa compreender a educação geral dos cidadãos, a educação tecnológica precisa fazer parte da educação de todo o cidadão para que este possa interagir com a sociedade contemporânea.


Desenvolvimento do trabalho

    As transformações que ocorreram no mundo neste último século mesmo no Brasil, um pais em desenvolvimento, as tecnologias já estão presentes no cotidiano das pessoas. Uma das formas para democratizar este desenvolvimento é a construção dos conhecimentos necessários a sobrevivência deste indivíduo neste sociedade em constante transformação em termos de avanços tecnológicos.

    A investigação quanto à importância, a necessidade e, a possibilidade de se trabalhar noções e conceitos científicos, referentes à área de Ciências Naturais com crianças de Séries Iniciais, caminha junto com o desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas de Ciências Naturais, nas quais procura-se analisar o aprendizado das crianças através de suas produções textuais a partir do que assimilaram do conteúdo estudado.

    O objetivo geral deste estudo é de investigar, no processo educativo, possibilidades de se trabalhar com o ensino de Ciências Naturais numa perspectiva de alfabetização científico-tecnológica nas Séries Iniciais, mediante o uso de Textos de Divulgação Científica para abordar a temática Poluição Ambiental.

    A partir do referencial teórico comentado neste trabalho partimos para a implementação do que acreditamos ser a Educação em Ciências Naturais nas Séries Iniciais a partir de uma perspectiva de alfabetização científico-tecnológica.

    A proposta de trabalho aponta para a importância dos Textos de Divulgação Científica, em específico os textos da Revista Ciência Hoje das Crianças, para trabalhar com conceitos científicos em duas turmas de quarta séries, tendo por base os pressupostos mencionados no decorrer deste texto, ou seja, a importância de se ensinar Ciências para crianças em idades entre 6 e 12 anos de idade (Séries Iniciais), a necessidade de se ensinar Ciências para crianças e, a possibilidade de ensinar conteúdos de Ciências nas Séries Iniciais, uma vez que se caracterizam por uma transposição didática do conhecimento científico, bem como a capacidade das crianças em compreender estes conhecimentos sistematizados. Antes porém, da implementação das atividades, houve um período de observações das turmas de 4ª séries, durante o qual procuramos nos inteirar da realidade que pretendíamos estudar.

    As atividades didático-pedagógicas (consisti no trabalho com os Textos na sala de aula) foram organizadas segundo a Temática Poluição Ambiental e subdividida em núcleos conceituais mais específicos. Num período que se estendeu entre os meses de setembro a dezembro de 2000, correspondendo ao terceiro trimestre do ano letivo escolar.

    O trabalho de implementação do Módulo Didático( nome dado ao modo como se organiza a estruturação dos temas/conteúdos correspondentes a uma temática) se constituiu numa tentativa de superar a fragmentação existente no Ensino de Ciências. A estruturação do Módulo ocorreu após análise dos conteúdos conceituais contidos no Programa curricular da Escola, na qual as atividades foram implementadas e, da seleção e elaboração de Blocos Temáticos a partir dos Textos das Revistas Ciência Hoje das Crianças.

    Os Blocos Temáticos consistem num bloco de assuntos relacionados a Temática Poluição Ambiental, organizados em conjuntos, que ao nosso ver, estruturam o trabalho com os textos numa seqüência a ser seguida, pelo professor no desenvolvimento da temática.

    As atividades didático-pedagógicas, caracterizadas pela utilização de Textos de Divulgação Científica, seguem como proposição metodológica os Três Momentos Pedagógicos (DELIZOICOV & ANGOTTI,1991), que se caracterizam por: Problematização Inicial, Organização do Conhecimento e Aplicação do Conhecimento.

    Os Três Momentos Pedagógicos oportunizam espaço para o trabalho coletivo, para o surgimento de conflitos/confrontos de idéias, bem como, para a busca de soluções dos mesmos, com vistas à (re)construção de saberes sistematizados por parte dos alunos. Segundo os proponentes desta abordagem:

Num primeiro momento o aluno está com a palavra; ou seja, o professor ouve o que o aluno tem a dizer sobre o assunto: tanto sua maneira de entender o conteúdo, como também a sua experiência de vida. Um segundo momento no qual, a partir da colocação dos alunos através de atividades, o professor ensina um conteúdo novo à classe. Um terceiro momento, no qual o aluno é estimulado a aplicar este conhecimento a uma situação nova, ou a explicá-lo com suas próprias palavras, ou elaborar um trabalho qualquer, retrabalhando o que aprendeu, apropriando-se do conhecimento adquirido. (DELIZOICOV e ANGOTTI, 1994, p.128)     A nosso ver, este modelo proporciona aos alunos atuarem de modo ativo e crítico diante dos fenômenos naturais e/ou em situações problematizadas a partir do nosso cotidiano.


Comentários finais

    As propostas de reforma que vêm de longa data pensam a utilização da tecnologia em aula. Interessa-nos aqui, neste trabalho, analisar o sentido da utilização de Textos de Divulgação Científica para a promoção da alfabetização científico-tecnológica, visto que consideramos o processo educativo como um processo de incorporação de novas formas de compreensão e adequação para a sociedade.

    Interessava-nos analisar a qualidade do ensino de ciências que conseguimos propor através do uso de textos, no sentido destes abrirem as portas para a compreensão das modernas tecnologias que são pertinentes ao sistema escolar como um todo.

    Buscamos com esse trabalho explicitar a importância de se colocar os estudantes a par das inovações científico-tecnológicas para que estes desenvolvam suas possibilidades individuais. Os Textos de Divulgação Científica permitem trabalho de exploração dos conceitos científicos em sala de aula na medida em os apresentam numa linguagem clara de acessível compreensão aos alunos em diferentes faixas etárias.

    Os Textos de Divulgação Científica se configuram num discurso científico transcrito numa linguagem jornalística sem incorrer em erros do tipo conceituais tão comuns nos livros didáticos. A divulgação científica pode ser uma alternativa para os professores de Séries Iniciais, no sentido de modificar práticas pedagógicas tradicionais, nas quais o livro didático é o único material para leitura. A utilização dos Textos de divulgação científica como recurso didático traz referencial teórico ao professor e ao aluno.

    O uso destes textos em sala de aula trabalha com o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, ao mesmo tempo em que se utiliza destas, para a interpretação do texto. Os textos que serviram de respaldo para este trabalho de pesquisa foram os textos das Revistas Ciência Hoje das Crianças. Procuramos estabelecer a mediação entre os conceitos científicos e os textos alternativos ao livro didático nas aulas de Ciências Naturais.

    A Educação em Ciências na perspectiva de alfabetização científico-tecnológica promove através de situações problemas um pensamento crítico, autônomo determinando o desenvolvimento científico e tecnológico.

    A alfabetização científico-tecnológica não é solução para o ensino de ciências, tal como se apresenta hoje, ao contrário é uma alternativa para enriquecer as experiências dos estudantes, em ternos de criatividade e liberdade para examinar e questionar assuntos sociais relacionados à Ciência e a Tecnologia.


PROGRAMA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS ELABORADO A PARTIR DO PROPOSTO PELA ESCOLA PARA O TERCEIRO TRIMESTRE LETIVO DE 2000 - 4ª SÉRIE


TEMÁTICA
NÚCLEOS CONCEITUAIS DOS MÓDULOS DIDÁTICOS
COMPETÊNCIAS/ HABILIDADES
POLUIÇÃO

AMBIENTAL


 
 
 
 
 
 

- A constituição da biosfera;

- O que é nicho ecológico;

- A importância do habitat para os seres vivos;

- O papel da adaptação para o habitat;

- O equilíbrio do ecossistema;

- A preservação do meio ambiente; a cadeia alimentar como responsável pelo equilíbrio alimentar do planeta.

- O efeito estufa e a camada de ozônio;

- Os efeitos da poluição global.

 

  • Espera-se que ao final do Módulo os alunos tenham desenvolvido habilidades mínimas tais como: argumentação e coerência tanto no que se refere a fala como a escrita; 
  • Espera-se que no decorrer do Módulo os alunos sejam capazes de elaborar pequenas produções textuais contendo suas idéias sobre a temática desenvolvida.
  • Espera-se que ao final do Módulo os alunos utilizem os conceitos aprendidos para solucionar problemas que se apresentem ao longo da escolarização envolvendo conhecimentos de Ciências Naturais.

BLOCOS TEMÁTICOS : Assuntos selecionados nos Textos das Revistas Ciência Hoje das Crianças

 
 
 

TEMÁTICA

 

TEMA/CONTEÚDO

TEXTOS SELECIONADOS NAS REVISTAS CHC
TEXTOS DE APOIO SELECIONADOS NAS REVISTAS CHC
  • meio Ambiente: biodiversidade;
  • botânica: flora brasileira;
  • equilíbrio;
  • reprodução dos animais;
  • adaptação;
  • habitat;
  • hábitos alimentares dos animais;
  • nutrição das plantas.
 
 
 
 
 

Nº 38

Nº 82

Nº 106

Nº 43

Nº 46

Nº 14

Nº 54

Nº 57

Nº 24

Nº 32

Nº 45

Nº 44

Nº 60

POLUIÇÃO AMBIENTAL
  • reaproveitamento do lixo;
  • flora brasileira ameaçada;
  • poluição do ar;
  • gás natural;
  • poluição dos rios;
  • as grandes cidades e a poluição.
 
 
 

Nº 14

Nº 74

Nº 81

Nº 12

Nº 30

Nº 45

Nº 55

Nº 76

Nº 77

Nº 92

Nº 98

  • Gases que provocam o buraco na camada de ozônio;
  • Gases que provocam o efeito estufa;
  • As conseqüências do buraco na camada de ozônio e do efeito estufa;
  • Chuva ácida.
 
 
 

Nº 97

Nº 100

Nº 104

Nº 17

Nº 28

Nº 29

Nº 33

Nº 59

Nº 78

Nº 79

Nº 102

AR
  • a existência do ar;
  • pressão do ar;
  • expansão de gases
  • bolhas de ar;
  • como os balões voam;
  • gás ozônio.
 
 
 

Nº 16

Nº 45

Nº 46

Nº 87

Nº 74

Nº 90

Nº 93

Nº 106

Referências

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HARLEN, Wynne. : (1989). Ensenãnza y aprendizage de las ciências. Trad. Pablo Manzano. Colección pedagogia educación infantil y primária. Madrid/ESP: MORATA.

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NARDI, Roberto(org): (1998). Questões atuais no ensino de ciências. São Paulo/BRA: Escrituras.

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WEISSMANN, Hilda (org.): (1998). Didática das Ciências Naturais .Trad. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre/BRA: Artmed.

  [1] Com apoios parciais do CNPq e da CAPES
[2] Bolsista de Mestrado da Capes pelo NEC/CE/UFSM e Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação/Centro de Educação/UFSM; Email: dani_cr@terra.com.br.
[3] Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq pelo NEC/CE/UFSM e Prof. Adjunto do Centro de Educação/UFSM; Email: eduterra@ce.ufsm.br.