Cristiane Pinto Andrade[1]
Válter Forastieri[2]
Charbel Niño El-Hani[3]
Resumo
A variedade de orientações sexuais humanas é um tema polêmico, que deve ser abordado nas escolas, de modo a contribuir para a diminuição do preconceito social contra pessoas que não tenham orientação heterossexual. Este artigo apresenta uma análise de como a orientação sexual é abordada em livros didáticos de Ciências e Biologia dos ensinos fundamental e médio, respectivamente. Trinta e três livros foram submetidos a um conjunto de critérios de análise avaliando a atualização, a clareza, a veracidade e o cunho científico dos textos. Nenhum livro do ensino médio sequer mencionou termos como ‘homossexualidade’ e ‘bissexualidade’. Apenas dois livros do ensino fundamental o fizeram, sendo que apenas um apresentava o assunto de maneira adequada. Em quase todos os livros didáticos analisados, notou-se uma tendência de reduzir a sexualidade à anatomia e fisiologia dos órgão genitais e à reprodução. Nós propomos que uma abordagem da sexualidade humana em livros didáticos não se restrinja a aspectos biológicos relacionados à reprodução, evitando explicações reducionistas da orientação sexual, esteja pautada em conhecimentos científicos atualizados, e utilize contribuições da história e filosofia das ciências.
Abstract
The diversity of human sexual orientations is a controversial
issue that should be dealt with in schools in order to diminish the social
prejudice against people that are not heterosexual. This paper presents
an analysis of how sexual orientation is treated in Science and Biology
textbooks from primary and high schools, respectively. Thirty three books
were appraised on the grounds of a set of analytical criteria evaluating
if the texts were updated, clear, truthful and scientific. The analyzed
high school textbooks not even mentioned terms such as ‘homosexuality’
and ‘bisexuality’. Only two primary school textbooks did so, and just one
presented the subject in an adequate manner. In almost all of the analyzed
textbooks, there was a remarkable tendency to reduce sexuality to the anatomy
and physiology of the genitalia and to reproduction. We claim that an approach
to human sexuality in textbooks should not be restricted to biological
features related to reproduction, avoiding reductionist explanations of
sexual orientation. It is also important that it is grounded on updated
scientific knowledge and make use of contributions from history and philosophy
of science.
1. Marco teórico
Sexualidade e cidadania: Qual o papel da educação?
É aconselhado às escolas que educam alunos na faixa etária de 11 a 18 anos que trabalhem com o tema da ‘variedade de orientações sexuais humanas’. Isso porque o ensino adequado da diversidade sexual pode ajudar os estudantes a compreenderem melhor os outros e a tornarem mais claros seus valores e suas atitudes pessoais (Reiss 1997). Deve-se ter atenção, contudo, com a forma como a homossexualidade é encarada nas escolas, na medida em que a educação sexual pode estar profundamente implicada na preservação de antigas normas sexuais (Jose 1999). Petrovic (2000), ao examinar como a orientação sexual é ensinada aos jovens, conclui que a democracia requer um retrato positivo da homossexualidade nas escolas, sendo também necessário evitar que os professores utilizem suas aulas para expressar suas crenças, suas idéias e seus julgamentos pessoais quanto à diversidade de orientações sexuais, uma vez que moral democrática não deve ser confundida com moralismo. Deve ser lembrado que profissionais de educação que se utilizam da sala de aula para divulgar, seja de forma clara ou disfarçada, discursos preconceituosos são um dos fatores responsáveis pela manutenção da homofobia na sociedade. Wills e Crawford (2000) ratificaram pesquisas anteriores num estudo realizado no estado de Louisiana (EUA), constatando que religiosidade, gênero e educação parecem estar associados a uma atitude negativa em relação à homossexualidade, com exceção dos indivíduos pesquisados que possuíam parentes ou amigos homossexuais. Pessoas que vivem ou crescem em contato com homossexuais tendem a mostrar-se menos heterossexistas e mais respeitosas em relação à diversidade de orientações (Simoni 1996).
Estudantes norte-americanos, em geral, apresentam uma grande resistência quanto à aceitação da homossexualidade. Com base nisso, Van de Ven (1994) sugere, como forma de controlar a homofobia na sociedade, uma melhoria da qualidade da informação a este respeito disponível nas escolas. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n° 9.394/96, nos seus títulos, artigos e capítulos, se dirige ao desenvolvimento do educando pautado no exercício da cidadania. No Título II, artigo 3º,capítulo IV enfoca o respeito à liberdade e o apreço à tolerância. Isso é reforçado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, que recomendam que a prática administrativa e pedagógica do sistema de ensino seja norteada pela estética da sensibilidade, a qual não é um princípio inspirador apenas do ensino de conteúdos ou atividades, mas uma atitude diante de todas as formas de expressão que deve estar presente no desenvolvimento do currículo e na gestão escolar. Tal estética não se dissocia das dimensões éticas e políticas da educação porque quer promover a crítica à vulgarização da pessoa, às formas estereotipadas e reducionistas de expressar a realidade, às manifestações que banalizam os afetos e brutalizam as relações pessoais. Reforçando o que foi dito acima, os PCN– Temas Transversais ampliam a concepção da estética da sensibilidade quando citam o combate a todo tipo de discriminação:
"... O trabalho com orientação sexual supõe refletir sobre e se contrapor aos estereótipos de gênero, raça, nacionalidade, cultura e classe social ligados à sexualidade. Implica, portanto, colocar-se contra as discriminações associadas a expressões da sexualidade, como atração homo ou bissexual, e aos profissionais do sexo" (PCN, Temas Transversais, 1998).
É papel da educação incitar no aluno reflexões sobre temas que atuam na construção da sua sexualidade, sem impor condutas ou modelos específicos de comportamento. Para que tal objetivo seja atingido, é importante que todas as ferramentas utilizadas no processo educativo discutam a questão da variabilidade da sexualidade humana. Especialmente no que concerne ao livro didático, a qualidade da abordagem, ao enfocar a variedade de orientações sexuais, pode ser tão prejudicial quanto não abordar o tema, porque juízos de valor implícitos em explicações deterministas, tanto biológicas como ambientais, podem comprometer a qualidade da informação veiculada.
Este trabalho tem como objetivos centrais: pesquisar se a variedade de orientações sexuais humanas é abordada em livros didáticos de Ciências e Biologia para o ensino fundamental e médio, respectivamente; avaliar a presença de explicações científicas, de senso comum e religiosas nessa abordagem; avaliar a influência das explicações deterministas, caso ocorra abordagem científica.
1.2. A controvérsia natureza x cultura no estudo da orientação sexual
A história das investigações sobre a orientação sexual humana é marcada por tentativas de reduzir sua compreensão a um conjunto muito restrito de fatores causais. Os resultados da pesquisa biológica não fogem à regra e dados que parecem indicar, ainda sem suficiente segurança, uma contribuição biológica são com freqüência interpretados no sentido de uma determinação biológica (El-Hani et al. 1997). Isso aconteceu com as pesquisas fortemente influenciadas pela eugenia, como os estudos sobre a influência de fatores hormonais na orientação sexual ou os trabalhos com gêmeos das décadas de 1940 e 1950 (Marmor 1973); com as pesquisas mais atuais em neuro-anatomia (Hoffman & Swaab1991; Hammer &Le Vay 1994); e com os trabalhos que apontam para uma correlação entre orientação sexual e assimetria dermatoglífica (Hall & Kimura 1994), que não foi confirmada em estudo realizado por nossa equipe na cidade de Salvador (El-Hani et al., no prelo). Entre as explicações deterministas de natureza biológica, o determinismo genético causa maior impacto. A divulgação da existência de um possível gene envolvido na origem da homossexualidade na região Xq28 (Hamer et al. 1993), que não foi confirmada em estudo mais recente (Rice 1999), foi amplamente divulgada na mídia com matérias que se referiam ao ‘gene gay’ou afirmavam de maneira simplista que "a culpa é da mãe" (El-Hani, 1997). O determinismo genético pode ser definido como a explicação de propriedades fenotípicas por meio de uma redução a causas genéticas, ainda que apenas parcialmente. Neste último caso, as influências ambientais são levadas em consideração, mas os pesos relativos das causas genéticas e ambientais são vistos como separadamente computáveis, de modo que estes dois componentes causais são isolados um do outro, excluindo-se a possibilidade de uma interação (El-Hani 1995). É improvável, contudo, que exista um gene ou até mesmo um conjunto de genes que, por si só, determine a orientação sexual de um indivíduo. É mais plausível que os fatores genéticos tenham uma participação apenas indireta, relacionando-se a traços comportamentais que interagem com outras influências, de caráter psicossocial, no desenvolvimento da sexualidade. De qualquer modo, o mínimo que se pode afirmar é que, diante da insuficiência dos dados até agora disponíveis e da necessidade de aprimoramento dos modelos teóricos, qualquer conclusão que vincule de forma determinista fatores genéticos à orientação sexual é precipitada. Não obstante, o cuidado na apreciação dos resultados da pesquisa biológica não tem sido a tônica do debate (El-Hani et al. 1997).
Outra forma de explicar por que o indivíduo assume uma orientação heterossexual, homossexual ou bissexual é o modelo ambientalista, que identifica como principal fonte de variação o ambiente em que a criança se desenvolve. Estes modelos deterministas ambientais têm há muito dominado o campo da Psicologia (Richardson & Hart 1981). Os modelos explanatórios da psicanálise consideram, de um modo geral, a homossexualidade como um produto do desenvolvimento do indivíduo em um ambiente patológico (Marmor 1973). Apesar de estes modelos serem muitas vezes atribuídos a Freud, foram seus sucessores, como Bieber, que insistiram na idéia de que a origem da homossexualidade estaria associada a problemas de identificação cruzada no Complexo de Édipo. Freud acreditava ser a homossexualidade a expressão de uma tendência universal existente em todos os seres humanos, decorrente de uma predisposição bissexual biologicamente enraizada, onde certos tipos de experiências poderiam deter o processo evolutivo (que conduziria para a heterossexualidade) e o indivíduo permaneceria então fixado num nível homossexual (Marmor 1973). Os modelos deterministas ambientais não só se apropriam da orientação homossexual como uma patologia, mas também apresentam o problema adicional de salientarem apenas o pólo do ambiente na controvérsia natureza-cultura (El-Hani et al. 1997). Mães dominadoras e sedutoras, pais fracos, hostis ou omissos, e as múltiplas variações sobre esses temas, que são com tanta freqüência sugeridos como etiologicamente significativos na homossexualidade, se multiplicam nas histórias de inúmeros indivíduos heterossexuais e não podem portanto ser, em si mesmos, fatores causativos específicos. (Marmor 1973).
A orientação sexual admite, contudo,
outro tipo de explicação, na qual ela é entendida
como o resultado de um processo multifatorial de desenvolvimento, no qual
fatores biológicos desempenham um papel, mas não a ponto
de ser possível negar ou mesmo minimizar a importância dos
fatores psicossociais (Bancroft 1994). Os genes e o ambiente não
são considerados, nesse caso, como causas separadas cujos efeitos
simplesmente se somam, produzindo o traço fenotípico no organismo
individual, mas são entendidos como fatores que interagem de maneira
complexa e múltipla ao longo do desenvolvimento biológico
e mental da espécie humana. Em vez de contrapor organismo e ambiente,
um modelo multifatorial deve tratá-los como entidades que mutuamente
se entranham, se co-determinam e misturam num todo indivisível,
de modo que não faz sentido o organismo sem ambiente, nem este dissociado
do primeiro (Lewontin et al. 1984).
1.3. Os livros didáticos no sistema educacional brasileiro
Os livros didáticos têm representado,
no sistema educacional brasileiro, o principal e até mesmo o único
veículo através do qual os alunos tomam conhecimento da ciência.Segundo
Freitag e colaboradores (1993), a trajetória do livro
didático no Brasil pode ser entendida em termos de três fatores:
(1) Estudos não-sistemáticos sobre o tema; (2) Falta de legitimidade
daqueles que controlavam os livros didáticos até meados da
década de 1990, quando foi instituída, no contexto do Plano
Nacional do Livro Didático, uma prática sistemática
de avaliação dos livros por profissionais capacitados; e
(3) Acriticidade do livro didático. Estes autores afirmam que, até
há pouco tempo, o livro didático não tinha uma história,
mas apenas uma seqüência de decretos, leis e medidas governamentais
Estes autores fazem críticas contundentes à qualidade dos
livros didáticos brasileiros, tanto em relação ao
aspecto teórico-metodológico quanto ao aspecto político-ideológico.
Eles também criticam os conteúdos mal formulados e/ou inadequados
para a realidade dos alunos. Então, como se apresentam os temas
sexualidade e orientação sexual, assuntos permeados de controvérsias,
nos livros didáticos brasileiros?
2. Metodologia
Para analisar como os livros didáticos abordam
a variedade de orientações sexuais, foram aplicados critérios
de análise visando a avaliação da atualização,
da clareza, da veracidade e do cunho científico dos textos (anexo
1). A amostra foi composta por 20 livros de Biologia do ensino médio
(Tabela 1) e 13 livros de Ciências do ensino fundamental (Tabela
2). Os livros didáticos que compõem a amostra foram escolhidos
por serem identificados pelos funcionários de 04 livrarias de Salvadorcomo
aqueles que são mais utilizados pelas escolas desta cidade.
3. Resultados e discussão
3.1. Livros de Biologia do ensino médio
As coleções didáticas destinadas
ao ensino médio se mostraram semelhantes no enfoque e na seqüência
de apresentação dos temas. Nenhum dos 20 livros sequer mencionou
os termos ‘homossexualidade’ e ‘bissexualidade’. Todos os livros se restringiram
ao aspecto reprodutivo da sexualidade humana, reduzindo a abordagem à
anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor e à fecundação.
Como leituras complementares ou curiosidades, repetiam-se os tópicos:
DST (com maior ênfase sobre a AIDS) e métodos contraceptivos.
Nenhum dos livros discutiu as interações do contexto social
e da biologia, não favorecendo, assim, a interdisciplinaridade,
defendida na apresentação dos próprios livros, em
sua maioria. Comparando-se estes manuais com versões dos livros
de José Luis Soares e Cézar e Sézar anteriores a 1996
(ano de promulgação da atual LDB e de publicação
dos PCN), nota-se que não ocorreu evolução na maneira
como a sexualidade tem sido tratada nos livros didáticos do ensino
médio.
3.2 Livros de Ciências do ensino fundamental
Entre os livros estudados, apenas dois tratavam dos temas sexualidade e orientação sexual: "Natureza e Vida", de Gowdak e Martins (1996), 7ªSérie; e "Ciência e Educação Ambiental: O Corpo Humano", de Cruz (2000), 7ªSérie. Destes dois, apenas o livro de Cruz (2000) enfoca a homossexualidade como traço comportamental construído socialmente e normal, ou seja, como uma opção de vida, deixando claro que a sociedade a considera um tabu. Por outro lado, Gowdak e Martins (1996) enfocam o tema a partir de explicações deterministas, generalistas, numa linguagem que não é adequada aos critérios científicos.
Dos livros analisados, apenas sete abordaram o tema sexualidade voltada para a heterossexualidade. Nestes, a sexualidade é abordada segundo uma perspectiva fisiológica, considerando-se a puberdade, a gravidez etc. A explicação dada não valoriza outros aspectos (afetivos, sociais, culturais e psicológicos) senão os baseados em termos biológicos e relacionados tão somente à reprodução, como se nota nos trechos abaixo:
"... . As mudanças da puberdade, tanto físicas como psicológicas, são comandadas principalmente pelos hormônios sexuais, fabricados por testículos e ovários. (Gowdak & Martins 1996:190).
"... O adolescente, ao alcançar o amadurecimento sexual, adquire a capacidade de procriar e, então, sente necessidade de se satisfazer sexualmente. ..." (Gowdak & Martins 1996:162).
"... Nossa sociedade aceita a heterossexualidade como natural e aprova. O número de heterossexuais é muito maior do que de homossexuais não só por causa da aprovação social mas, principalmente, porque a atração pelo sexo oposto é biologicamente predominante..." (Gowdak & Martins 1996:163).
É interessante notar que um tema de tal relevância para o desenvolvimento do ser humano não seja tratado com a importância e fundamentação necessárias pelos livros didáticos. Quais seriam, então, os motivos pelos quais tal fenômeno ocorre? Uma das respostas plausíveis poderia basear-se na dificuldade de tratar-se o sexo e, neste campo, a diversidade das orientações sexuais. Como escreve Foucault,
" .... A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa. A família conjugal a confisca. E, absorve-a, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala..."(Foucault 1993:11).
O preconceito, através de juízos de valor e de explicações deterministas, ainda continua arraigado quando da abordagem ou omissão do tema da sexualidadeÉ preocupante constatar a raridade da discussão sobre a sexualidade e a orientação sexual nos conteúdos dos livros didáticos analisados, já que a sexualidade constitui um dos mais importantes componentes para o bem-estar do indivíduo. Saber sobre a história da sexualidade, como os conceitos neste campo foram criados e modificados no decorrer de décadas e séculos, o contexto sócio-político-econômico nos quais se desenvolveram, incitariam a repensar o porquê da ausência ou de explicações parcas encontradas nos nossos livros didáticos sobre o tema.
É interessante notar que o tema sexualidade é muito pouco desenvolvido nos livros didáticos de ciências do ensino fundamental. A sexualidade é aviltada da formação do aluno. A pouca informação contida é asséptica, dicotômica e ligada exclusivamente à reprodução humana. Homem mais mulher é uma soma linear que dá como resultado um bebê. Neste sentido, o sexo é simplesmente considerado como procriativo, destituído de todo o conteúdo afetivo-erótico da sexualidade, como também são desconsideradas as orientações que não sejam heterossexuais. Este quadro pode ser mudado através da inserção da sexualidade em toda a sua riqueza e complexidade como conteúdo dos livros didáticos, na sua relação dialética com a cultura, ideologia e produção do conhecimento científico.
Sabe-se que a sexualidade, em particular a orientação sexual, é um dos temas mais polêmicos da atualidade, despertando questões de ordem científica, religiosa e moral. Não é em vão a assexualidade constatada nos conteúdos destes livros didáticos, mal explicada em parâmetros meramente biológicos, reducionistas. A visão dos PCN propõe que os conteúdos das disciplinas, além de bem fundamentados, estejam inter-relacionados com outras disciplinas e contextualizados. Esta é uma das formas mais eficazes de tornar o ensino interessante, útil, além de propiciar a emergência do espírito crítico e criativo do educando. Neste sentido, é digna de nota a posição de Matthews, em sua defesa do papel da história e da filosofia das ciências (HFC) nos programas curriculares:
"... uma parte desta contribuição dada
pela HFC é conectar tópicos em disciplinas científicas
particulares, conectar as disciplinas da ciência umas com as outras,
conectar as ciências em geral com a matemática, a filosofia,
a literatura, a psicologia, a história, a tecnologia, o comércio
e a teologia e, finalmente, apresentar as interconexões de ciência
e cultura – a arte, a ética, a religião, a política
– mais amplamente. [...]. Estas interconexões e interdependências
podem ser apropriadamente exploradas em programas de ciência da escola
elementar até a pós-graduação" (Matthews 1994:xiv-xv).
4. Conclusões
Os livros didáticos de Biologia destinados
ao ensino médio que foram analisados simplesmente não abordam
a questão da variedade das orientações sexuais. Os
livros didáticos de Ciências do ensino fundamental analisados
informam pouco, sem contribuir significativamente para a diminuição
dos preconceitos e das discriminações de outras categorias
sexuais, não atendendo à Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Urge reavaliar este tema à luz de uma perspectiva mais crítica,
filosófica e histórica. É necessário elaborar
materiais didáticos que abordem a orientação sexual
como resultado de um processo, no qual estão envolvidos fatores
– biológicos, psicológicos e socioculturais – em interação
não-aditiva. A abordagem da sexualidade humana em livros didáticos
não deve restringir-se aos aspectos biológicos relacionados
à reprodução, evitando explicações reducionistas
da orientação sexual. Além disso, ela deve estar pautada
em conhecimentos científicos atualizados e, sempre que possível,
utilizar contribuições da história e filosofia das
ciências, de modo a propiciar uma abordagem que tenha na devida conta
as interconexões das diversas áreas da pesquisa científica,
bem como da ciência e da cultura, em sentido mais geral..
Referências
BANCROFT, J. Homosexual Orientation: The Search for a Biological Basis. British Journal of Psychiatry 164:437-440,1994.
EL-HANI, C.N. O Insustentável Peso dos Genes: A Persistência do Determinismo Genético na Mídia e na Literatura Científica. Salvador: FACED/UFBA (Dissertação de Mestrado), 1995.
___________;MOREIRA,L;MOTT,L.;SOUZA,A;ANDRADE,C;SILVA,M;FORASTIERI,V;PEREIRA,A.Conflitos e Perspectivas nas Relações entre Natureza e Cultura. Interfaces. n 1, vol 1, 1997.
__________;SOUZA;SILVA;FORASTIERI;ANDRADE;MOTT;FLORES;MOREIRA. Evidence Against a Relationship Between Dermatoglyphic Asymmetry and Male Sexual Orientation. Human Biology, no prelo.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Edições Graal. Rio de Janeiro. 1993.
FREITAG, B.; MOTTA, V. R.; COSTA, W.F. O livro didático em questão. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1993.
HALL; KIMURA. Dermatoglyphic Assymetry and Sexual Orientation in Men.Behav. Neurosci. 108(6): 1203-1206, 1994.
HAMMER et al. A linkage Between DNA Markers on the X Chromosome and Male Sexual Orientation, Science, vol. 261, pp. 321-327. 1993
________ & Le Vay, S. Evidence for a Biological Influence in Male Homosexuality. Scientific American, pp 20-25.Maio,1994.
HOFMAN, M.A.& SWAAB, D.F. Sexual Polimorphism of Human Brain: Mith and Reality. Exp Clin Endocrinol, 98(2):161-70,1991.
JOSE J. Drawing the Line: Sex Education and Homosexuality in South Australia, 1985.Australian Journal of Politics and History n45: (2) 197-213, jun 1999.
MATTHEWS,M.R. Science Teaching The Role of History and Philosophy of Science. Philosophy of the Education Research Library. Routledge. New York-London,1994.
MARMOR, J.(Org.). A Inversão Sexual. 1ª edição, Imago editora LTDA, Rio de Janeiro, 1973.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: ENSINO MÉDIO. Brasília: MEC, 1999.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: TERCEIRO E QUARTO CICLOS. Apresentação dos Temas Transversais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. MEC/SEF. 1998.
PETROVIC, JE. Moral Democratic Education and Homosexuality: Censoring Morality.Journal of Moral Education. n28: (2) 201-209, jun 1999.
REISS,M.J. Teaching About Homosexuality and Heterosexuality. Journal of Moral Education. n 26: (3) 343-352,sep 1997.
SIMONI, J.M. Pathways to Prejudice: Predicting Students' Heterosexist Attitudes With Demographics, Self-Esteem, and Contact With Lesbians and Gay Men.Journal of College Student Development n37: (1) 68-78, jan-feb 1996.
VAN DE VEN, P. Comparisons Among Homophobic Reactions of Undergraduates, High-School-Students, and Young Offenders. Journal of Sex Research.n31: (2) 117-124,1994.
WILLS G, CRAWFORD R. Attitudes Toward Homosexuality in Shreveport-Bossier
City, Louisiana. Journal of Homosexuality. n. 38: (3) 97-116, 2000.
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Roberto Paulino |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Roberto Paulino |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
4- O texto exposto pelo autor induz o leitor a acreditar que:
6- Sendo a leitura científica, ela está adequada para
o público
|
|
|
|
|
|
|
|
9- Caso o autor aborde teorias de diferentes ciências, elas são apresentadas como:
2- A explicação é:
3- Quais dos temas abaixo são tratados no mesmo capítulo
que a homossexualidade?
2- Algum desses autores é citado?
3- A(s) teoria(s)é(são) explicada(s) de forma clara: