AVALIANDO PRÁTICAS DIDÁTICAS DE UTILIZAÇÃO DE TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA COMO RECURSO DIDÁTICO EM AULAS DE FÍSICA NO ENSINO MÉDIO
 

Taniamara Vizzotto Chaves[1]
Joviane Mezzomo[2]
Eduardo Adolfo Terrazzan[3]
Núcleo de Educação em Ciências, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria
Campus Universitário Camobi, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil
 
 

Resumo

    A partir da necessidade de introduzir a Física Moderna e Contemporânea no Ensino Médio utilizamos Textos de Divulgação Científica encontrados em Revistas e Jornais numa perspectiva de que estes, além de serem um meio útil na busca da popularização da Ciência e Tecnologia presentes nos aparatos do cotidiano, também possam ser úteis no sentido de incentivar a prática de leitura em sala de aula. Neste sentido, elaboramos estratégias didáticas com o uso de Textos de Divulgação Científica que foram discutidas e implementadas por um Grupo de Professores de Física atuantes no Ensino Médio. A partir disso, percebemos que os professores, apresentaram dificuldades na preparação e interpretação da função dos textos. Sendo assim, ficou evidente que práticas e hábitos de leitura não são uma constante entre os professores, e que sendo assim, a possibilidade de utilização de Textos diferenciados em sala de aula pode servir para questionar práticas habituais/tradicionais levando a uma nova percepção e necessidade de estruturarem-se novas práticas didáticas.

1- Introdução

    Neste trabalho discutimos possibilidades de introdução de temáticas de Física Moderna e Contemporânea no desenvolvimento da disciplina de Física do Ensino Médio, através de uma investigação realizada sobre o uso de Textos de Divulgação Científica (TDC) como recurso didático. Entendemos por TDC aqueles encontrados nas Revistas, Jornais, Rede Internet, Televisão, Rádio entre outros meios.

    Partimos do pressuposto de que o professor responsável pela implementação do uso de TDC em sala de aula deve estar capacitado a mediar o diálogo a ser estabelecido entre texto-aluno, aluno-aluno e aluno-professor.

    Em nossa perspectiva, a introdução de Textos de Divulgação Científica em aulas de Física do Ensino Médio surge com duas funções principais.

    A primeira delas refere-se à necessidade de contribuir para que a população forme uma imagem adequada e crítica da Ciência enquanto produção humana e enquanto uma forma privilegiada de saber elaborado, bem como discutir suas aplicações tecnológicas presentes no nosso cotidiano e as implicações sociais decorrentes de seu uso.

    Ainda hoje, a população leiga, de maneira geral, concebe a Ciência como algo aquém da sua realidade cuja linguagem é de difícil compreensão e que é praticada por pessoas fora-do-comum, superdotadas

    Neste sentido, o Texto de Divulgação Científica trata questões de ciência e tecnologia buscando através de uma linguagem comum, próxima da jornalística e através da exploração de questões do cotidiano das pessoas, fazer uma ponte entre o conhecimento científico e elaborado e os anseios e necessidades das pessoas compreenderem estes termos e aplicações da vida cotidiana

    A segunda função diz respeito à formação de sujeitos leitores críticos. Ou seja, busca-se utilizar o texto para implementar e explorar a leitura no sentido de capacitar os alunos a decodificarem a linguagem científica e, através da compreensão dos textos estudados, se aproximarem dos produtos científicos e tecnológicos recentes, incorporando tanto os conhecimentos recentes, e ainda em debate, como aqueles já estabelecidos e aceitos, como instrumentos para o exercício de uma cidadania plena. numa perspectiva de que esta possa ajudar aos leitores destes textos a estabelecer visões críticas e criar opiniões próprias a respeito das idéias e objetivos da ciência.

    Neste sentido, pretende-se que os sujeitos possam identificar e tornar-se esclarecidos quanto a vantagens e desvantagens bem como certos cuidados a serem tomados quando da utilização de aparatos e inventos tecnológicos presentes no cotidiano das pessoas. Como exemplo temos o telefone celular ou o forno de microondas que já fazem parte da vida e do cotidiano das pessoas, mas que em contrapartida ainda apresentam certos mitos relacionados ao funcionamento e cuidados a serem tomados quando da sua utilização.

    Apesar da infinidade de informações encontradas nos meios de divulgação científica, percebe-se que a população ainda mantém um tratamento aquém do esperado em relação a estes tipos de informações, ou seja, estas ainda são pouco utilizadas e exploradas pela população no sentido de obtenção de uma educação científica e tecnológica.

    Boa parcela da população que ainda não mantém contato com este tipo de informação, não o faz, por falta de condições financeiras para acesso ao suporte de divulgação destas informações Outra parte da população que consome materiais de divulgação científica, se dividem entre aqueles que realmente se utilizam deste tipo de informação e buscam aplicá-la na vida cotidiana, e aqueles, que acreditamos sejam maioria, os quais não dão a estas informações a sua devida importância, fazendo delas apenas uma leitura breve que não é acrescentada ao rol de informações adquiridas diariamente e aplicadas a vida cotidiana, ou seja, é mais um passatempo do que uma possibilidade real de aquisição de conhecimentos.

    Dentre esta parcela da população que adquire materiais de divulgação científica, mas que ainda não dá a estes a devida importância fazendo uso no cotidiano das informações ali contidas encontra-se a escola e os professores.

    As escolas brasileiras, em sua grande maioria, mantém em funcionamento suas Bibliotecas disponibilizadas para consulta de materiais pelos alunos. Na maioria delas, encontram-se pequenos acervos de Revistas de Divulgação Científica, Jornais e Vídeos, cujo uso ainda não se tornou algo comum, ou seja, apesar de manterem em suas bibliotecas este tipo de publicação as escolas e os professores ainda não fazem uso destas informações em sala de aula para trabalhar os conhecimentos relacionados com a evolução da ciência e da tecnologia e tão pouco costumam incentivar este tipo de prática em seus alunos.

    Ao contrário, existe sim uma concepção por parte da escola e dos professores que os alunos e as pessoas em geral não sabem ou não se interessam por leitura de nem um tipo incluindo este tipo de publicação.

    Acreditamos que esta concepção passa a ser real a partir do instante em que o sujeito que freqüenta a escola, seja ela publica ou privada, não seja estimulado a  adquirir o hábito de ler ou consultar este tipo de informação, ou por outro lado, quando a escola deixa de levar em consideração as idéias e as histórias de leitura dos sujeitos fora da sala de aula, está incentivando neles o descaso para qualquer tipo de leitura e a possibilidade de adquirir através da divulgação científica informações que possam ser utilizadas e discutidas fora do contexto da sala de aula.

    Este descaso da escola com a possibilidade de utilização da divulgação científica e a manutenção de práticas tradicionais onde o professor se mantém como o centralizador dos conhecimentos ou o chamado "dono da verdade", torna o ensino de maneira em geral e a escola, para grande parte da população, como um lugar obrigatório apenas para aquisição de um diploma, onde os conhecimentos transmitidos são desatualizados e não atendem as necessidades do dia a dia das pessoas.

    Análises recentes sobre a realidade escolar brasileira têm mostrado que as idéias e as concepções, bem como os anseios e as necessidades dos alunos ainda não têm sido levados em consideração, de modo adequado e sistemático, no desenvolvimento da prática pedagógica da maioria de nossos professores.

    Além disso, percebe-se que os sujeitos formados pela escola de Ensino Médio, não se mostram capacitados para realizar leituras críticas de situações do cotidiano ou até mesmo aplicar ou transpor os conhecimentos adquiridos na escola para o seu dia a dia. Sendo assim, a única função da escola de Ensino Médio é mesmo dar a estes alunos um diploma ou certificado de conclusão de curso.

    Acreditamos no entanto, que esta situação possa ser revertida a partir da tomada de consciência, por parte da escola e dos professores, da necessidade de trabalhar conhecimentos atualizados através do uso de materiais que façam parte da vida dos sujeitos em formação, possibilitando-os formarem uma visão crítica e uma perspectiva de utilização na vida diária dos conhecimentos aprendidos no contexto escolar.

    Para tanto, é necessário mudar radicalmente algumas concepções e posturas, dentre elas, o papel do professor na sala de aula e a sua função enquanto responsável direto pela educação e pela transformação do saber científico em saber escolar. Ou seja, ao invés do professor ser um detentor da verdade, através de cuja voz se expressa o conhecimento científico, deve ser um mediador no processo de embate entre os conhecimentos que o aluno já construiu a partir da sua vivência no mundo e os conhecimentos científicos que a escola/sociedade considera necessários para uma melhor compreensão da realidade vivida, bem com para uma atuação positiva nesta realidade

    Percebe-se no entanto, que boa parte dos professores, incluindo-se aqui aqueles responsáveis pelo Ensino de Ciências e especificamente de Física, ainda não estão devidamente capacitados para tais mudanças e nem conscientizados desta situação.

    Quando falamos em capacitação queremos alertar para o fato de que boa parcela dos professores que lecionam física no Ensino Médio, não possuírem o hábito de realizar leituras e explorar materiais de divulgação, por isso, não se sentem capacitados a trabalhar este tipo de material quando solicitados. Além do mais, existe a concepção de que leituras, sejam elas de textos didáticos ou não, são ou devem ser trabalhadas apenas pelos professores das áreas de Línguas: Português, Literatura e Redação entre outras.

    Por outro lado, quando falamos em conscientização podemos afirmar que muitos professores ainda não se deram conta da importância e necessidade de exploração de materiais deste tipo em sala de aula, no sentido de atualizar os conteúdos por eles trabalhados bem como atender os anseios dos alunos e da sociedade em geral.

    Sendo assim, estes professores passam a contribuir negativamente no sentido de implementação de recursos que incentivem a leitura e a formação de visões críticas pelos seus alunos, justamente pelo fato de eles próprios não possuírem hábitos de leitura de materiais de divulgação científica o que proporciona insegurança em relação ao domínio e a compreensão dos assuntos tratados por estes materiais.

    Para que todos estes condicionantes negativos em relação a possibilidade de utilização de Textos de Divulgação Científica como recurso didático em sala de aula sejam superados acreditamos que certas iniciativas, por parte dos professores, se fazem necessárias.

    Em primeiro lugar, quando se deseja trabalhar com este tipo de material em sala de aula é preciso que os professores, especificamente os que tratam conhecimentos relacionados com Ciências, tomem consciência de que o ato ou hábito de leitura é algo que deve ser estimulado nos alunos não somente pelo professor das áreas de línguas, mas é preciso que se esclareça que a função de auxiliar na leitura e compreensão dos fatos, conceitos e idéias é função do professor como responsável pela formação de sujeitos leitores críticos. Sendo assim, trabalhar com este tipo de material em sala de aula implica no incentivo e na realização de leituras, compreensão e discussão dos textos indicados.

    Em segundo lugar, é preciso que os professores tenham consciência de que eles próprios precisam ler estas publicações ou reportagens e estar minimamente informados e preparados para o tratamento e discussão destas informações quando estas forem levadas para a sala de aula. Esta preparação do professor implica diretamente na sua postura perante a classe no momento da discussão dos termos ou conhecimentos levantados pelos textos, ou seja, o professor assume a postura de mediador entre as informações trazidas pelo texto e as informações trazidas pelos alunos.

    Em terceiro lugar, é novamente necessário que o professor se conscientize da importância de levar o Texto de divulgação Científica para a sala de aula através de estratégias bem pensadas e elaboradas, ou seja, é preciso ter em mente questões do tipo: Quais conceitos podem ou devem ser destacados e abordados a partir de determinado texto? Como encaminhar a leitura do texto e a discussão dos conceitos abordados pelo mesmo de forma que os alunos participem e exponham suas idéias e sugestões? Estas, entre outras, são questões que devem estar presentes no momento em que o professor elaborar suas estratégias que visem o tratamento em sala de aula das informações contidas em qualquer texto de divulgação que se queira trabalhar.

    Em quarto e último lugar, por mais que o professor mostre-se interessado em efetivar algumas modificações utilizando como recurso didático os Textos de Divulgação, o fato de trabalhar sozinho e isolado dentro da sua própria escola e a impossibilidade de trocar idéias com seus colegas de área sobre as informações contidas nos textos e as estratégias de trabalho a serem utilizadas, pode fazer com que o professor sinta-se inseguro com relação a utilização dos textos e insatisfeito com a sua própria prática. Sendo assim, seria de fundamental importância que estratégias deste tipo não fossem desenvolvidas isoladamente dentro da escola, ou seja, seria muito útil a possibilidade de que os professores discutissem e preparassem estas estratégias conjuntamente em grupos. Neste sentido, as discussões, estudos e encaminhamentos dados pelo grupo serviriam como suporte para o professor.

2- Desenvolvimento da pesquisa

    Desenvolvemos nosso trabalho de pesquisa procurando investigar as possibilidades para introdução de temáticas de Física Moderna e Contemporânea à disciplina de Física do Ensino Médio, através da elaboração e implementação de estratégias didáticas utilizando como recurso textos extraídos de Revistas de Divulgação e Jornais.

    Realizamos um trabalho conjunto com um grupo de professores de física denominado GTPF - Grupo de Trabalho de Professores de Física que é composto atualmente por professores de física em serviço nas escolas públicas e privadas de Santa Maria e região, por alunos de Graduação em Licenciatura em Física da UFSM iniciantes na pesquisa, alunos de Pós-Graduação/Mestrado em Educação da UFSM e por professores pesquisadores no Ensino de Física da UFSM.

    Este grupo reúne-se semanalmente para elaboração/estruturação de Planejamentos Didático-Pedagógicos que visam a implementação de tópicos de Física Moderna e Contemporânea de forma orgânica aos conteúdos conceituais de Física e também para realização de estudos de tópicos ou assuntos relacionados com a educação de maneira geral.

    Nesta perspectiva, busca-se através do trabalho conjunto entre profissionais atuantes no Ensino Médio e profissionais atuantes na universidade estabelecer uma parceria que, através da implementação de ações institucionais de formação contínua e continuada, propicie a atualização dos currículos escolares de Física do Ensino Médio.

    Os Planejamentos Didático-Pedagógicos (PDP) elaborados pelo GTPF organizam-se em Módulos Didáticos (MD). A metodologia de trabalho utilizada para elaboração dos Módulos Didáticos é a dos três Momentos Pedagógicos (Delizoicov, Angotti, 1991), a saber: 1) Problematização inicial; 2) Organização do conhecimento; 3) Aplicação do conhecimento.

    Durante a Problematização Inicial (PI), são apresentados aos alunos, para discussão, questões ou situações problematizadoras que fazem parte da realidade destes, que estejam relacionadas com a temática central que será abordada em seguida. Neste momento, a discussão pode permitir que algumas concepções dos alunos se manifestem, e também pode levar a que os alunos sintam a necessidade de aquisição de outros conhecimentos que ainda não detém para resolver os problemas e dúvidas que possuem ou que se configuraram neste momento. A postura do professor deve se voltar mais para questionar e lançar dúvidas sobre o assunto que para responder ou fornecer explicações.

    Durante a Organização do Conhecimento (OC), os conhecimentos de física necessários a compreensão do tema central e da problematização inicial serão sistematicamente estudados sobre a orientação do professor. Do ponto de vista metodológico, neste momento cabem atividades as mais diversificadas.

    A Aplicação do Conhecimento (AC), destina-se a abordar o conhecimento que vem sendo incorporado pelo aluno a fim de interpretar tanto as situações problematizadas inicialmente, como outras situações que não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial , mas que podem ser explicadas pelo mesmo conhecimento.

    Algumas ações didático-pedagógicas foram definidas pelo grupo como importantes de serem incluídas em todos os Módulo Didáticos, como pontos a serem investigados mais diretamente sobre a sua eficácia em termos de uma aprendizagem significativa para os alunos. Ou seja em todos os módulos procurou-se introduzir pelo menos uma: atividade para uso de material experimental, a partir de roteiros abertos, uma atividade para uso de texto de divulgação científica ou equivalente em sala de aula e uma atividade envolvendo uma situação mais próxima da vivência cotidiana dos alunos para ser trabalhada na perspectiva de resolução de problemas.

    Como instrumento de avaliação da prática pedagógica foram utilizados os Diários da Prática Pedagógica (DPP) onde são relatados os acontecimentos de sala de aula com detalhamento e profundidade possível. Também foram utilizadas video-gravação das aulas numa perspectiva de auxiliar na elaboração e aprofundamentos dos Diários.

    Durante o ano de 2000 e primeiro semestre de 2001, estivemos acompanhando o GTPF numa perspectiva de buscar estruturar, implementar e avaliar as ações didático-pedagógicas que visam a utilização dos Textos de Divulgação Científica como recurso didático e avaliar a partir daí as vialibilidades e possibilidades reais de introdução destes materiais em salas de aula do Ensino Médio.

    Para tanto, fizemos inicialmente um levantamento de Textos de Divulgação Científica que tratassem de temáticas relacionadas com a Física Moderna e que pudessem ser utilizados como material de referência pelos professores do GTPF.

    Como segundo passo, elaboramos sugestões de trabalho com estes textos. Estas sugestões foram apresentadas e discutidas pelo GTPF numa perspectivas de adaptação aos Módulos Didáticos elaborados pelos professores e também a realidade vivida por cada professor em sua escola.

    A seguir, apresentamos uma relação dos textos estudados, discutidos e estruturados segundo um roteiro para serem implementados pelos professores do GTPF bem como as temáticas de Física Moderna correspondentes ou tratadas por cada texto.

TABELA1: Textos de divulgação referentes as temáticas de Física Moderna e Contemporânea selecionados para elaboração de estratégias ou roteiros didáticos


TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
ANO-SÉRIE
TEMÁTICA DE FMC TRATADA
TÍTULO AUTOR REVISTA ANO, VOL(N):PÁG 
A moda quântica ARANTES, J. T. Globo Ciência 1997, 6(67):35-39 2000 - 2ª E 3ª Comportamento ondulatório da luz
Raios X: descoberta causal ou criterioso experimento? SANTOS, C.A. Ciência Hoje 1995, 19(114):26-35 2000 2ª E 3ª Diferenças entre raios x e raios catódicos

Comportamento corpuscular da luz

A segurança de Angra I PINGUELLI, L. Rosa Ciência Hoje 1989, 9(53):24-32 2000 - 3ª Física nuclear: usinas nucleares
Bohr e a Teoria Quântica ARANTES, J. T. Globo Ciência 1995, 4(48):60-65 2000 - 3ª Modelos atômicos
Einstein e a relatividade ARANTES, J.T. Globo Ciência 1995, 4(47):24-30 2001 - 1ª Relatividade geral
Viagem ao tempo: porque ela não é uma simples ficção DIEGUEZ, Flávia Superinteressante 1992, 6(11):20-25 2001 - 1ª Relatividade geral
As diabruras da massa WILL, Cliford M. Superinteresante 1989, 3(21):26-32 2001 - 1ª Relatividade geral
A invencível atração da gravidade WILL, Cliford M. Superinteressante 1989, (22):26-32 2001 - 1ª Relatividade geral
Uma viagem no tempo com Einstein Superinteressante Superinteressante 1989, (19):15-23 2001 - 1ª Relatividade geral
Nas curvas do espaço-tempo WILL, Clifford M. Superinteressante 1989, (20):26-32 2001 - 1ª Relatividade geral
A busca da origem da massa GLEISER, Marcelo Folha de São Paulo 1998 2001 - 1ª Relação massa-energia

 

3- Algumas constatações e resultados da pesquisa

    A partir do acompanhamento das discussões e elaborações realizadas no grupo em conjunto com os professores e, a partir dos relatos contidos nos Diários da Prática Pedagógica de cada professor após implementação destes textos em sala de aula, pudemos chegar a algumas constatações no que diz respeito a utilização dos Textos de Divulgação Científica (TDC) como recurso didático para o desenvolvimento da temática Física Moderna e Contemporânea no Ensino Médio.

    1 - Os professores concordam com a necessidade de introduzir TDC na estruturação dos planejamentos. Demonstram isso ao levantarem textos possíveis e trazê-los para sugerir e discutir no Grupo de Trabalho. No entanto, apresentam dificuldades em planejar dinâmicas/estratégias para seu uso como recurso didático em aula;
    2 - Os professores apresentam dificuldades no sentido de identificar os conceitos físicos envolvidos em cada texto. Segundo um apontamento feito por um dos professores do GT-2S nesse sentido:
    "...o simples fato de não trabalharmos um texto retirado de um livro didático torna o ato não tão rigoroso, consequentemente dá mais liberdade aos alunos de poderem emitir opiniões sobre o assunto/fenômeno e até mesmo inferirem nas possíveis explicações. Enfim, acho que o texto de divulgação científica vem eliminar o caráter de que só o professor entende ou sabe do assunto que está sendo trabalhado. O nosso maior problema é conseguir identificar os conceitos físicos envolvidos em cada texto e trabalha-los a partir dai." (Prof. C - grifos nossos);
    3 -  Os professores começam a tomar consciência de falhas no desenvolvimento das dinâmicas em sala de aula. Como exemplo, temos o relato de uma das professoras do GT-3S, que após ter assistido a uma video-gravação de uma das aulas fez criticas à sua postura num dos encaminhamentos dados, quando não realizou o fechamento das discussões, deixando o debate apenas no nível das constatações feitas pelos alunos.
     
      "... era para ter aproveitado o espaço e o tempo que houve de sobra e ter feito o fechamento nesta aula, e ter respondido as questões ... foi falado depois mas era para ter aproveitado aí. É que na hora eu achei válido deixar eles conversarem, eles levantarem as questões... eu não me dei conta, achei que era mais importante deixar eles falarem, eles questionarem para ver quais eram suas idéias, afinal já tinham lido o texto ...agora eu vejo... só foram levantadas as idéias e não foi feito o fechamento das questões." (Prof.M);
       
    4 - As dinâmicas sugeridas pela equipe responsável para cada inserção de TDC nos planejamentos, na maioria das vezes não têm sido avaliadas em profundidade pelos professores, sendo aceitas inicialmente sem muita criticidade. No entanto, durante a implementação em sala de aula, por vezes os professores não seguem rigorosamente a sugestão aceita e acabam praticando formas alternativas de trabalho que lhes parecem mais adequadas e produtivas.

    5 - A utilização de TDC pelos professores em sala de aula possibilitou que estes percebessem alguns fatores de ordem prática relacionados com a utilização destes materiais, a saber:
     

      a) Muitos alunos, cuja escola adotava livro didático, não aceitavam realizar trabalho utilizando os textos, justificavam dizendo que já haviam comprado o livro didático ou até mesmo xerocado o livro
      b) Alguns alunos reclamavam que não valia a pena ler os textos, pois acreditavam que as informações contidas neles não seriam cobradas na prova, o que caracterizava uma perda de tempo muito grande.
      c) Os alunos em sua generalidade apresentavam dificuldades na leitura e interpretação dos textos
       
    6- Alguns professores sugeriram a partir da sua prática que a utilização de TDC em sala de aula ocorre com maior sucesso se os textos não forem muito extensos, forem atuais e tragam assuntos polêmicos. Para tanto, acreditam que precisa ter um seleção mais apurada dos textos bem como uma melhor preparação dos professores.

    7 - Os professores sugeriram que se elaborem mais dinâmicas de trabalho onde os alunos busquem e pesquisem nas Revistas de Divulgação, Jornais e na Internet e tragam para a aula os resultados da sua pesquisa. Os professores acreditam que desta forma os alunos possam além de aprender mais demonstrar mais interesse pelo trabalho.

    8 - Um outra sugestão dos professores, foi em relação a forma de avaliação dos textos, ou seja, os professores acreditam que os textos devem ser tomados sempre através de sínteses ou incorporados nas provas, pois desta forma os alunos têm possibilidade de ser mais críticos em relação ao assunto tratado.


4- Considerações finais

    As constatações feitas a partir do trabalho no grupo de professores e dos relatos contidos nos Diários da prática dos mesmos nos permitem algumas considerações acerca do trabalho realizado.

    Inicialmente, em relação a leitura, discussão e preparação dos textos pelos professores percebemos que na maioria das vezes estes apresentaram grandes dificuldades no sentido de identificação dos termos ou conceitos presentes nos textos. Além disso, apresentaram dificuldades no sentido de encaminhamento de estratégias que possibilitassem abordar, discutir e aprofundar os conceitos fundamentais presentes em cada texto.

    Neste sentido, pudemos concluir que os professores envolvidos possuem muitas deficiências no tratamento e na utilização de informações deste tipo, ou seja, as dificuldades apresentadas pelos mesmos nos dão indícios de que possuem pouco hábito de leitura deste tipo de material, e para além disso, possuem pouco hábito de leitura de qualquer material que não sejam os manuais didáticos utilizados na preparação das suas aulas.

    Acreditamos que esta falta de hábito de leitura pelos professores refletiu em uma certa insegurança quando da utilização em sala de aula dos textos selecionados, o que de certa forma dificultou um pouco a realização do trabalho.

    Sendo assim, reforçamos a idéia de que os professores devem trabalhar e preparar suas estratégias coletivamente, pois a oportunidade de discussão nos grupos possibilita a exposição de idéias, interpretações e debates que podem vir a auxiliar aos professores com pouca prática de leitura despertando para a necessidade de realização da mesma.

    Por outro lado, a partir das práticas realizadas em sala de aula pudemos perceber que a participação e a postura dos professores durante o desenvolvimento de estratégias didáticas com a utilização de textos de divulgação é de fundamental importância no sentido de mediar as idéias dos alunos e as idéias levantadas pelo texto. Alguns professores, já adquiriram esta consciência e por isso buscam melhorar sua postura através de auto-críticas e sugerir novas idéias para melhorar o trabalho individual e coletivo. Neste sentido, percebemos que a utilização destes materiais despertou para a necessidade de o professor ser responsável pela ponte entre as pré-concepções ou interpretações dos alunos e a idéia que o texto busca passar para quem o lê.

    Uma outra constatação, e que merece considerações, diz respeito ao fato de algumas dinâmicas de trabalho sugeridas terem sido avaliadas inicialmente sem muita criticidade durante as discussões no grupo e posteriormente serem implementadas através de formas alternativas as sugestões elaboradas coletivamente com o grupo. Neste sentido, percebemos que por vezes alguns professores, por não possuírem um domínio considerável dos conhecimentos tratados pelo texto, acabaram por se fechar e opinavam pouco concordando com as idéias da maioria. Acreditamos que este fato ocorreu, pois estes professores na maioria das vezes, não conseguiam ou sentiam-se inseguros para admitir que possuíam dificuldades em relação a termos ou conceitos físicos, bem como para a implementação de estratégias diferenciadas das que usualmente trabalham, e por fim, acabaram por implementar ações que possibilitassem uma maior segurança individual.

    A partir dos relatos contidos nos Diários da Prática Pedagógica ficou evidente o fato e a dificuldade que os alunos apresentam em ler e interpretar os textos. A partir disso, reafirmamos a importância e a necessidade de que os mesmos sejam incentivados a praticar leitura destes materiais e além disso, serem incentivados pelos professores a realizarem atividades em classe e extra-classe com a utilização de materiais deste tipo.

    Por fim, acreditamos que o desenvolvimento de estratégias com o uso de Textos de Divulgação pode vir a ser um meio possível para a conscientização dos professores no sentido de melhorar a sua prática pedagógica numa perspectiva de contribuírem para a atualização curricular e pedagógica dos conteúdos de Física do Ensino Médio através da popularização da ciência e do incentivo as práticas de leituras.
 

Bibliografia:

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[1] Bolsista de Mestrado da Capes pelo NEC/CE/UFSM e Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação/Centro de Educação/UFSM; Email: a2060441@alunop.ufsm.br
[2] Bolsista de Iniciação Científica da PROLICEN pelo NEC/CE/UFSM e Aluna do Curso de Licenciatura em Física da UFSM; Email: a9713037@alunog.ufsm.br
[3] Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq pelo NEC/CE/UFSM e Prof. Adjunto do Centro de Educação/UFSM; Email: eduterra@ce.ufsm.br