REDES E FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES EM CIÊNCIAS NATURAIS E TECNOLOGIA (CN & T)


Fábio da Purificação de Bastos
Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Educação, Campus Universitário, Bairro Camobi
Santa Maria, RS, Brasil, CEP: 97119-900, Fone(fax) 55 2208010
fbastos@ce.ufsm.br

Carlos Alberto Souza
José André Peres Angotti
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação, Campus Universitário, Bairro Trindade
Florianópolis, SC, Brasil, CEP: 88000-000.

Resumo

    Frente ao desenvolvimento das tecnologias comunicativas na nossa sociedade, organizamos os espaços escolares, em especial no universitário, implementando o componente científico-tecnológico na formação inicial dos professores de Ciências Naturais e Tecnologia (CN & T) no escopo das disciplinas de metodologia e prática de ensino de Física. Através de procedimentos da investigação-ação educacional e da comunicação eletrônica, temos monitorado o componente não presencial do trabalho escolar. Os primeiros resultados indicam a potencialidade dos ambientes multimídias informatizados para o monitoramento das tarefas extraclasse, que compõe o trabalho escolar em CN & T, no âmbito da formação inicial dos professores dessa área educacional. Nossas análises, oriundas de um primeiro ciclo espiralado de docência-investigativa realizada ao longo de dois semestres letivos, apontam para a operacionalização do componente da educação a distância, num ambiente multimídia desenhado nas perspectivas da educação dialógica-problematizadora e da investigação-ação participativa.
 
 

Abstract

    The development of communicative technology is considered in initial formation of science and technology teacher. Methodology and Practice of Physics Teaching are improved with educational action research an eletronic communication. The first results indicate the potential of multimedias ambients supported information technology for empowerment the dialog-problematical physics teaching in initial formation of nature science and technology teacher. Becoming critical in construction of an multimedia ambient supported information technology, participatory action research and dialog-problematical physics teaching is the main challenge.
 

As tecnologias comunicativas na nossa sociedade

    Mesmo assumindo a sociedade brasileira como periférica e não produtora de grande parte da CN & T que utiliza, não ignoramos a forte inserção das tecnologias comunicativas no cotidiano da parcela escolarizada. Embora o espaço escolar seja um dos que menos tem sofrido transformações no escopo comunicativo, é possível visualizarmos fortes indicadores empíricos transformando as interações humanas no mesmo. Em especial na reconfiguração do par transmissor-receptor, tradicionalmente exercido pela dupla professor-aluno durante as aulas. Nas de CN & T, ainda bastante distantes do entorno científico-tecnológico, a comunicação é predominantemente assimétrica.

    Há os que argumentam que as ditas novas tecnologias, em especiais as comunicativas situadas nos sistemas computadorizados em rede, ao invés de incrementar a interação dialógica em torno do ensinar-aprender ciências naturais e tecnologia, pode favorecer um maior distanciamente dos núcleos conceituais das referidas áreas científicas. Nossa perspectiva é que o tripé ciência-tecnologia-sociedade pode ser sustentado por ações de alfabetização científica-tecnológica, aproximando os conhecimentos escolares das redes de comunicação.

    Dessa forma, iniciar ou fortalecer práticas escolares nas redes de comunicação eletrônica, seja utilizando os computadores para o diálogo via correio eletrônico, nos momentos de distânciamento entre os sujeitos da escola, seja para otimizar a pesquisa bibliográfica em livros e periódicos virtuais, no mínimo serve de combate a hegemonia do livro didático único nas aulas. Se em termos de escolaridade básica a prática escolar pautada por um único livro didático não é salutar do ponto de vista formativo, no ensino superior onde se dá a formação inicial dos professores isto se torna maléfica, principalmente do ponto de vista cultural no âmbito da CN & T.


Organizando o espaço escolar

    Com o atual potencial informático disponível na sociedade, com destaque para o instalado no espaço universitário, torna-se insustentável a defesa de um trabalho escolar isolado do ponto de vista tecnológico-comunicativo. Sabemos que o trabalho escolar nunca foi exclusivamente presencial. Afinal, qual de nós nunca fez os temas de casa? Eles sempre existiram! Fazem parte daquilo que denominamos trabalho escolar. No caso dos cursos de formação de professores de ciências naturais e tecnologia, na maioria das vezes, em especial na Física, o volume de trabalho escolar extraclasse é muito grande por conta das listas de exercícios e problemas dos finais de capítulos dos livros didáticos.

    Os questionamentos que fazemos são: qual o monitoramento que os formadores de professores dessa área fazem nesse componente não presencial do trabalho escolar? Muito é feito antes e depois. Isso é verdade! Mas durante? Quais as estratégias didáticas-metodológicas de monitoramento que têm sido utilizadas? Boa parte desse trabalho escolar não presencial realizado pelos alunos dos cursos de formação de professores em ciências naturais e tecnologia, mais fortalecem práticas sociais mecanicistas e excludentes. A maior parte da aprendizagem acaba ocorrendo como auto-formação, ou em alguns casos até como leituras dirigidas.

    Na prática o que temos feito é recuperar o componente não presencial com o auxílio das tecnologias de comunicação eletrônica, buscando com isso fortalecer o diálogo-problematizador nas aulas. Através do envio eletrônico das resoluções dos desafios propostos e problematizados em sala de aula antes do próximo encontro, por exemplo, organizamos o processo escolar pautando-nos pelos fazeres dos alunos e não apenas pelo do docente. Dessa não só consolidamos a cultura informática na prática escolar dos professores de CN & T, para além da digitação de provas, como também atuamos na perspectiva da contra-hegemonia do livro didático na escola.
 

Implementando o componente científico-tecnológico na formação inicial dos professores no escopo das disciplinas de metodologia e prática de ensino

    Todos sabemos o quanto a formação inicial dos professores de CN & T é cienficista, no sentido do isolamento do conhecimento estrutural de uma área científica com as demais e suas aplicações e transformações na sociedade. Por outro lado, a formação pedagógica desses alunos, assim como a nossa, continua ocorrendo de forma a dicotomizar teoria e prática, ou seja, primeiro se dá a ensino dos conteúdos para depois o ensino de como ensinar os conteúdos. É consenso na área de ensino de ciências e tecnologia que não basta saber o conteúdo para ensiná-lo. Ao invés disso, a maioria dos pesquisadores da referida argumentam que as transposições didáticas necessárias não estão prontas e isso é uma das, se não a mais importante, tarefa docente a ser realizada pelos professores de CN & T.

    Partindo dessas premissas, nosso trabalho tem se inclinado mais para a perspectiva da alfabetização científica-tecnológica, ou seja, ao propormos em sala de aula desafios iniciais ao alunos, nas instâncias das disciplinas de metodologia e prática de ensino de Física nos últimos semestres dos cursos de formação inicial, o fazemos no escopo do tripé ciência-tecnologia-sociedade. Assim não questionamos nominalisticamente a rede conceitual aprendida nas disciplinas de CN & T, mas sim sua operacionalização numa determinada situação-problema colocada. Por exemplo, como funciona o indicador eletrônico de infração de trânsito por excesso de velocidade, conhecido popularmente como pardal?

    A partir dessa construção inicial sugerimos leituras com novos desafios, agora mais específicos e acoplados aos princípios científicos que sustentam os referidos funcionamentos, problematizando não apenas o caráter científico-tecnológico do referido equipamento tecnológico, mas seus aspectos sociais, históricos e educacionais. Conforme já foi dito anteriormente, boa parte desse trabalho escolar problematizador, composto por leituras, resolução de problemas, organização de estrategias didáticas-metodológicas, atividades de ensino de CN & T experimentais, são realizadas no espaço escolar extra-classe. Com o intuito de monitorá-las é que estamos desenvolvendo com freeware um ambiente multimídia para monitorar esse trabalho escolar, que implementamos balizados pela educação dialógica-problematizadora e a investigação-ação participativa.

    Isso implica assumir na prática as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, em especial o ponto de que

"na construção do projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes, serão consideradas:
    I. as competências referentes ao comprometimento com os valores inspiradores da sociedade democrática;
    II. as competências referentes à compreensão do papel social da escola;
    III. as competências referentes ao domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus significados em diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar;
    IV. as competências referentes ao domínio do conhecimento pedagógico;
    V. as competências referentes ao conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica;
    IV. as competências referentes ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional" (MEC, 2001: 65, grifos em itálico nossos).
    Admitindo que competência docente se constrói na prática educativa, é fundamental exercitar com os alunos dos cursos de formação inicial de professores em CN & T os processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica. Daí nossa opção por procedimentos de investigação-ação educacional participativa no cotidiano das aulas de metodologia e prática de ensino de Física.


Procedimentos de investigação-ação educacional

    Temos atuado segundo os momentos metodológicos da investigação-ação -- conhecida internacionalmente como movimento action-research --, ou seja, dos passos -- planejamento, ação, observação e reflexão -- que formam a espiral cíclica-reflexiva de origem lewiniana (Carr e Kemmis, 1986). Enfatizamos, cada vez mais, o viés emancipatório das práticas escolares desenvolvidas, pautando-as pela interação educacional dialógica (Freire, 1983), que acreditamos poder sustentar a colaboração entre os sujeitos educativos.

    Na prática desenvolvemos planejamentos escolares envolvendo recursos multimídias informatizados para as atividades de sala de aula. Temos realizado esta tarefa especificando as atividades escolores de CN & T, a cada hora-aula, para que seja inviável, ou pelo menos difícil, retornar rotina escolar pautada pela transmissão-recepção. Trata-se de criar ambientes educativos atuais para capacitar os envolvidos através dos recursos científicos-tecnológicos disponíveis e passíveis de se transformar em conhecimentos escolares.

    Este desenvolvimento, implementado colaborativamente com os envolvidos no processo escolar, gera atividades de ensino de ciências orientadas por planejamentos. Deste modo, temos subsídios para a etapa reflexiva do replanejamento, cujo caráter avaliativo-deliberativo reorienta os os ciclos seguintes. Para tanto, desenvolvemos estratégias comunicativas para os momentos dialógicos não presenciais (como por exemplo, utilização profissional e cotidiana do e-mail, uso da web para acessar scientfic library on line (por exemplo, ciência hoje on line, scielo) para atualização curricular e revisão bibliográfica. Incrementa, assim, a comunicação, auto-reflexão e reflexão dos envolvidos no processo escolar.

    Resumindo, neste ingressar com os envolvidos no processo escolar-profissional, permeado por um contexto eivado por CN & T, problematizamos os conhecimentos necessários ao desenvolvimento das competências profissionais. Cabe esclarecer, que este é o contexto da espiral cíclica-reflexiva que caracteriza uma investigação-ação. O que por sua vez, parametriza o fazer escolar com uma dinâmica pautada pela codificação-descodificação dos conhecimentos científicos-tecnológcos, alguns surgidos dos momentos de navegação na internet, comunicação via e-mail entre outros. Isto tem contribuído, processualmente, para a consolidação da dinâmica unificadora entre investigação e ação escolares nas aulas, reforçando o ensino-aprendizagem do conhecimento científico-tecnológico envolvido.

    O referido trabalho, conforme já mencionado acima, relata ações de um projeto na área do ensino de ciências -- componente de um programa de investigação-ação educacional -- na perspectiva da renovação e atualização dos conteúdos culturais que "freqüentam" o espaço escolar formal. Neste sentido, temos pontuado (De Bastos et. al., 1999) que precisamos renovar e atualizar os conteúdos escolares que suportam o desenvolvimento cognitivo da formação educacional dos envolvidos no processo educativo no cotidiano escolar. Trata-se de assumir o caráter evolutivo e revolucionário do conhecimento científico-tecnológico na sociedade atual.

    Trabalhos como de (Lévy, 1993), apontam para a importância da renovação dos conteúdos culturais e utilização de tecnologias comunicativas, em especial de telemática, nos ambientes escolares. Ao mesmo tempo, articulam o potencial educativo das investigações e ações empreendidas pelos profissionais da educação com sua capacidade de transitar culturalmente pela universo temático construído pela CN & T, com destaque para a informática, ao longo de sua trajetória histórica. Neste sentido, interfacear educação e informática na formação deste professores de CN & T é condição básica e fundamental, no redimensionamento daquilo que historicamente temos chamado de conhecimento escolar.

    A bibliografia da área do ensino de ciências carece, ainda, -- principalmente pela contemporaneidade da questão colocada --, de trabalhos que relatam atividades escolares de grupos colaborativos no espaço escolar, interagindo com esferas produtivas da CN & T, por exemplo na internet. É, ainda escassa, a busca deste redimensionamento entendido como produção do conhecimento escolar, organizado sob a forma de material didático, na perspectiva didática-metodológica da investigação-ação educacional ou "uma pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer, tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento" (MEC, 2001: 62, grifos em itálico nossos).

    O que temos encontrado (Poudrier, 1999) são projetos de investigação-ação que propõe atividades educacionais para os professores, como forma de resolver problemas da comunidade escolar, de uma forma geral. Contudo, não temos encontrado, especificamente propostas de atuação colaborativa, no campo científico-tecnológico, com os mesmos. Ou seja, não potencializam simultaneamente a investigação e a ação educativas nas aulas do ensino formal, nem muito menos no escopo da formação inicial dos professores de CN & T. Logo, dicotomiza-se produção de recursos humanos (formação escolar-universitária) e de conhecimentos científicos-tecnológicos na instância denominando internacionalmente por network in education related to environment and communication (eecom).

    É neste campo científico-tecnológico de atuação que situamos nossa ação docente, ou seja, na interface entre educação científica-tecnológica, no escopo da informática-comunicação, visto que atualmente não tem sentido desconectar os microcomputadores da rede para desenvolver investigação e ação educacional no espaço escolar. É aqui que situamo-nos ativamente na collaborative action-research network (carn), transitando constantemente na comunidade científica com nossos computadores conectados.

    Essas ações justificam-se fundamentalmente pela desatualização cultural dos conteúdos escolares atuais em ciência a tecnologia, pelo ritmo das mudanças curriculares empreendidas pelas instâncias governamentais, pela urgência de incorporar a cultura informática na comunidade escolar e pela necessidade de capacitar os professores de CN & T neste contexto de comunicação. Estas tarefas não têm sido desarticuladas, por isto nossa opção pela investigação-ação educacional, como trabalho educativo-colaborativo.

    Acreditamos que a interação dialógica-problematizadora nos momentos não presenciais -- proporcionada pela vivência na web, por exemplo --, tem propiciado aprendizagens significativas, ainda que de forma experimental, visto estarmos contruindo um ambiente multimídia informatizado, entre sujeitos educativos. Temos buscado (De Bastos et. all., 1998, 1999a, b e c), concretamente, aproximar os professores de CN & T atuantes nos espaços escolares desde a educação infantil até o ensino superior, através de tarefas colaborativas que impliquem em melhoria/transformação das aulas no ensino formal. Cremos que interações na web, na perspectiva da investigação-ação não sejam tarefas que os seres humanos, isoladamente podem desenvolver no seu dia a dia.


A tarefa de construir o AMEM

    O Ambiente Multimídia para Educação Mediada por Computador na Perspectiva da Investigação-Ação Educacional que estamos construindo, no contexto de uma equipe multidisciplinar (ensino de CN & T, informática e design) tem as seguintes metas: desenvolvimento de um ambiente multimídia para educação presencial, semi-presencial e a distância baseado numa arquitetura cliente-servidor e multicamadas, internet, sistemas operacionais e aplicativos freeware, este ambiente utilizará como base didático-metodológico conceitos e teorias educacionais dialógicas-problematizadoras associados a tecnologia da informação; possibilitará a criação, participação e administração de cursos conectados na Web de forma operacional, sem exigir do docente um amplo conhecimento das tecnologias envolvidas para se comunicar através da internet (pois o ambiente permitirá ao docente usar as ferramentas que já está habituado, além de lhe dar um completo suporte de comunicação, coordenação e cooperação, permitindo-lhe, também, o reaproveitamento de material didático já existente).

    Para tal finalidade, estamos aplicando e integrando as mais modernas tecnologias de programação em rede e multimídia na construção do ambiente. Para tanto, estamos analisando os ambientes já existentes corrigindo suas deficiências e proporcionando um suporte aos procedimentos didáticos utlizados. Isto porque pretendemos projetar o ambiente de forma modular, potencializando manutenibilidade, integrabilidade e testes.

    Educativamete falando, estamos integrandos educandos através da internet, permitindo-lhes acessar a escolaridade-universitária pública, gratuita e de qualidade. O que na nossa opinião, tendo em vista o atual estado da arte no ensino de CN & T, fica depreciado em o desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem a distância, como auxiliador na construção do conhecimento por meio de interfaces amigáveis e de uso cotidiano dos educandos e educadores.

    Portanto, faz-se necessário o fornecimento de mecanismos de comunicação assíncrono, para que o educando trabalhe em casa dentro de seu próprio ritmo de aprendizagem e em seu tempo disponível. Por outro lado, monitorado através da comunicação síncrona, que lhe exige uma participação efetiva para uma avaliação do seu progresso pelo educador. Logo, tem sido fundamental, a disponibilização de mecanismos ao educador, para avaliar e acompanhar o progresso da aprendizagem a distância dos educandos, permitindo-lhe, assim, interferir, quando necessário, na construção do conhecimento do educando.

    Não se trata aqui de superar o ambiente de sala de aula tradicional, mas de problematizar a interação, propiciando ao educando participar mais ativamente da elaboração e construção do conhecimento, tanto individual como em grupo, na sala de aula e em casa. Trata-se de fornecer múltiplas oportunidades de comunicação, para que os educandos e educadores reflitam sobre as questões e temas estudados, buscando outras alternativas comunicativas para os problemas apresentados e sendo capazes de explicarem como os mesmos foram resolvidos. Para tanto estamos criando um sistema de fácil implantação, fazendo uso ao máximo de tecnologias próprias ou freeware, obtendo um produto de baixo custo e de alta taxa de flexibilidade e manutenção.

    Os ambientes multimídias usam preferencialmente e-mail e chat como meios de comunicação e interação entre educandos/educadores e educandos/educandos, o que desenvolve a habilidade de escrita dos educandos, pois os mesmos necessitam expor seus pensamentos de forma clara e concisa para serem bem compreendidos pelos educadores, de modo a obter um feedback nos mesmos padrões, contribuindo para a fixação e construção do conhecimento. A essa vantagem, soma-se o fato do educando sentir-se mais à vontade para expor suas posições, dúvidas e conclusões, assim como o acompanhamento do educador no processo de aprendizagem de cada educando, pois isso é necessário para que o educador possa avaliar o progresso, o que não é constatado em um ambiente tradicional de sala de aula.

    O ambiente acima descrito deverá suportar a metodologia da investigação-ação educacional emancipatória que é definida, segundo Carr e Kemmis (1986:162) como "essencialmente, uma forma de indagação auto-reflexiva, que empreendem os participantes em situações sociais, com o objetivo de melhorar a racionalidade e a justiça de suas próprias práticas sociais ou educativas, assim como a compreensão de suas práticas e das situações em que estas estão inseridas".

    O ambiente fornecerá ferramentas automáticas para customização dos materiais didáticos, na forma procimental de desafio inicial, melhor solução escolar no momento e desafio mais amplo (De Bastos e Müller, 1999c:23), organizando o processo de ensino-aprendizagem em três momentos desafiadores. O emprego desse procedimento metodológico engaja os educandos na resolução de problemas (desafiando-os educacionamente no âmbito do ambiente), que exige dos mesmos o trânsito pela ação-reflexão-ação para a elaboração da solução.

    O ambiente contém: uma interface de identificação de usuário - preparar o ambiente de acordo com as prioridades de cada um dos usuários, ou seja, interface do educando ou interface do educador; uma interface para o educando - fornece ao educando todas as ferramentas e materiais didáticos disponibilizados pelo educador; uma inferface para o educador - fornece ao educador as ferramentas necessárias à disponibilização de uma tutoria, assim como formas de avaliação do progresso dos educandos; mecanismos de comunicação - oferece os meios possíveis para a realização da comunicação entre educando/educador e educando/educando no ambiente, como e-mail, fórum de discussão, debates,...; mecanismos de coordenação - oferece formas de agendamento de eventos e controle do andamento do curso, tais como: quadro de avisos, plano de aulas, tarefas, avaliação e relatórios de participação; mecanismos de cooperação - oferece formas de compartilhamento e de participacão externa ao material do curso, como: bibliotecas virtuais, co-autoria de educadores e educandos.


Os primeiros resultados

    Temos tido, através dos projetos desenvolvidos[1] várias inserções formativas, do ponto de vista didático-metodológico no escopo curricular das escolas. Contudo, os obstáculos encontrados localizam-se na abrangência dos conteúdos de CN & T que suportam a formação escolar inicial. Em outras palavras, deparamo-nos com o que Carr (1990) alerta: não teremos mudança educacional significativa se os professores não se desenvolverem profissionalmente. Para nós, o parco desenvolvimento profissional dos professores de CN & T, tem ficado por conta do acesso limitado às conquistas culturais de nosso tempo. O que, por sua vez, não pode se perpetuar na educação científica-tecnológica brasileira, frente ao desafio de ser mais posto neste país dos extremos que vivemos.

    Concretamente temos investigado ativa e concretamente com os envolvidos no processo escolar, o potencial da internet, enquanto recurso telemático, para aproximá-los do conhecimento científico produzido pela humanidade, durante sua estada cotidiana na escola (universidade). Nesta linha, desenvolvemos estratégias educacionais, considerando a perspectiva de comunicação on line para que os professorandos em formação inicial (licenciaturas) e professores atuantes nos mais diferentes níveis de escolaridade, potencializem seus quefazeres na perspectiva da colaboração-transformativa no ambiente multimídia informatizado e em rede, em especial na web, para o desenvolvimento do processo escolar em CN & T. Resumidamente, planejamos, desenvolvemos e avaliamos -- colaborativamente com os envolvidos no processo escolar cotidianamente -- aulas de CN & T, cujo componente a distância são monitoradas on line durante o ano letivo, utilizando-se basicamente do protótipo do ambiente multimídia do Projeto AMEM (temos privilegiado a formação de uma equipe multidisciplinar com profissionais da engenharia operacional e informática).

    Como forma de potencializar a alfabetização científica-tecnológica nos ambientes multimídias informatizados, para o monitoramento das tarefas extraclasse que compõe o trabalho escolar em ciências naturais e tecnologia no âmbito da formação inicial dos professores, definimos as seguintes linhas de ações de pesquisa em ensino de ciências: criação de algoritmos para a resolução de problemas de ensino de CN & T, utilizando programação orientada a objetos em sistemas operacionais freeware.


Formação dos professores de CN & T

    Os trabalhos educacionais desenvolvidos na área de formação de professores têm apontado -- principalmente, nas duas últimas décadas -- para atuações no campo da investigação ligada à prática, investigação-ação, ação reflexiva, investigação qualitativa (Pimenta, 1996). Nesta mesma perspectiva, Antolin (1996) coloca que esta é a tendência mundial das investigações educacionais, ou seja, fortalecer a integração entre a investigação e a ação educativas durante a formação dos professores durante sua escolarização.

    Recentemente (maio de 2001) o Conselho Nacional de Educação aprovou Projeto de Resolução que "Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, em Curso de Licenciatura de Graduação Plena. Embora saibamos o estado da arte dos cursos de formação de professores, consideramos que em alguns aspectos, dentre eles a inserção do componente investigativo na escolarização inicial desses profissionais, a referida política pública avança.

    Afinal, o que nos parece retrocesso é formar, do ponto de vista científico-tecnológico, professores de uma área científica prioritária para a cidadania, exclusivamente para ensinar. Isto porque ensinar, majoritariamente falando, significa transmitir informações aos outros.


Educação, redes e conhecimento científico-tecnológico

    Em trabalhos recentes (De Bastos, 1998, 1999a e 1999b) e projetos de investigação-ação[2] temos procurado demonstrar, na prática educativa, a viabilidade de aproximar o trabalho docente-escolar -- de planejar, lecionar, avaliar e replanejar -- de forma colaborativa, da organização do conhecimento científico em redes de comunicação eletrônica. Neste sentido, trabalhos como os de Lévy (1996) apontam para o potencial tecnológico-comunicativo da web. Vale a pena ressaltar no que estamos apostando: esta ação comunicativa pode transformar o trabalho escolar científico-tecnológico no cotidiano escolar. Se isto não ocorre agora, em breve sentiremos os primeiros efeitos. Para não ficarmos apenas na torcida, para que sejam benéficos à escolarização em CN & T, convém agir de forma racional.

    Na perspectiva de agirmos racionalmente neste contexto, é fundamental priorizarmos a produção e utilização de ferramentas e ambientes multimídias informatizados. Trabalhos como o de Ribeiro e Quartieiro (1996) tem apontado para a necessidade da produção de atividades educacionais monitoradas por computador. Nesse sentido, nos propomos a planejar e implementar atividades escolares em CN & T através de ambientes multimídia on line.


Primeiros apontamentos conclusivos e desafios

    Nossas primeiras análises, oriundas de um primeiro ciclo espiralado de docência-investigativa, realizada ao longo de dois semestres letivos nas disciplinas de metodologia e prática do ensino de Física nos cursos de formação inicial de professores dessa área, apontam para a operacionalização do componente da educação a distância deste trabalho escolar. Assumimos, na equipe de pesquisadores em ensino de ciências, que esta tarefa não logrará êxito num grupo disciplinar. Embora estejamos interagindo com professores-pesquisadores em ensino de ciências (Biologia, Química e Física) esta multidisciplinariedade ainda fica bastante restrita a área educacional apenas.

    Tendo em vista a resolução do problema abordado, apostamos na construção e operacionalização de um ambiente multimídia informatizado, desenhado nas perspectivas da educação dialógica-problematizadora e da investigação-ação participativa. Para tanto, formamos uma equipe de trabalho formada por tecnólogos (atuando também como professores universitários) e pesquisadores em ensino de CN & T, com intuito de sistematizar as ações escolares que perpassam pela comunicação eletrônica.


Referências 


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[1] Referimo-nos aos seguintes projetos integrados, todo financiados parcialmente por agências externas: Redes e Conhecimento Científico na Escola (FAPERGS, CNPq e CAPES); Construindo a Unficação entre Investigação e Ação (INCRA/MEC/MPF), Criando Desafios na Informática (CAPES, FIPE/UFSM), Ambiente Multimídia e Educação Monitorada (FAPERGS) e Formação Educacional e Investigação-Ação (CNPq e CAPES).
[2] Refiro-me ao projeto Redes e Conhecimento Científico na Escola financiado pelo CNPq.