INTERATIVIDADE E DIALOGIA NA PESQUISA E NO ENSINO DE CIÊNCIAS



Eduardo Fleury Mortimer
Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo

    A pesquisa em educação em ciências tem, tradicionalmente, identificado conteúdo de idéias dos estudantes, inspirada pela pesquisa psicológica em desenvolvimento conceitual. Mais recentemente, um número significativo de estudos tem mudado esse foco, realçando o processo de construção de conceitos na interação social e como esses conceitos são construídos e evoluem num processo de negociação de significados. Nessa tradição, conceito é equacionado com significado, e o foco da investigação passa a ser o processo de significação. Os significados são vistos como polissêmicos  - no sentido de terem significados múltiplos - e polifônicos - no sentido de poderem expressar diferentes "vozes", entendidas como horizontes conceituais ou visões de mundo -, criados na interação e então internalizados pelo indivíduo. O processo pelo qual os dados são obtidos também é descrito como processo de construção de significados e isso tem conseqüências metodológicas, isto é, os dados são construídos na interação e não vistos como algo que pode ser objetivamente acessado e descrito. Na conferência discutiremos essas conseqüências metodológicas e procuraremos situar essa nova tendência no conjunto das tendências ainda dominantes no cenário da educação em ciências.Discutiremos também alguns aspectos da pesquisa em sala de aula e quais são as exigências metodológicas para esse tipo de investigação, como a inserção etnográfica do pesquisador nos ambientes de pesquisa e a questão do recorte dos dados para a construção de episódios de análise. Por último, mas não menos importante, discutiremos como o programa de pesquisa em "perfis conceituais", com o qual estamos trabalhando, procura contemplar uma visão de aprendizagem interativa e dialógica, na qual apreender é equacionado com o processo de povoar as "palavras" apresentadas pelo professor com palavras próprias que o aluno já conhece e usa. A explicitação desse processo "interno" no espaço intersubjetivo da sala de aula é que pode garantir que a aprendizagem de conceitos científicos resulte numa ampliação do perfil conceitual do aluno, em que os conceitos científicos podem ser conscientemente relacionados aos conceitos comuns que o aluno já possui como conseqüência de sua vivência em diferentes universos culturais. Esse programa de pesquisa em perfis conceituais tenta tirar conseqüências de outro programa de pesquisa de sucesso na comunidade de educação em ciências – o programa de pesquisa em concepções alternativas – ampliando o alcance dos resultados desse último para o ensino e aprendizagem de ciências em um novo marco teórico e metodológico.