Resumo
A pesquisa em
educação em ciências tem, tradicionalmente, identificado
conteúdo de idéias dos estudantes, inspirada pela pesquisa
psicológica em desenvolvimento conceitual. Mais recentemente, um
número significativo de estudos tem mudado esse foco, realçando
o processo de construção de conceitos na interação
social e como esses conceitos são construídos e evoluem num
processo de negociação de significados. Nessa tradição,
conceito é equacionado com significado, e o foco da investigação
passa a ser o processo de significação. Os significados são
vistos como polissêmicos - no sentido de terem significados
múltiplos - e polifônicos - no sentido de poderem expressar
diferentes "vozes", entendidas como horizontes conceituais ou visões
de mundo -, criados na interação e então internalizados
pelo indivíduo. O processo pelo qual os dados são obtidos
também é descrito como processo de construção
de significados e isso tem conseqüências metodológicas,
isto é, os dados são construídos na interação
e não vistos como algo que pode ser objetivamente acessado e descrito.
Na conferência discutiremos essas conseqüências metodológicas
e procuraremos situar essa nova tendência no conjunto das tendências
ainda dominantes no cenário da educação em ciências.Discutiremos
também alguns aspectos da pesquisa em sala de aula e quais são
as exigências metodológicas para esse tipo de investigação,
como a inserção etnográfica do pesquisador nos ambientes
de pesquisa e a questão do recorte dos dados para a construção
de episódios de análise. Por último, mas não
menos importante, discutiremos como o programa de pesquisa em "perfis conceituais",
com o qual estamos trabalhando, procura contemplar uma visão de
aprendizagem interativa e dialógica, na qual apreender é
equacionado com o processo de povoar as "palavras" apresentadas pelo professor
com palavras próprias que o aluno já conhece e usa. A explicitação
desse processo "interno" no espaço intersubjetivo da sala de aula
é que pode garantir que a aprendizagem de conceitos científicos
resulte numa ampliação do perfil conceitual do aluno, em
que os conceitos científicos podem ser conscientemente relacionados
aos conceitos comuns que o aluno já possui como conseqüência
de sua vivência em diferentes universos culturais. Esse programa
de pesquisa em perfis conceituais tenta tirar conseqüências
de outro programa de pesquisa de sucesso na comunidade de educação
em ciências – o programa de pesquisa em concepções
alternativas – ampliando o alcance dos resultados desse último para
o ensino e aprendizagem de ciências em um novo marco teórico
e metodológico.